quinta-feira, 5 de maio de 2022

32 dias entre o oriente e o ocidente: kintsugi (金継ぎ)

Há dias como esses últimos em que a saudades é tanta, tamanhenooorme, que pareço me afogar em suspiros. Não tenho muito espaço em mim pra escrever sobre qualquer outra coisa.... mas resisto firme (ou algo assim), pois quero entrar em contato... disse que não o faria, devo manter minha palavra... e vai ver só eu estou sentindo falta...violar o espaço do outro pra que? Me podo, me limito, me censuro.. ou ao menos a sensatez faz tal trabalho por mim.

Não entendo direito o papel da saudades... talvez ela apenas fortaleça tudo oque estava fragmentado e em pedaços... como num kintsugi (金継ぎ), outra palavra em japonês que parece permear meus dias. 

Em geral se faz kintsugi quando algo muito valioso (não em valor, mas em estima) se quebra em partes. Em casos do tipo, cada fragmento é preservado pra que tudo seja refeito com remendos em ouro, um processo que pode levar tempo, mas indica o quão singular se é aquilo que se busca reparar. Apenas algo tão puro e valioso pode grudar algo tão precioso. 

Talvez o papel da saudades - e o de algumas pessoas  que passam por nossas vidas - seja um pouco isso: remendar tudo oque estava pendente, tudo oque estava sem arestas e mal polido... partes disjuntas que seguem lado a lado mas não exatamente conectadas. As dificuldades também, aparecem para nos mostrar que apenas um processo parecido ao kintsugi é digno de reparar algo que é tão delicado como uma relação... E as suturas ficam ali visíveis:  imperfeições que dão mais relevância ao quão importante algo nos é; o wabi-sabi novamente, a realçar a beleza das imperfeições que são parte do que somos.

Me pergunto, de alguma maneira, se o papel do Japão na minha vida também tenha sido esse - claro, talvez só vá saber disso daqui a anos (ou nunca vir a saber)... 

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