"Since I had nowhere permanent to stay, I had no interest whatever in keeping treasures, and since I was empty-handed, I had no fear of being robbed on the way"
[Matsuo Bashô , The records of a travel-worn Satchel]
Continuando...ainda vai ter a terceira e última parte
No trabalho, ficou mais distraído que de costume;pensava que enquanto estava ali descarregando pacotes e caixas, no escuro da terra os o]cogumelos silenciosos , lentos, de cuja existência só ele sabia, amadureciam a polpa porosa, assimilavam seivas subterrâneas, rompiam a crosta dos torrões. "Bastaria uma noite de chuva", disse consigo mesmo, " e estariam no ponto de serem colhidos".E não via a hora de comunicar a descoberta à mulher e aos seis filhos.
- Ouçam oque eu tenho para contar! - anunciou durante o magro jantar. - Dentro de uma semana vamos comer cogumelos" Uma bela fritada! Garanto a vocês!
E aos filhos menores, que não sabiam o que eram cogumelos, explicou animado a beleza das muitas espécies, a delicadeza do sabor e como se devia cozinhá-los; e envolveu a discussão também a mulher, Domitilla, que se mostrava incrédula e distraída.
- E onde estão esses cogumelos? - perguntaram as crianças - Diga-nos onde estão crescendo!
Diante de tal pergunta, o entusiasmo de Marcovaldo foi refreado por uma suspeita:" Se lhes disser onde estão,vão procurá-los com um dos costumeiros bandos de moleques, corre a notícia pelo bairro, e s cogumelos terminam na panela dos outros!" Assim, aquela descoberta que lhe enchera o coração de amor universal, agora lhe acendia a obsessão da posse, cercava-o de temor ciumento e desconfiado.
- Eu é que sei o lugar dos cogumelos e só eu - disse aos filhos - , e ai de vocês se abrirem o bico.
Na manhã seguinte, Marcovaldo, aproximando-se da parada do bonde estava bastante apreensivo. Inclinou-se sobre o canteiro e viu com alívio os cogumelos um pouco mais crescidinhos, ainda quase totalmente ocultos pela terra. Estava assim inclinado , quanto percebeu que havia alguém atrás dele. Levantou de um salto e tentou simular uma expressão indiferente. Um varredor de ruas o observava, apoiado na vassoura.
Esse varredor,em cuja jurisdição se achavam os cogumelos,era um jovem magricela que usava óculos grandes. Chamava-se Amadigi, e Marcovaldo tinha antipatia por ele havia muito tempo, quem sabe por causa daqueles óculos que perscrutavam o asfalto das ruas em busca de qualquer vestígio natural a ser eliminado a golpes de vassoura.
Eu sabia que todos vocês estavam afoitos. Um veio me perguntar em off de onde o nome tinha vindo, outro veio me mandar email ou me perguntar em momentos inoportunos... mas eu não cedi. O nome do blog foi especulado, chutado, cuspido, surrado e lavado no bolso de uma calça amassada que estava no meio da roupa suja.
Mas ninguém descobriu de fato de onde o nome viera.
Hoje acaba o mistério \o/\o/
O nome veio de um livro lindo que eu li do Italo Calvino (recomendo todos os livros dele!!!), que se chama "marcovaldo, ou as estações na cidade". A descrição da personagem é muito boa, e bate com o que ele é:
"Em plena selva de asfalto e cimento da cidade industrial, o operário Marcovaldo busca a Natureza. Mas existe, ainda, a boa e velha Natureza? Ou tudo não passa de imitação, artifício e engano?Personagem cômica e melancólica, o sonhador Marcovaldo não tem olhos adequados para semáforos, cartazes ou vitrines, signos da vida urbana e da sociedade de consumo. Mas está atento aos cogumelos que brotam no ponto do bonde, ao mofo nas bancas de jornais, às aves migratórias ou às possibilidades de caçar e pescar dentro da cidade, enfrentando as mudanças de estação e descobrindo as misérias da existência."
Quando eu li o primeiro conto eu ri mto, e pensei em começar um blog. Claro!!! nunca acreditei que iria escrever como ele... eu sou realista! Mas .. enfim, q se dane. Eu vou transcrever em partes este primeiro conto:
Cogumelos na cidade
O vento, vindo de longe para a cidade, oferece a ela dons insólitos, dos quais se dão conta somente pocas almas sensíveis, como quem sofre de febre defeno e espirra por causa do pólen das flores de outras terras.
Certo dia, num sulco de canteiro de uma avenida, apareceu, sabe-se lá de onde, uma rajada de esporos, e ali germinaram cogumelos. Ninguem se deu conta disso, exceto o carregador Marcovaldo, que todas as manhãs pegava o bonde exataente ali.
Esse Marcovaldo tinha um olho poco adequado para a vida da cidade: avisos, semáforos, letreiros luminosos, cartazes, por mais estudados que fossem para atrair a atenção, jamais detinham seu olhar. que parecia perder-senas areias do deserto. Já uma folha amarelando num ramo, uma pena que se deixasse prender numa telha, não lhe escapavam nunca: não havia mosca no dorso de um cavalo, buraco de cupim numa mesa, casca de figos e desfazendo na calçada que Marcovaldo não observasse e comentasse, descobrindo as mudanças da estação, seus desejos mais íntimos e as misérias de sua existência.
Assim, certa manhã,esperando o bonde que o levava à empresa SBAV, onde suava a camisa, notou algo de estranho junto à parada, na nesga de terra estéril e cheia de crostas que acompanha a arborização da alameda: em determinados pontos, ao pé das árvores, parecia que inchavam os monturos que lá e cá se abriam e deixavam aflorar corpos subterrâneos arredondados. Inclinou-se para amarrar o sapato e observou melhor : eram cogumelos, cogumelos de verdade, que estavam rompendo a terra bem no coração da cidade! Marcovaldo teve a impressão de que o mundo cinzento e miserável que o circundava se tornava de repente generoso em riquezas escondidas e que ainda se poda esperar alguma coisa da vida, além das horas pagas pelo salário contratual, de compensação de perdas, do salário-família e da carestia.
Estou cansado de teclar Termino depois... não fiquem ansiosos! Em toda esquina há uma perua branca distribuindo sopa E um fusca vermelho distribuindo ansiolíticos e charutos Vocês aguentam uns dias mais certo?