domingo, 1 de dezembro de 2019

Direto da Terra do Sol Nascente # 78: abraço chinês II

Há algumas semanas aconteceu algo que me lembrou de uma estória que me ocorreu anos atrás (2012!!!): um chinês do meu trabalho, que tenho meio que orientado com encontros semanais e tudo, veio me dizer que não conseguiu fazer nada do que lhe pedi na semana passada. Se abriu, pois não sabia oque fazer: havia levado um chega pra lá de uma mocinha japonesa, e não sabia muito bem como interpretar a situação. Num esforço emocional que conseguia perceber de longe, me explicou a situação pegando um pedaço de giz e indo para o quadro negro, onde desenhou uma gaussiana pra representar o quão fora do eixo se encontrava naqueles dias:

"-...estou uns dois sigmas acima da média", me disse apontando para a cauda direita da curva, um pouco ofegante e, pelo que me passava, com o peito carregado de dor. Entendi a explicação, apesar de pra mim haver pouco uo nenhum sentido em matematizar uma situação como aquela. Talvez seja minha grande virtude e meu grande defeito: não ser fluente em nada, e falar um pouco de várias linguas: me foi o bastante pra ver que o rapaz estava no seu limite.

Fiquei lembrando da menina chinesa da qual falei no post que me referi acima. Pensei neste grande abismo entre dois mundos, culturas e vidas tão distintas -  Brasil, China - e em como, assim mesmo, ele veio contar pra mim... mesmo  diante de tantas outras pessoas pras quais ele poderia ter falado sobre o seu desconforto, sobre aquela dor.

Ouvi, conversei, dividi o pouco que sei (ou acho que sei) e, sem haver algum mérito quanto a hierarquia, me senti um pouco pai, um pouco irmão mais velho, um pouco orientador, e um pouco mais humano: rejeição é uma dor universal mesmo. Enquanto o ouvia eu pensava no que tal palavra significa pra mim... e quais milhares de significados e formas ela já tomou (e ainda há de tomar) no meu horizonte.  

Fiquei feliz em ver que com algumas palavras e acolhimento, o desespero nos olhos dele dissiparam um pouco: já ao fim da conversa eu consegui ver que ele estava melhor. Acima de tudo,  que eu havia feito o melhor que pude: dizer a ele, mesmo sem ter certeza de nada, que aquilo iria passar, que aquela dor iria passar...



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