sábado, 21 de abril de 2018

My little Duckaroo, ou "sobre os ombros de gigantes"

"If I have seen further it is by standing on ye sholders of Giants."

 
Isaac Newton disse a frase acima.... me pergunto se, no fundo, uma vez  sobre os ombros de gigantes, a questão deixa de ser vermos mais longe pois a preocupação então passa a ser outra: passamos sim a ver/encarar outros gigantes... E a grande pergunta que fica é: por que queremos escalar sobre ombros assim, tão altos? Ombros-montanhas, Everests de ombros...   Um gigante, que vê assim tão longe, não vê o chão assim tão bem... ou, quando cai, cai de uma altura muito maior.

Por que então buscarmos algo tão alto? 

De certa forma, isso nos remete ao mito de Ícaro, a esse constante equilíbrio entre o "tão alto almejamos, de tão alto caímos".  

Há alguns dias atrás eu estava pensando no que fazemos para crescer na vida e na carreira: em como nos degladiamos por coisas grandiosas, muitas vezes maiores que a gente, e nos perdemos a ponto de quase cairmos de exausto por elas. Às vezes parece que vivemos em função dessas metas, como se fossem oque há de mais importante no mundo.

Mas realmente, o são?

Me pergunto algumas vezes se não se trata de uma cegueira obstinada seguir por certos rumos. Tenho me questionado tanto ultimamente.... mas tanto mesmo... que tudo me pego vivendo em contínuo desconforto.

Esses dois desenhos (que adoro) falam um pouco sobre isso.





My little Duckaroo, do Chuck Jones



One Froggy evening

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #25: "dentre muitos, mas apenas um"

Hoje fui a Tokyo. E no fervor dos afazeres que tentava cortar da minha lista, logo ali, entre uma estação e outra, o sistema falha. Meu sistema falha...

"-Acho que vou desmaiar...",  digo a mim mesmo.

Sinto a pressão caindo. A porta do vagão abre... "-...talvez consiga chegar até lá", penso mais uma vez, à caminho da embaixada. A porta do vagão se fecha e, já nos primeiros sinais de movimento, tudo volta: sinto a mente fugindo como fumaça que se esvaie por uma chaminé... um zumbidinho vem, me bate nos ouvidos como  ondas de mar que parecem afagar ao furar, ao reduzirem pedras a menores pedras, a casacalho, a pó. "- Não vai dar", me remoe por dentro a aflição...

A consciência a correr pelos meus dedos.... eu quase me dando por vencido, mas preocupado de cair ali, dentre muitos, do outro lado do mundo, no meio de tanta gente que não me entende, onde sou apenas um.

Instinto de sobrevivência chega: me ajoelho, respiro pausadamente... a consciência parece retornar do seu breve passeio por Tokyo... Akihabara, Shin-juku... lá volta ela, como se não quisesse nada... mas já pensando em sair de novo. Passo uns minutos com a mesma...quando acho que está mesmo no sofá da sala, a buscar prosa e em busca de companhia, me ergo, demonstro o quanto quero que fique... mas ela parece de novo querer ir embora.

E me ajoelho... até que a próxima estação chega.

As portas se abrem... e eu saio trôpego, embebedado na minha inconsciência, entorpecido nos dias sem sono, vazio de horas sem alimentação alguma. E me deito na plataforma de trem.

Fecho os olhos....mas os abro novamente, buscando ter certeza de que ainda estou ali. Os fecho... abro... e chegam guardas, arremessando kanjis nos meus ouvidos como conchas de mar que passeiam na areia da praia.

Sento-me, ainda no chão. Sob mãos e braços de auxílio incompreensível, me sento num banco.

A consciência ainda querendo se enveredar pelo mundo, só.

Por um segundo tenho dó de mim.

No outro segundo, entre notas fiscais e moedas de baixo valor que povoam meus bolsos, busco racionalmente o que fazer.

Me levanto... e diante de uma razão esquiva, sigo em frente (mas de olho nela).

"-Talvez você precise mesmo é de colo", murmuro.

... mas talvez seja apenas sono.