Uma mudança seria somente o deslocamento de móveis de uma residência localizada na rua A para outra na rua B não fosse ela causada pelo fim de um relacionamento.
Nadar por aqueles papéis picados, recibos, aquela garrafa de vinho nunca aberta ou aquele pacote da lembrancinha que vocês receberam num jantar de amigos da outra pessoa… lidar com cada uma dessas coisas é um doloroso processo que te faz se sentir um arqueólogo escavando um passado antigo e distante do que um dia já foi a vida a dois de um casal.
Aos poucos o passado parece ir sumindo de vista e indo parar no seu lugar, quer você aceite ou não: este vai pro saco preto, este pro azul. Sim, porque mesmo doendo se recicla (talvez seja a moral da estória rsrs).
Reciclar e ressignificar… será que é esse o caminho? Não sei, não encontrei um ainda. Ao menos não um firme o bastante pra poder fincar o pé. Sentir que o que se tem nas mãos é matéria que um dia fez sentido e agora já não é “nada”… areia que te escorre pelos dedos quanto mais você a aperta. E não adianta o quão forte você faz isso: quanto mais energia, mais rapidamente ela se esvai. A dor, por outro lado, pulsa: uma hora vem, uma hora se aplaca, noutra você se vê pensativo e chorando enquanto come sopa, noutra você se vê rindo diante de uma criança que te manda beijinhos no metrô.
Às vezes me parece indiferente me mudar se, no fim das contas, meu coração parece estagnado sem saber muito bem pra onde ir. Há duas semanas me parecia que tinha virado a página e aceitado. Aquele quadro vazio na parede mudou tudo. Foi a realidade batendo na porta? Difícil imaginar como conseguimos extrair sentimentos tão ambivalentes de coisas e pessoas. Como é possível sentirmos falta de algo que pode ao mesmo tempo nos fazer bem e mal? Como se pode amar alguém e ter receio de ficar perto daquela pessoa? É medo de doer, medo de ser rejeitado? Medo da falha que poderia vir (e veio)? A dor ainda pulsa, as dúvidas aparecem, brotam, crescem, evaporam mas estão sempre presentes. Mas não duvidas que elucidem algo (culpados, motivos), mas sim dúvidas existenciais: quem é você daqui em diante? E o Brasil, ainda faz sentido? Tanta questão, tanta mudança, tanta incerteza… melhor não rasgar esse recibo ainda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário