segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Dois constrangimentos para os leitores, em poucas palavras

[Faz tempo que penso em escrever sobre o assunto de hoje, já que se tratao de elaborações antigas]
[Esse post me constrange um pouco... porque fala de coisas em mim que não gosto muito. No entanto, acredito que falar sobre é a melhor forma de elaborá-los, e descobrir o quanto eles são realmente parte de mim. ]

Ao longo do processo de crescermos, trabalharmos em conjunto, encontrarmos parceiros (de trabalho, de vida, oque seja), acabamos por ter que lidar com o seguinte fato não agradável: a gente vai ouvir coisas que não gostaria de ouvir, em especial críticas duras. Em se estando aberto a elas, pode-se crescer. No meu caso, acabei descobrindo duas coisas: pelo (ex) namoro, que sou um tanto egoísta... e pelo trabalho, que sou um pouco arrogante.

Mas em que medida?

Demorou muito para eu fazer essa pergunta. Por um bom tempo depois de eventos em que percebi isso me senti muito mal, demorei pra me "aceitar", ou aceitar que as críticas poderiam mudar, que eu não era/sou um ser estático. Ser egoísta é ruim? Sim, mas às vezes não. Ser arrogante é ruim? Em geral sim, mas pode te proteger de alguns perrengues. Claro, não descrevo os termos acima do ponto de vista mais óbvio: não sou um egoísta de não querer dividir nada, de achar que 2 são meus e 1 é teu. É algo mais sutil, que em geral vinha em momentos de discussão, mas pelos quais eu estava tão grato em ver que eu me colocaca minhas vontades acima da do outro que...no fim ali só parecia haver espaço para eu mesmo, e para minhas vontades. Um exemplo, bem leve: quando pedalo com mais gente eu em geral saio como um maníaco, indo o mais rápido que posso. Aí chego lá na frente, e paro, olhando pra trás à espera dos que ficaram (e, de certa forma, os apressando). Demorou para eu entender do que se tratava, quando veio a primeira bronca. 

É gostoso ouvir alguém ralhando com a gente? Não, definitivamente não é. E curioso, já que às vezes os sentimentos que nos visitam são na verdade ecos de outros sentimentos que já nos visitaram antes: esses momentos de puxão de orelha me trazem uma vergonha gigantesca, uma vergonha muito parecida com aquela com a qual encarei o diretor do meu colégio quando cometi meu primeiro delito (descrito em detalhes neste post de 2010!!)

Arrááá!!! Você deve pensar que isso então é uma patologia reiterada no tempo, com reflexos profundo-neurofreudianos densos que repercutem no meu eu adulto e que há de persistir ad eternum no meu ser...  não, não é bem por aí. Não acredito que seja um sinal de que nunca irei mudar, ou coisa do tipo. Várias coisas influenciam esses momentos em que acabo exacerbando esses traços: estresse, sono (ou falta de), etc. É apenas um sinal que, como no processo de "mindfulness" que citei no post anterior, às vezes precisamos voltar (ou ser trazidos de volta por alguém) ao contato com nós mesmos, nos conectarmos com os outros e "percebermos" que eles também estão ali. É nessas horas que a gente olha, abaixa a cabeça (se envergonha), e aprende.

"-Então não vai acontecer de novo, Rafaello?" Não sei, mas estarmos mais conscientes de que pode acontecer, nos faz estarmos mais alertas e, na melhor das hipóteses, mais presentes. E acima de tudo, reverberando um pouco o conteúdo do post anterior, nos torna mais gratos! No fim, errar é só mais um aspecto da nossa humanidade.

Quanto à arrogância... poutz... é algo que percebo há tempos...quando me impaciento com alguém que trabalha comigo e acho que a pessoa está me enrolando (ou enrolando todo mundo). Em geral minha reação é a de virar e falar algo, ou tentar sair de perto. Quantas vezes não me segurei pra dizer "- Você deveria melhorar teu inglês... ninguém vai te dar atenção quando você for dar palestras fora daqui", ou coisas do tipo? Inúmeras!!! Por estes dias fui chamado pra colocar uns "pingos nos is" em um trabalho que fiz na época do doutorado, com orientador e um outro irmão acadêmico. Rolou uma reunião no skype, pra qual fui sem a menor vontade (ok, às 7:30am eu nunca teria vontade mesmo que fosse algo que me interessasse... hehe ao menos vi as montanhas de Utah ao fundo). Na hora me deparei com coisas que escrevera há anos atrás, e vi o quão belicoso eu era "-Fulano de tal está errado, e nosso trabalho mostra que eles pisaram na jaca, porque pisaram na jaca, e como pode-se evitar ..." Ou os olhares assustados dos colegas físicos durante as palestras, que morrem de medo das minhas perguntas (os japoneses então, que têm pouca habilidade com público,  ficam super perdidos). Por essas e outras eu consigo perceber quando colocar um freio, parar, e não dizer nada: palavras podem machucar os outros, há de se ter bom senso. Nem tudo que se pensa deve ser dito.

[Estou terminando um outro post meio longo]
[Vou tentar postá-lo antes de viajar na sexta]

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