segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Adultescência, tardia mas precoce

 Uma das coisas que mais interessante de se morar perto dos pais é poder visitá-los durante um dia de trabalho e, pra variar um pouco o ambiente, trabalhar na casa deles. Mas é nessa hora que você tropeça na fronteira que separa tua vida adulta da tua vida de adolescente.

E mesmo que arame farpado ali houvesse, não adiantaria: por mais cuidado que se tenha, lá vem tua mãe atrapalhar tua reunião importante pra te oferecer um suco, ou atravessar a sala durante uma call com câmera ligada com um recado "fui comprar manteiga pra fazer pão".

É foda.

Eu fico bravo, digo que não é pra entrar no escritório enquanto estou trabalhando ou em reunião, mas começo a rir sozinho dessas absurdidades que chegam a ser fofas de tão nonsense. Porque, no fundo, não adianta: nossos pais nunca vão entender que a gente cresceu.

Mas o pior disso é ver que não apenas crescemos, como invertemos os papéis:provavelmente lá estavamos nós, aos 5, querendo brincar de pega-pega enquanto nossos pais queriam é brincar de um outro pega-pega (entre eles somente, claro), ou queríamos ficar cantando na frente da TV e pulando no sofá enquanto eles queriam ler um livro. Hoje, é o contrário: os adultos somos nós, eles é que viraram crianças.

Não sei... só sei que estou desistindo. Não adianta falar mais, só me resta evitar e não repetir esses erros de achar que sou eu que tenho o controle da situação. Bate então o momento humildade, eu tentando aprender com essas fraquezas que me desviam a alma.... e não chego à lugar algum. Me pergunto que tipo de coisas hei de fazer aos 60... 70... de quantas formas diferentes podemos encabular nossos jovens filhos que ainda não temos? Pergunta retórica e difícil... mas já estou preparando uma listinha hee hee :)

O pleito, as pestes e a copa do mundo

Anda-se pelo Brasil nestes dias e se vê o seguinte: "patriotas", pessoas vestidas com a camiseta da seleção brasiliana ou envolvidos na bandeira. Pessoas que tẽm se encontrado na frente dos quartéis do país para pedir uma intervenção militar, já que clamam que as eleições foram roubadas, ou que o Brasil há de virar um país comunista, ou qualquer outra loucura na qual acreditam.

Loucura é ver isso e saber que existe um universo paralelo, do qual só vemos essas manifestações espúrias. Seres que parecem sair sabe-se de onde, de que beco, de quais esconderijos, para surgir à tona, clamando espaço forçosamente de maneira que todo aquele que os outros têm deva ser anulado ou extirpado.

O Brasil desses brasilianos me assusta. 

Daqui até janeiro, quando o governo muda, falta um mês. Até lá, menos angústia do que antes. Ainda assim, me dá coceira imaginar oque há de acontecer nos 4 anos que temos adiante. Mais loucura? Donald Trump reeleito? Steve Bannon dando mais consultorias pra extrema direita tupiniquim? Scary...

Olha pro Brasil do futuro com menos medo do que tinha antes. Claro, não deixei de ver o abismo insuplantável que separa o país onde vivo agora do futuro pro qual o mundo parece seguir: o Brasil há de chegar lá... com muito atraso, uns 1000 anos depois de todos os outros países do Norte. Acho que temos que perder umas mil copas do mundo antes de nos entusiasmarmos de maneira besta com gols de jogadores milionários e idiotas, ou dançarmos como se não houvesse amanhã a cada carnaval, tudo enquanto o congresso vota na surdina as leis mais estapafúrdias e que só exacerbam a desigualdade e corrupção nesse país.

É triste admitir, mas o brasliano deveria sofrer mais, ter que assistir mais 7X1 em pleno Maracanã, ter que admitir sua pequeneza diante do resto do mundo... acho que isso nos tornaria mais adultos, mais realistas, desmistificando essa ilusão absurda que muita gente compra: de que o Brasil é o país do amanhã. 

Não, gente: não é.

Ok, Ok. Vocês devem me ler e pensar: "-Caramba... Rafaello tá amargo hoje!" Vai ver sim... mas a culpa é da Copa: só se fala nisso, só se vê isso, em shoppings as pessoas colecionam figurinhas, adultos tentam entrar numa máquina do tempo e completar seus álbuns... Neymar, Richarlison e outros tantos... 

Sei lá... peguei bode dessa copa do mundo. Mas admito que há coisas boas nela, como um respiro no meio da semana pra ver os amigos, pra dar uns beijinhos, pra ver algo verde (uma tela verde com aquele gramado lindo) no meio de uma cidade tão cinza como as que vivemos. É.... melhor parar por aqui: acho que estou pra lá de amargo hoje.