sábado, 7 de maio de 2022

30 dias entre o oriente e o ocidente: ancoragem

Caramba… menos de um mês… chegou? Ainda não… Olho pela manhã pra esse mar de saudades até a costa… muitas remadas… estou chegando…

Tanta coisa pela frente ainda: os perrengues da burocracia japonesa, documentos, as entrevistas de emprego, continuar fazendo networking, finalizar um artigo + experimentos … acho até estranho sentir (e admitir pra mim mesmo) que a saudade é aquilo que tem sido mais difícil de administrar… a vida e suas rasteiras… realmente, me desestabilizou bastante. Por outro lado… só oque é realmente grande e de muito valor pra gente é capaz de gerar tanta comoção… tento aceitar essa dualidade da situação: vai ser bom… mas quando deixar de ser bom ou de ser parte de você, vai doer. E tem doído, muito

Às vezes tento olhar pro futuro sem me apegar às incertezas que rondam essa saudade: como seria estar na mesma cidade que uma pessoa que você ainda quer, mas não te quer? Como será poder me comunicar efetivamente com quase todo mundo que encontro? Como será ter amigos e família por perto? No todo, me pergunto: oque vai ser, ser um adulto na mesma cidade em que quero viver? 

Isso porque, em geral, sempre associei estar aqui fora a trabalho, como se a vida e seus prazeres ficasse meio jogada de lado. Acho que somente na Mini-apple essa dinâmica foi diferente, quando estava num relacionamento: a cidade se mostrava diante de meus olhos de uma outra maneira; os tempos livres tinham outro valor. Antes e depois… o mesmo estresse de sempre. Quem quer viver assim?

É curioso que eu conseguia antecipar que essa transição seria difícil, mas não pelos motivos que hoje me tiram o sono. A maior lição disso… talvez seja a de não contar com certos laços como dados (?)… ou, acima de tudo, ser mais capaz de me mostrar ali, presente… comparecendo, ouvindo e sabendo dar segurança àquilo que precisa - ou já é parte - de mim? 

É estranho e curioso esse processo… não me acho um mal ouvinte, ou cabeça dura… consigo acolher, me abrir pra tanta coisa nova… mas como assim, não conseguir assegurar ao outro que estou aberto, que estou disposto, que quero, que gosto, que sonho, que sonho junto, que quero perto, que tenho medos e receios, que… sou humano e falho? Pequei em não dizer ou em dizer do meu jeito? Faz diferença (a alguém) eu dizer isso agora? Pareço viver um enorme paradoxo, do qual eu sou a grande causa de desconforto cognitivo: como assim, tanta contradição junta?

Mais um, dentre tantos “não sei”, cabe aqui. Talvez devesse serenar um pouco, assossegar-me de que tudo isso é uma construção. Nunca deixei de dizer que queria junto, que gostava, de cantar em poemas, de celebrar em músicas, de compartilhar o quanto pude… se pequei, talvez tenha sido por … ter sido humano? Por ter tido medo? Por recear a incerteza de algo que hoje desconheço: minha própria terra? Ou… incerteza diante de alguém que também me deixava com receios (de que era genuíno, de que não era idealização etc)? 

Preciso ser justo comigo mesmo…ou ao menos tentar… e deixar de me culpar tanto. Ao menos disse, ao menos venci a insegurança e quando a névoa baixou mostrei a direção na qual - e com quem a meu lado - quero seguir remando, ao menos sigo firme e confiante no que quero, acredito e sinto. Talvez o maior dos erros teria sido ser grato, abrir mão, e virar as costas… perder sem tentar, errar sem nunca admitir o erro, silenciar quando há tanto a se dizer, engavetar planos e projetos de construções que não se criam sozinhos… a vida segue um curso, e muitas vezes o curso de nossos acertos passa pelo caminho dos nossos erros.

Tenha confiança… faça oque tiver que ser feito, sem deixar arrefecer teu candor. Seja paciente diante daquilo que não tens controle, e sereno diante de intempéries. Leia mais Rilke… coma mais chocolates… abrace mais, flexibilize mais… acolha-se mais.. acolha mais… ame-se mais …  Ouça mais do que falas… aproxime-se … não tenha medo de dizer oque sentes… ame mais… doe-se sem esperar nada do mundo em retribuição… saia debaixo do forninho, espalhe ternurinhas… contemple o absurdo das coisas como se fossem plausíveis… mude, que o mundo há de ou mudar contigo, ou se moldar à tua mudança. Viva. 

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