"Since I had nowhere permanent to stay, I had no interest whatever in keeping treasures, and since I was empty-handed, I had no fear of being robbed on the way"
[Matsuo Bashô , The records of a travel-worn Satchel]
Acabei nem desenhando muito nos dias que fiquei em SF; até voltei antes do que previa. Foi bom, mas acho que precisava de um pouco mais pra me inspirar. De qualquer forma, acabei fazendo alguns desenhos.
Segunda-feira, 5:47 da manhã, e eu caminhava dois blocos em direção ao "official parking lot" da casa branca, que se trata de uns bike racks que ficam em frente a um mercadinho local. Olho de longe antes de atravessar a rua, avisto minha bicicleta; ao lado, uma cartola roxa com os dizeres
Veni
Vedi
Vici
da qual pendiam duas orelhas. Aproximo-me, já com a chave do cadeado da bicicleta na mão. Com o canto do olho observo um coelho dormindo dentro da cartola. O barulho da chave o acorda. Eu, não querendo incomodar, sussuro-quase-digo:
"-..good morning"
Ouço de volta algo.
"... Gooooood moooorning..."
[bocejo espreguiçado]
Perguntei ao coelho oque ele fazia tirando uma soneca ali. Vejo sua bicicleta escorada num poste, solta.
[traduzido]
"-Vim de bicicleta do Wal-mart até aqui. Trabalho lá.".
" -Sério?! O Wal Mart é longe pra cacete!", disse-lhe, estarrecido.
" - É.. parei aqui pra descansar um pouco e continuar a viagem pra casa", disse o coelho.
" - E oque um coelho faz no walmart?!", perguntei estarrecido.
" - Eu sou um coelho que finge ser uma americana loira... aí eu trabalho no caixa".
" ...ahhhh...", exclamei, surpreso, mas sem entender direito.
Subi na minha bicicleta e olhei pra frente. Liguei minhas bike-lights, pus meu capacete.
"- Have a good one", disse o coelho.
"-You too", lhe disse, já pedalando.
Pensava no quanto nadaria ainda, na minha corrida contra mim mesmo. Pensei no que é nadar para chegar mais adiante quando a qestão não se é ir longe, dado que nadar em piscinas é um exercício monótono de idas e voltas.... Lembrei da corrrida de Aquiles e da tartaruga e do paradoxo de Zenão (Zeno, em alguns livros) sobre a qual li no primeiro ano de faculdade; veio à cabeça o abrir do livro e o desenho de um homem apostando corrida com uma tartaruga. A legenda dizia
"...os gregos não entendiam como somas infinitas poderiam convergir."
Lembrei-me então de, por um certo tempo, não conseguir entender o porque daquele "paradoxo" ser realmente um paradoxo, e oque a soma da série infinita trazia à coisa toda dado que era evidente que não se tratava de um paradoxo, mas sim de um grande mal entendido. Me sentia um tanto confuso - pra não dizer um tanto "grego" hahaha - com a confusão dos nossos antepassados. Visualizei na minha cabeça aquele funcionário coelho do walmart apostando corridas com os funcionários lesmas ou tartarugas para ver quem ganhava em eficiência e habilidade pra chegar ao trabalho na hora certa e bater ponto ("to clock in", nos dizeres americanos) e tinha então sua foto estampada na parede como "funcionário do mês".
Nadei pensando um pouco no assunto. E foi só.
ps: indo por um tempo pra outras terras pra curtir tão almejadas e necessárias férias; voltarei em Agosto, quando terei notícias, mais histórias e, espero, alguns desenhos =)
A primeira vez que eu tive contato com as divisões taxonômicas em biologia eu pensei no trabalho hercúleo que aquilo era. Sem falar no aspecto arbitrário que algumas coisas pareciam ter quando a coisa transcendia reino, filo, classe etc e chegava nos finalmente: bicho com nome de jogador de baseball, de popstar, de matemático até!! (mentirinha hihi =) Me lembrava também de um trecho do livro "cem anos de solidão", onde as pessoas de uma cidade começam a esquecer o nome das coisas ( não me lembro se, além do nome, também esqueciam a funcionalidade delas): à partir daí as vacas tinham um nome escrito nelas, a campainha, a janela, as panelas etc... e por aí vai. Vendo mais de longe eu resumiria a situação como: as coisas perdiam o significado por si mesmas e tinham, pois, que ser explicadas.
Recentemente as pessoas começaram a colocar oque se chamam "hashtags" nas coisas.. como se eu escrevesse
Adoro este blog e o rapaz que o escreve é muito fofinho #blogs, # gentebonita, #matematicobrasileirofofinho
Ou poderia também mudar pra
Adoro este blog e o rapaz que o escreve é muito fofinho#blogs, #falsidade, #textoridiculo
Ou seja... o mundo passa a ser menos arbitrário. E não que eu goste de arbitrariedade!!! Muito pelo contrário!!! Logo eu que... whatever hahaha =P Acho boa a idéia de catalogar algumas coisas, palavras, conteúdos, fotos ( como no caso das manifestações recentes no Brasil) mas vir a usar isso em frases? Ow gente... que é isso... cadê o "livre arbítrio"?! hahaha Quem é que vai me impedir de interpretar textos alheios sem que a pessoa que escreveu me apurrinhe com hashtags dizendo oque eu deveria pensar?
Pronto, falei tudo!!!
[Espero que vcs amados leitores consigam ainda dormir em paz depois dessas palavras tão contundentes!! =P ]
De quando em vez você se perde em seus próprios afazeres e esquece do prazer que existe em outras coisas. Nessas horas os amigos salvam a gente: hoje fui resgatado da minha masmorra por um amigo pianista que me convidou para ouví-lo tocar com outros amigos brasileiros só por diversão: "-leitura à primeira vista" me disse ele ( i.e., ler a peça e tocá-la na hora, sem prévio estudo). Fui e, por quase duas horas, fui agraciado com trios de Beethoven, Mendelssohn, Piazzolla etc. O melhor foi poder fazer oque eu acho o melhor de tudo: ouvir música deitado no chão (é... foi um concerto praticamente privado, no qual eu pode até ma dar ao luxo de subir ao palco, ouvir a música estirado no chão do teatro etc).
Poder ouvir a música é ótimo, mas poder sentir o chão vibrando, e você vibrando com os instrumentos, com o cello, com os graves do piano....caramba, isso é incrível. Será que é apócrifa a história de que Beethoven serrou as pernas do seu piano pra que esse, mais próximo do chão, fizesse com que o chão vibrasse mais intensamente e o compositor sentir melhor a "música" ( que ele, já surdo, só ouvia dentro de si)? Não sei... só sei que saí de lá muito bem =)
[O desenho ficou meio estranho por vários motivos]
[..e veja bem que isso não é desculpa!!]
[Desenhei deitado, a caneta era normal, a folha era o verso da minha agenda de tarefas ( nota-se os rabiscos da folha de trás) e por aí vai]
[Essa foi uma das que eles tocaram]
[Adendum: é interessante talvez ir um pouco mais a fundo no que eu pensei/divaguei... com o advento da tecnologia a nossa idéia de que a música começa depois que a gente aperta o "play" é um tanto enganosa. As pequenas e poucas imperfeições, as discussões quanto a se aquilo era um quarteto ou realmente um trio, ou trecho difíceis de serem lidos de primeira- " Inferno!!!" ( exclamou um dos músicos uma hora) valeram o concerto por me trazerem essa natureza da arte que se perde com a determinação de padrões estéticos de apresentação ao público. Pensando em termos matemáticos, eu vejo quanta matemática existe, a quantos "dead ends" se chega, antes de se ter um artigo pronto-polido-saido-do-forno. A ciência, enquanto arte, está tanto no produto final quanto no caminho que se percorreu para que este seja obtido. O mesmo vale quanto à música, acredito... ipsis literis.]
Não sei ao certo como se deu a história toda: estava na sétima série e meu grupo - eu e mais dois colegas- devería procurar sobre o conceito "democracia" no dicionário e tecer comentários sobre como e se as definições lá encontradas concordavam de alguma maneira com o a forma como eram empregadas.
Chegamos na sala, e lemos a definição que havíamos encontrado: [vou fingir aqui que era a do Wikipedia, por que não tenho dicionário de português aqui]
"Democracia("demo+kratos") é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode existir num sistemapresidencialista, parlamentarista,monárquico constitucionalerepublicano.As Democracias podem ser divididas em diferentes tipos, baseado em um número de distinções. A distinção mais importante acontece entredemocracia direta(algumas vezes chamada "democracia pura"), quando o povo expressa a sua vontade por voto direto em cada assunto particular, e ademocracia representativa(algumas vezes chamada "democracia indireta"), quando o povo expressa sua vontade por meio da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram."
e concluímos que sim: o Brasil era um exemplo de democracia.
O professor olhou pra nossa cara - estarrecidíssimo - e perguntou ( nítidamente puto), certificando-se do que acabara de ouvir:
"-Como? "
Demorei mais uns dois anos pra entender aquela reação e o discurso que ele fez na sequência.
Em tempos como os de agora, em que o Brasil anda buscando "algo", deixo uma música de cunho político e que fala da surdez dos governantes e daqueles que tomam conta do poder (acho que o contexto em que foi feita era o de uma guerra: Vietnã, Iraque, não sei). É uma versão da qual gosto muito e que, embora não seja minha favorita , talvez seja do agrado do público jovem-ma non-troppo que visita o site.
[A idéia desse show foi muito boa:]
[ os caras gravaram um monte de músicas com intrumentos de brinquedo...]
Cannibalism (from Caníbales, the Spanish name for the Carib people, a West Indies tribe formerly well known for their practice of cannibalism): the act or practice of eating the flesh or internal organs of other beings of same kind. It is also called anthropophagy. A being who practices cannibalism is called a cannibal.
[An extremely rare picture of a small pac-man that was eaten by another pac-man]
But upon more mature reflection the position held by hypothesis was seen; it was recognised that it is as necessary to the experimenter as it is to the mathematician. And then the doubt arose if all these constructions are built on solid foundations. The conclusion was drawn that a breath would bring them to the ground. This sceptical attitude does not escape the charge of superficiality. To doubt everything or to believe everything are two equally convenient solutions; both dispense with the necessity of reflection."
[Henri Poincaré, do livro Science and Hypothesis ]
Por estes dias eu vi a foto de uma criança "hipnotizada", assistindo desenho. Não pude deixar de lembrar de mim mesmo, quando criança.
[vou colocar um desenho aqui...]
[...por nostalgia]
[versão brasileira mesmo...]
=)
[As pessoas gritando na catarata é psicodelia pura!!]
[hahaha]
Não fui uma criança muito dada à ciência, acho.... era e não era, talvez... não sei. Dentro das minhas limitaçções, no entanto, há alguns "causos" curiosos. A começar por este, sobre a tv lá de casa. Sem sombra de dúvidas, assistir desenhos era o grande entretenimento meu e da minha irmã; passavamos a manhã fazendo isso: ligávamos nos desenhos do sbt e depois migrávamos pro show da xuxa na globo e por aí vai...até chegar a hora de ir pra escola. Nessa época a tv lá de casa era muuuuuito antiga; uma tv de seletor, sabe?
[Engraçado imaginar isso hoje em dia, por que a tv mais me parece um forninho do que com uma tv mesmo haha]
Naquela época eu era muito pequeno e acreditava que todos aqueles bonecos que eu via nos desenhos moravam dentro da minha televisão, embora, lembro bem das minha indagações, eu nunca conseguira formular uma resposta satisfatória pra como eles, em sendo tantos, cabiam lá; tentava pensar no problema e "equacioná-lo", mas a contastação da existência desse paraíso dos brinquedos pra mim apagava todos esses receios lógico-científicos da minha mente. E claro, eu manifestava minha crença nisso de várias maneiras; uma das quais consistia em ficar beijando a televisão quando a xuxa ou a she-ra apareciam, sob os gritos desesperados da minha irmã
"- Ôôõõ mãããããããã.... o Rafael está beijando a televisão e não me deixa assistir o desenho."
E claro, como você bem pode imaginar, diante dessa intuição/crença, não me faltava vontade de abrir a televisão pra tirar todos aqueles brinquedos de lá e adicioná-los à minha pequena coleção ( que consitia, basicamente, em um boneco do He-man e mais uns outros).
Minha mãe, sábia que era, não confiava muito em mim. Pra tirar meu plano do papel - metafóricamente, claro, por que eu nem sabia escrever nessa época- eu precisava de tempo apenas, já que eu sabia onde as ferramentas do meu pai estavam ( adorava brincar com elas.... apesar de que, no geral, eu as utilizava com fins não muito ortodoxos, como martelar a parede ou desparafusar as tomadas ).
Pois bem: precisava de tempo e de oportunidade. E um dias os dois me vieram.
Numa bela manhã minha mãe saiu de casa e me deixou assistindo desenho...isso é, deixou a televisão tomando conta de mim haha =P Não sabia muito bem quanto tempo ela demoraria, mas mesmo assim pensei em colocar o meu plano em prática. Claro, caxias que eu era, assisti a sessão de desenhos até o fim antes!! Assim que acabou eu corri pra pegar a chave de fenda.
Voltei pra sala pra botar o plano em prática. Desliguei a tv.
Pra vocês terem uma idéia da situação, eu era muito pequeno: nem conseguia sentar no sofá e alcançar os pés no chão. E você já devem ter imaginado: a tv-forninho era um elefante(!!): a parte de trás dela era enoooorme e no móvel onde ela estava estava ela ficava quase na altura do meu tórax.
Claro, nada disso foi suficiente para me dissuadir da minha meta ( ainda mais por que nenhuma dessas coisas passou pela minha cabeça!! hahaha ). Me aproximei do móvel e comecei a virar a tv pra encontrar os parafusos, que ficavam na parte de trás dela. O grande problema era que a tv encaixava quase que sem muita folga no móvel - uma estante. Não conseguiria virar a tv muito sem tirar uma parte significativa dela do móvel antes.
A cena então era essa: eu, pequeno, virando a tv-forninho gigante no móvel e segurando a outra parte com meus dois braços, aflito e tenso, olhando pra porta da sala caso minha mãe voltasse. Como vc pode imaginar, minha mãe chegou justamente no meio desse processo, enquanto eu segurava metade da tv pra fora do móvel. A primeira coisa que eu me lembro de quando ela chegou foi ela ter dito meu nome.
[Acho que ela fazia isso por costume...]
[... pra querer saber onde eu estava e se não "estava fazendo arte", em termos maternos rsrs]
A simples visão dela me fez entrar em desespero e tentar desfazer toda essa manobra o mais rápido possível. Não consegui....e a tv caiu no meu pé direito. De certa maneira, foi bom ter acontecido isso, pois não sobrou tempo algum pra minha mãe me dar bronca, já que ela teve que correr pra me levar pro hospital. =)