quinta-feira, 21 de abril de 2022

Entre braçadas

Sabe, eu nunca fi um esportista. Nunca fui o cara que jogava bola pra caramba, ou corria mais rápido que todos nem nada. Eu estava sempre na média ou um pouquinho acima dela. De qualquer maneira, há alguns anos que exercícios fazem parte da minha vida.

Por muitos anos eu sempre os tive como uma necessidade que "tem que estar ali para poder conter minha ansiedade". Ao menos era assim, por exemplo, que via a natação: uma dependência quase, que se tirasse da minha vida não sabia oque viria a acontecer. Calhou, no entanto, de já ter ido por meses sem nadar e ... "nada" (perdão o trocadilho infâme e "nada" ...[oh gosh]...poético): fiquei bem e sobrevivi inteiro.

Aí eu penso... então pra que? Pra que me submeto a essa dor?

Vim a saber há algum tempo que algumas pessoas, não de maneira científica, categorizam o prazer em tipo 1, tipo 2 (o que, de fato, desencadeou pesquisas sobre o tema). No primeiro ficam as coisas super simples como comer um sorvete, enquanto o segundo envolve nadar, trabalhar num projeto interessante, escalar etc. Ao que parece, existe uma escala - diria até um trade-off - entre a dificuldade e o prazer: quando se faz algo muito trivial, não sentimos prazer. Assim como também não extraimos prazer de coisas muito difíceis, mesmo que gostemos delas. Agora, quando tocamos em algo um pouco mais difícil e que demanda da gente cognitivamente, acabamos num processo indutor de flow, que seria como um estado em que nos sentimos sublimes e nal vemos o tempo passar.

Honestamente, não sei se nadar - nem escalar, me leva a esse estado de flow. No entanto, sempre que nado tiro grandes paralelos "quase-filosóficos" com outros aspectos da minha vida. Como o fato de que cada braçada ser oque me separa da minha meta, e de que, no fundo, nadar é só uma "concatenação complexa" de coisas simples. Assim como matemática, ou escalada. 

De certa forma, me vejo um pouco em tudo oque faço. (Ou, vai ver/quem sabe, tudo oque faço me limita e restringe minha visão de mundo?) Em todo caso, toda vez que nado me deparo com essas mesmas dificuldades que imploram por ser resolvidas e, diferentemente de uma teoria que um dia se compreende, ou uma idéia que um dia se domina, sempre acabo desafiado pelas mesmas dificuldades e repetições. É claro que se aprende, que se melhora, que se treina para melhorar perfomances. No entanto, ao menos na parte psicológica, todos esses esportes acabam sendo um pouco daquilo que Pessoa fala quando nunca se entra no mesmo rio duas vezes: as complexidades desses esportes sempre me são as mesmas, mas são sempre encaras como se as visse pela primeira vez.

É gostoso também sentir onde está a fronteira dos nossos limites: até ali o corpo aguenta, depois disso me machucaria. É um eterno estado de auto-consciência que nos pune quando não somos humildes o bastante para admitir que excedemos. 

Mas... aonde eu quero chegar com isso? Acho que a lugar nenhum rsrsrs Vai ver escrever também é um prazer tipo 1.5, que me leva a algo que se parece flow mas que termina em verborragia e posts sem começo, meio, ou fim.

Pronto. Parei.

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