terça-feira, 27 de novembro de 2012

Atama yama (ou "como lidar com os cabelos brancos")



[Atama Yama, by Koji Yamamura]

 Desde que cheguei aqui nessa terra distante eles  começaram a aparecer discretamente: no começo era unzinho ali, mais ao lado, depois um conjunto deles, um bando, como se quisessem se fazer notados. Éééé.... meus poucos cabelos brancos chegaram e ficam aqui, engraçados, perdidos no meio de um monte de fios pretos.
Curioso é a capacidade que eles tem de se fazer notar, por que são meio desengonçados, crescem meio de qualquer jeito... destrambelhados, sem rumo, sem cor, sem nada

Abri mão de tentar tirá-los há um tempo.... pra que?

[Essa coisa de me olhar na frente do espelho e encontrar um fiozinho branco sempre me fez lembrar desse filme do Atama Yama]
[A narrativa dele é muito "peculiar", digamos]
[Acho que não há nada parecido aqui dentre os desenhos que já postei]
[Acho que vocês vão curtir]




quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sobre criatividade ( talvez sobre a falta de), trabalho puxado etc


Ira Glass on Storytelling from David Shiyang Liu on Vimeo.

[Acho que se trata de uma gravação de um programa de rádio]
[Ao que parece este Ira Glass tem um]
[acho esse texto/discurso muito interessante ...]
[...e motivante]

sábado, 10 de novembro de 2012

1984 + estudo em vermelho para um monstro que vive no espelho

Ontem cheguei em casa e...nada de mais: os livros ainda jogados em cima da minha mesa, as roupas desdobradas que a correria da semana me "proíbe" de deixar arrumadas amontoadas em cima da cama. Até que eu percebi algo diferente: minha cortina não estava no lugar, e sim em cima da minha mesa. "-Alguém esteve aqui."  Olhei pra janela que, há mais ou menos uma semana, constatara ser feita de plástico e não de vidro, e vi que havia sido trocada. A mesa, percebi então, não estava na sua posição correta, mas sim um pouco fora do lugar. Oque mais havia sido mudado?

Na hora me lembrei de um trecho do 1984. Melhor começar explicando o contexto: um cara vive numa sociedade mais que totalitária, onde cada casa possui algo que, em português, foi traduzido como teletela- um aparelho que registra oque você faz em casa, como uma câmera. Teoricamente há pessoas analizando/assistindo/observandounvindo os dados que são coletados. Esse cara ( que não me lembro o nome agora), tem uma fagulha de pensamento libertário e começa a registrar num diário oque pensa. Como ele deixa o diário em casa e tem medo que alguém entre e leia oque ele escreve, ele sai de casa e deixa o diário numa gaveta, não sem antes deixar um grãozinho de areia em cima da capa do livro. Quando ele volta, verifica sempre se o grãozinho está lá.

Bom, como vc deve ter imaginado, isso não impede que o diário seja lido por agentes do Estado sem que ele perceba =/  É, pessoal... assim que me senti ontem.

Lembrei-me também que preciso terminar os desenhos pros monstros que vão habitar o espelho do banheiro; algo que, inicialmente, tinha um significado, ganhou outro - ou melhor, mais um: meus monstros seriam como carrancas a me proteger desses maus espíritos que tentam entrar aqui na casa branca. Ainda não fiz muitos esboços; alguns deles estão abaixo.

[A bem da verdade, eu queria era adicionar um vídeo do Koji Yamamura chamado " A child's metaphysics", que é muito bom]
[Infelizmente não o encontrei um que desse prum "embedding"  aqui =/ ]
[Mas nesse site tem, ó]



[A começar pelo último, um estudo em vermelho pro monstro do espelho]




[Este mais ficou parecendo um cachorro =P ]
[Foi um dos primeiros que fiz]









[Este me veio durante uma aula muito chata sobre covering spaces/maps... ]
[A professora havia feito uma figura que era como uma espiral se projetando num círculo - como uma sombra]




quarta-feira, 7 de novembro de 2012

[312]



      Há dias em que cada pessoa que encontro, e, ainda mais, as pessoas habituais do meu convívio forçado e quotidiano, assumem aspectos de símbolos, e, ou isolados ou ligando-se, formam uma escrita poética ou oculta, descritiva em sombras da minha vida. O escritório torna-se-me uma página com palavras de gente; a rua é um livro; as palavras trocadas  com os usuais, os desabituais que encontro, são dizeres para que me falta o dicionário mas não de todo o entendimento. Falam, exprimem, porém não é de si que falam, nem a si que exprimem; são palavras, disse, e não mostram, deixam transparecer. Mas, na minha visão crepuscular, só vagamente distingo o que essas vidraças súbitas, reveladas na superfície das coisas, admitem do interior que velam e revelam. Entendo sem conhecimento, como um cego a quem falem de cores.

     Passando às vezes na rua, ouço trechos de conversas íntimas, e quase todas são da outra mulher, do outro homem, do rapaz da terceira ou da amante daquele. Levo comigo, só de ouvir estas sombras de discurso humano que é afinal o tudo em que se ocupam a maioria das vidas conscientes, um tédio de nojo, uma angústia de exílio entre aranhas e a consciência súbita do meu amarfanhamento entre  gente real; a condenação de ser vizinho igual, perante o senhorio e o sítio, dos outros inquilinos do aglomerado, espreitando com nojo, por entre as grades traseiras do armazém da loja, o lixo alheio que se entulha à chuva no saguão  que é a minha vida.

[Extraído no modo random de "O livro do desassossego", Fernando Pessoa]