domingo, 30 de dezembro de 2018

De volta, brevemente, a São Paulo

Estou no Brasil, em São Paulo, visitando família e amigos. Vi meu sobrinho há poucos dias. Vi irmã se tornar mãe e mãe se tornar avó. Mudar e permitir que as pessoas mudem. Vida nova que cresce e ganha forma no seio de uma família. 

Vejo a cidade morrendo disforme diante das suas desigualdades. Muitos moradores de ruas, muita riqueza e muita pobreza que andam lado a lado. Corrijo: uma acima, outra abaixo. São Paulo, não diferentemente de muitas outras cidades por aí, me machuca: seu excesso de concreto, suas árvores persistentes e maltratadas cujas raízes se espremem em vasos do tamanho de uma caneca, tidas como florestas urbanas de uma cidade que há tempos nem pulmão mais tem.

Gosto das pessoas, mas me distancio: "minhas referências há tempos transpuseram essas fronteiras".

Penso no que teria sido ter trazido a ex-namorada nessa visita. Tento me surpreender com a beleza que vislumbro por trás de tanta hostilidade. Imagino como isso seria aos olhos dela, e tento perceber oque sinto diante de tantos contrastes.

O desconforto ao andar pelas calçadas. O rosto sério das garotas de programa que seguem pra mais um dia de trabalho. Os bêbados cantando música brega nos bares de esquina. Reuniões de amigos de escola, modelos distintos de pais ausentes. Risadas. Pensamentos profundos ou mesmo vagos. Tapioca. Coxinha. Feminejo. 

Acho que amo e odeio essa cidade.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente #44: em trânsito (rascunho entre Brasil/Japão)

Há tempos estou pra escrever, sobre diversas coisas. Recentemente houve um outro surto do meu chefe, seguido do qual eu pensei

“-pqp, que que estou fazendo aqui?” 

É interessante porque, essas coisas só fazem deteriorar meu tesão pelo que faço. Não... não sejamos ingênuos: o lugar onde trabalho, as pessoas com as quais trabalho, e a dificuldade do trabalho em si, tudo isso está ligado, se mistura, fazendo com que as minhas impressões do mundo igualmente se emaranhem.

Meu último projeto aqui (digo, Japão) finalmente “terminou” (submeti o artigo!) há algumas semanas. Saí aliviado mas ressentido: fiz tudo, tudo mesmo, tive ajuda mínima em algumas coisas ("você deveria arrumar esse sinal de +" etc) e... lá está o nome de um colaborador que não fez nada. Chato... me senti usado, violado. Não queria me sentir assim, é um sentimento horrível de... relacionamento abusivo... é um sentimento muito desconfortável. Mas coisas boas saíram disso: vi e senti que o tipo de relação/colaboração que busco é mais 50%-50%, aquela no qual vc é co-responsável pelo crescimento de algo. E também me perceber capaz de fazer as coisas por mim mesmo, coordenar e catalizar o processo de criação. Ótimo! Dou conta, consigo! Mas... não precisa ser sempre assim, né?

Curioso que essa semana um amigo me mostrou um artigo que diz que mais e mais PhDs (60%) passam suas carreiras como pesquisadores que dão suporte a outros, sempre servindo de base de apoio pra rojemos de pesquisadores com mais nome. Vou deixar aqui o link.

Por essas semanas também tive um encontro com uma colaboradora (química) que estava deprimida diante das hostilidades que têm sofrido no trabalho.
Mulher e estrangeira, no Japão.
Resultado: discriminação.

Coisas como
1) pedirem pra ela colocar nome de outros pesquisadores em artigo, gente essa que ela nunca viu na vida ou que nunca colaborou com coisa alguma (política de “boa vizinhança”)
2) tirarem-na do escritório dela para mudá-la pra sala das secretarias onde, segundo o chefe dela, “ela pode fofocar com as secretarias”
3) ter grants destinados a ela encaminhados para uso de outros pesquisadores (japoneses e homens).

Isso tudo pra dizer que... o ambiente acadêmico no geral é estranho, mas no Japão é estranho e hostil. As pessoas não têm ideia do que é trabalhar num ambiente mais egualitário, ou onde não se desperdiça tanto. Mas isso fica pra outra discussão.

Jettlag/ sono.. volto em breve.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Rewiring

Bem imaginava que isso fosse acontecer: meu cerebro, ele mesmo,  me pregando peças. Vááárias, inesperadas, sorrateiras. Vem de mansinho e me atocaia como um gatuno, em geral quando menos espero: quando durmo, ou quando estou de bobeira tentando espairecer.

Me pego em sonhos nuns dialogos estranhos com minha ex, ouvindo dela que ela seguiu adiante, que vai casar, que está grávida de outro, que na verdade já está de rolo com aquele sujeito que sempre foi uma pedra no sapato durante a relação etc etc. O cérebro faz dessas mesmo, não nos perdoa. E nos coloca nas situações mais dolorosas possíveis. Ahhh  tenha certeza disso!

Outras coisas curiosas: vários momentos que vivi com minha ex têm sido reescritos, só que com outras pessoas como atores/atrizes: mudam caras e rostos, mas eu estou ali. E quando vejo me pego consciente da troca, discutindo com uma amiga, ou dando um beijo numa colega de trabalho, ou pedindo desculpas pra minha irmã... e acordo num rompante, aflito, tentando discernir oque é verdade, oque é fato, do que não é nada senão.... meu cérebro, buscando sair de seus próprios labirintos.

Amor é uma droga mesmo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente #43: "tautologias nipônicas"

-Não está dando certo... não estou conseguindo imprimir o pôster da minha apresentação. O senhor pode imprimí-lo pra mim?

-Hummm não.

-Como assim, não?

-...Não. No email que te enviei semana passada eu dizia que vc deve imprimir o seu pôster.

Eu entendo, mas eu não estou conseguindo imprimí-lo. Te envio o pdf e você o imprime pra mim.

-Não.

-Mas me diga, porque!? 

-Por que você deve imprimir o poster, como dizia o email.

O postêr não vai ter o nome de quem o imprimiu... Ok, vou pedir pra alguém fazer isso pra mim

-Não!! O teu poster deve ser impresso por você mesmo!


Direto da Terra do Sol Nascente #42: "Big boss"

Japão... produzir para criar números e índices de produtividade... mal sei oque pensar quando leio

"I am expecting good many publications of you"

no final dos emails do meu chefe.