segunda-feira, 11 de maio de 2020

Direto da Terra do Sol Nascente # 92: "MA-SSU-KU!! MA-SSU-KU!!"

Ao colocar a cabeça no travesseiro ontem à noite eu me perdi nos meus pensamentos, que logo foram afugentados por alguém tossindo sabe-se lá a quantos apartamentos de distância. Será que sempre fui auditivamente sensível a tossidas ruidosas, ou espirros? Me perguntei. Logo, me perdi em pensamentos mais uma vez, pra  então me lembrar que, logo no começo da segunda-feira, enquanto corria 1 , levei uma bronca de um velhinho que caminhava no sentido contrário e que, ao me ver sem máscara, gritou vorazmente por alguns segundos

"MA-SSU-KU!! MA-SSU-KU!!"

oque, "claramente" (já que traduzo), denotava em bom japonês que ele estava puto porque eu não usava máscara enquanto corria debaixo de um calor já abafado dessa cidade.

Fiquei meio chateado comigo. "-Pouts, como pude..." Pensava, corria, e dava passadas de remorso... Me lembrei rapidamente de uma amiga brasileira que veio me dizer que estava com o mesmo problema por lá: tentou correr duas vezes com máscara e desistiu. Pensei no que deveria fazer: pesquisar à respeito, descobrir oque deveria fazer... correr com máscara à partir da próxima vez, correr com a máscara abaixada, só a usando quando passasse alguém...

Todos esses pensamentos passando pela minha cabeça nuns 30 segundos após a bronca. E mais ou menos nessa hora, quando o meu lado racional começou a "kick-in", eu me perguntei meio cientificamente: "bom... conhecendo esse pessoal daqui e como humanos são tendenciosos, é bem provável que ele tenha me dado essa bronca como uma 'lição moral', na qual ele demonstra pra mim - estrangeiro desaculturado e inferior - toda a sua superioridade japonesa, ensinando os valores de civilidade que sua sociedade deve mostrar ao mundo".

Fiquei me perguntando isso, meio que como um predicado que não pode ser verificado. Paciência: morreria sem saber, eu também com meu viés de me abraças a essa nesga de dúvida,  mesmo que aceitando meu erro: apesar da violência como o velhinho vociferou, ele estava de certa forma certo.

Mas a estória não termina aí. Como um twist of fate Bob(i)Dylli(c)ano, o loop da minha corrida se faz no meio, e volto para completá-lo. Mas... olho adiante e vejo não outro que não...  o velhinho bravo, meio distante ainda (tanto que ele não me nota). Em sua direção, passa um corredor caminhando, este japonês. 

O velhinho-vociferador-superior não abre a boca.

Mas como: só porque o outro corredor era um japonês superior como ele? Será que ele não precisaria ser "disciplinado" também? 

Fiquei rindo por dentro, e meio triste em constatar que "o experimento saiu como o previsto"...Melhor dizendo: é um tanto estranho "aprender" algo, ou ter dimensão dos próprios erros 2  de uma maneira preconceituosa como esta. Diante desse acontecido, me questiono o quanto esse traumaprendizado invalida a informação: se isso nos leva a rejeitármos oque nos foi dito (por honra, por vaidade, por orgulho) por fim dando foco a toda essa discussão secundária e distorcendo a questão principal do "aprender", do "reconhecer-se errado". 

Pra essas questões, no entanto, não tenho experimentos... nem verificações empíricas.

Algo que tenho feito de quanto em vez

 Pois não tiro a razão dele: eu estava relativamente errado e poderia ser mais precavido. Poderia, como citei acima, ter uma máscara a tira-colo e colocá-la rapidamente caso visse um velhinho perto

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