domingo, 5 de junho de 2022

1 dias entre o oriente e o ocidente: primavera japonesa com um toque francês

Ontem encontrei H de novo. Jantamos, rimos um monte. Pedi desculpas por ter sido um idiota que não conseguiu dar a ela oque ela precisava (patterns!!??) Aí o namorado dela começou a ligar e ligar… queria que nos encontrássemos com ele e outros amigos dela. “-Rafa, você quer vir também? Só fico com receio… ele é meio difícil às vezes.” Aí meu alerta acendeu: adoro encontrar pessoas  difíceis e observá-las… assim, lá fui eu hee hee :)

Dessa vez ele foi mais doce: conversamos mais. Ele pareceu se abrir, queria saber mais de mim. Ela super emburrada com ele “-ele é meio grosso… francês demais às vezes… não são um povo simpático que nem vocês”…. “-Te entendo… brasileiro é meio besta… a gente ri à toa, sem ter motivo algum pra rir”… 

Caminhei por Shibuya e Shinjuku à noite. Que loucura, cidade que não pára! Viro pra H no meio do trajeto e pergunto: “-por que será que várias das minhas ex ou antigos relacionamentos acabam nas mãos de franceses?" Ela não sabia responder… Pelo menos dessa vez consegui conhecê-lo melhor: vi que ele é um cara legal e que gosta dela. Conversamos um monte, ele super interessado em saber sobre oque faço e como vejo as coisas; eu, igualmente interessado em ouvir as estórias dele (o cara veio pro Japão da França… de carro!). Sem falar que ambos foram maduros e respeitosos comigo: isso diz muito à respeito de uma pessoa. Fico feliz e tranquilo em sabê-la com um cara comedido, alguém que teria como amigo. 

[ね?!… Acho que isso já diz tudo :)]

Doeu-doei meu ukulele pra um casal de amigos de okinawa-yamagata. Foi presente da minha ex, mas não tinha como levá-lo ao Brasil. Ao menos o deixei em boas mãos, gente que há de usá-lo e tocá-lo bastante; não poderia ter melhores donos. Saber abrir mão e ser grato a tudo de bom que me trouxe… mas saber jogar no mar, diminuir o peso do barco e seguir adiante… talvez ela entenderia (acho que não...fazer oque).

Hokusai me desapontou…até pensei em comprar uma xilo da grande onda de Kanagawa, mas… melhor desapegar: meu tempo no Japão acabou, não tenho como levar mais nada daqui. 

Ontem me chega uma mensagem “surpresa” que me deixou feliz. Olho a minha mensagem anterior…. que embaraçoso… por que fui enviar isso?! Fiquei sem graça… deveria ter tido um pouco mais de compaixão… qualquer pessoa insegura faria isso… ao mesmo tempo, tenho compaixão por mim tbm… qualquer pessoa assustada faria o mesmo… Respondi feliz e surpreso: adoro surpresas e gente que toma a iniciativa (sem ser impulsivo, claro!).

Sigo pras últimas visitas. Daqui a pouco mais tchaus… os amigos japoneses me perguntam sobre o Brasil, sem a condescendência com que europeus ou americanos perguntam… curioso, como a ideia do América first ou Europa berço da civilização traz danos a qualquer interação… porque será que brasileiros e japoneses conseguem ser tão próximos?!?!

Dou um grande abraço no amigo brasileiro e em sua familia. Escalador e parceiro de muitas vias, ele me dá um carabiner de aço: "-Um pra cada amigo mais chegado!". Peso da porra… não sei se rio ou choro: peso… mais peso… seria melhor ter me dado uma bigorna... ainda assim, adoro.

Volto pra Tokyo. Tarde no parque. Vamos ver no que vai dar… depois tenho que arrumar as malas. Correria, amanhã é um grande dia. Pareço querer absorver a cidade inteira pelos poros do meu corpo, abraçar tudo… esse país vai me deixar saudades, de alguma maneira…. e de todas as maneiras possíveis…tudo meio scrambled dentro de mim, como na Shibuya crossing: uma ordem desordenada… saudade desde já que te pega por todos os lados e não se sabe de onde vem...

[Me lembrei agora que em inglês se diz “shibuya scramble square” pro cruzamento mais famoso do país…. nao poderia ter melhor nome.]

O dia termina, jantar num restaurante… caminho até uma jidohanbaiki (umas dessas máquinas automáticas de venda de bebidas)…bem devagar, como num ritual, tiro meu tênis já furado e pedindo pra não viajar e os deixo aos pés da máquina: “- que algum morador de rua te encontre e te faça feliz por essas ruas”. Caminho pro Airbnb descalço… como há anos atrás, em Paraty… penso na semelhança-diferença… na areia da praia que hoje vira asfalto japonês…mas hoje, eu sozinho… e daqui em diante… caminho calmo… torço para regressar assim, em serenidade… mas talvez um pouquinho desajuizado 😬

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