quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #38: "te contei aquela?"

Te contei aquela do japonês da loja... ahhh sim, te contei, né?  Ééé...aquela foi boa... mas tenho uma melhor, do dia em que eu fui na praia aqui no... ahh te contei essa também? Não, não  me le'brava. [silêncio...barulho de vento] Puts, já ia me esquecendo de te falar, semana passada.... é...isso mesmo...você jé sabia? Quem te contou? Ah...eu? Nossa.... que coisa... tenho falado pelos cotovelos então hahaha.... Te falei do dia que eu tentei remarcar minha pales... é.. isso mesmo.... ai ai... esses japoneses...pelo visto te contei tudo já... vamos falar do Brasil en... ah..do Brasil você não quer falar?...entendo... acho que nem eu quero...

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #37:"um cafézinho, onegaishimasu"

Entro no café. "-Ohaiogosaimasu"...dou bom dia.

Lá do fundo já vou ounvindo os

"-gomenasai!! Gomenasai!!"

me desculpa... até que aparece o dono, pedindo desculpas.

"Me perdoe, mas a gente só abre às 11 da manhã"

Olho o relógio. São 10:57..."

...Mostro pra ele
... ele olha pra mim
...silêncio

Eu entendo e falo.

"-Ok, esperarei lá fora"

Ele se desculpa novamente.

3 minutos depois, lá aparece ele, me dando novamente bom dia e me perguntando oque eu gostaria de tomar.

"- Agora não quero mais porra nenhuma!"

 E quebro uma mesa de café com uma cadeira, dou uma outra cadeirada no balcão e derrubo as plantas da parede com uma mesa, que sabe-se lá como apareceu na minha mão. O dono sai em desespero pela rua, gritando "-nãããão, foram só 3 minutos!!! Gomenasai!!!" enquanto o persigo, olhos em brasa, sangue em erupção como monte Fuji algum já viu...

Acabado o devaneio digo

"-um café preto... um café preto...sem leite"

Sento na calçada, sob o sol, enquanto penso na máquina de lavar a terminar seu serviço a alguns metros dali.

Aguardo.

Meu café não chega... mas não conto os minutos pra saber quanto tempo espero. Mais de 3 minutos...quase certo disso.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #36: winter has come ou "it`s all about pinhas"

Bom, muitos acham que vou falar de política, mas... na verdade vou falar sobre fins de namoro.

Por que talvez alguns se façam de desentendido, virem a cara, façam vista grossa e não queiram falar sobre. Mas namoros terminam. E dói. E digo mais: no final, e te pega a qualquer momento pra acertar as contas, esteja você onde estiver.
Um "vamos tira isso a limpo" que é como uma emboscada, sorrateiramente te esperando no vagão de trem, ou no mercadinho da esquina, quando toca aquela música melosa.

E aí não tem como: você chora ali mesmo, como eu chorei uma vez. Eu, coração partido, em meio a hortalicas, e  frutas

...e ouvindo simple red



A gente nao controla.

A saudade vitima mais um ser indefeso nesse mundo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #34: ground control


 ou 

"Here am I floating 'round my tin can, far above the moon. Planet Earth is blue, and there's nothing I can do."

Esse versinho pode até soar meio bobo. Mas acho que tem que ser "ouvido" como parte do todo nessa música, que eu não conhecia até recentemente. A letra é uma estória, que começa com o lançamento de um foguete ao espaço e vai desde os preparativos para seu lançamento. 

Somos oniscientes, tudo vendo/ouvindo de longe. 

A base, o "ground control", se comunica com o Major Tom, pede para que este cheque os últimos detalhes, suas pílulas etc. No decorrer da viagem, o astronauta percebe que há algo de errado, começa a flutuar de maneira estranha, as estrelas lhe parecem estranhas. Pede então pra base avisar à esposa que a ama... a base responde em desespero dizendo que a esposa sabe. Embebidos em café e angústia, a base pede por esclarecimentos e mais coordenadas...até que não há mais contato com o foguete. 

Oque eu gosto dessa música é o fato dela ser cantada por uma só pessoa, e o contexto do "quem fala oque" ficar pro ouvinte. 

Aí ficam flutuando no espaço, como ondas intergaláticas as palavras da base de controle:

"-Can you hear me, Major Tom?"

 "-Major Tom, você me ouve?"

E a mensagem parece não chegar a lugar algum. Nós, ouvindo a música, parecemos testemunhas em primeira mão desse homem fora de órbita que hoje não vai voltar pra ver a esposa, para seus pais, para seus semelhantes, filhos (ou sobrinho!). 

Em contexto, essa música me soa particularmente interessante nesses dias de Japão onde tenho me sentido bem away, desconectado do "ground control" que são família, amigos e, até há pouco, namorada. Um momento em que me sinto flutuando no espaço, perdido, desconectado, me perguntando se minha nave sabe em que direção deve seguir.

"-Can you hear me, Raffaello?.... Can you hear me, Raffaello?"