segunda-feira, 9 de maio de 2022

28 dias entre o oriente e o ocidente: Koinobori #2 (鯉のぼり, de olhos bem-vendados)

Eu tenho um grande defeito.... não, tenho vários!!! Mas um é bem pronunciado: me esqueço rápido de coisas que considero relativamente desimportantes (oque, claro, às vezes pode parecer ao outro que é descaso... mas não). 

Talvez por isso consiga me recompor rápido, cicatrizar diante de coisas que me machucaram. Em geral sou o primeiro a dar um passo de aproximação depois de uma discussão; não tenho um ego inflado de querer ser a pessoa com a palavra final, ou ser o lado certo das coisas: se estiver errado, me calo, peço desculpas.... e tento seguir adiante. Há coisas maiores numa vida a dois.

Então, nesse processo de "me" recompor (ou recompor algo no qual acredito, me dar esperança... não sei ao certo oque), posso até cometer o erro de tentar subir rio acima em auto-flagelação, caindo em tristeza só de imaginar acontecimentos que me machucaram (como ler umas conversas recentes). Mas tento não ir por aí...  ao invés de subir esse rio de olhos abertos, eu prefiro subí-lo de olhos fechados. E não o faço por ingenuidade, ou por tentar me enganar: faço por que acredito na direção que estou indo. 

Se vou chegar lá... não sei; mas sei o caminho que busco. Sem falar que minha lembrança ainda retém as curvas que percorri, os recifes de corais montanhosos nos quais brinquei, a risada doce dos comentários que me desconsertavam, os poucos amigos que conheci e já gostei (inclusive um peixe gigante, insistente, que quis aparecer na primeira selfie-foto tirada em solo japonês), os livros lidos juntos e discutidos com entusiasmo, as trocas, as confidências... o fato de estarmos sempre ali, um a complementar o outro... as discussões que nunca viraram brigas.

Infelizmente, a distância não possibilita a recuperação mais rápida que o dia-a-dia, de alguma maneira, catalisa: a saudades parece só querer acentuar a dor, a falta que o outro faz (que o outro faz pra mim, ao menos)... é desconfortável e ruim,  mas não raramente sou visitado por essas lembranças gostosas que me enchem de sorriso... o privilégio de ter estado ali, ouvindo aquelas palavras/idéias...  a gratidão por ter nadado em tais águas... água-doce-quase-mel... adoro e sinto falta, todos os dias.

Então é isso, pessoal: o post de hoje é um grande constraste - ou diria, uma outra perspectiva - ao post anterior (que achei... não pesado.. mas meio melancólico e, pra mim, difícil de ler... foi por um caminho que não imaginava que iria). Este post-emenda é uma celebração à vida desses navegadores - seres marinhos, marinheiros - que insistem em ir contra a corrente. Yeap, concordo e não ignoro: há sofrimento, é difícil, dói-dói-dói (como diria Tom Zé)... o coração batendo sofrido, calado... mas no fundo... é uma cuíca que ouço? Um samba? ... Tudo talvez não passe de uma celebração, pois este ato não tem um fim em si mesmo: é, isso sim, um ciclo de mudanças, de escolhas (claro!), mas não de dor. A dor é um efeito colateral altamente indesejado.... dor que amanhã... amanhã, menina... amanhã de manhã...quando a gente acordar.... quero te dizer que a felicidade vai.... desabar sobre os homens, vai... desabar sobre a gente, vai...

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