quarta-feira, 27 de abril de 2022

Direto da Terra do Sol Nascente #130: dormindo ciúmes, acordando saudades (noite #3)

 Ontem, no meio da noite, achei que a batalha do dia estava vencida: braços cansados de tantas braçadas, cabeça sob o pescoço depois de meditar, ainda cheio de suspiro, fui pro meu closet-cama (longa estória, conto outra hora) e.... 

... me vem uma sensação bizarra dentro do peito... "cacete.... "

... curiosamente, no meio da tarde havia passado na minha playlist "to lift me up", havia passado uma música que a Elza Soares canta. O ciúmes ardendo ao sol do fim do dia... até pulei... mas não escapei...

Uma amiga psicóloga me falou há uns dias "Rafaello, será que não é ego?".. Imediatamente disse a ela que havia cogitado essa hipótese, mas que não acredito ser o caso... Por que não se trata de mim: não acho nada do que está rolando uma afronta a mim, ou algo que me diminua ou diminua oque vivemos... é sobre ela, sobre o quão especial ela e a conexão com ela foram/são. 

O ciúmes bateu, e tentei sentar com ele e ver do que se tratava: ciúmes de corpo? De contato? Em menor grau, pode ser... mas, honestamente, todo mundo faz isso (outra música da Elza, que não pulei... na verdade, do Cole Porter).. isso é de menos. Corpo, contato, mecanicidades, isso até é vendido por aí (e muita gente paga)... agora, o carinho, o cuidado, as risadas, as sacadas geniais, o sorriso, o mel, a inteligência de me apontar para aquilo que não vira até então, a doçura na forma de me corrigir, a maneira incisiva de me dar broncas e - ainda assim - ser fofa ... mas, talvez acima de tudo, aquela capacidade única de me desarmar diante de mim mesmo, de me fazer rir do que penso e faço ou acredito, de me fazer mudar debaixo de sol, ou imerso em sombras.. putz... Virando na cama, percebo então que o ciúmes não vem de um outro cuja existência ignoro e para qual não ligo: é, na verdade, saudades... saudades dessa construção-monumento cujas paredes caem a olhos vistos, sem que eu possa fazer nada senão continuar acreditando que não há de colapsar.

....afff... escrevo isso e penso nesses "eventos de probabilidade zero", essa "sorte-azar" que permeia tudo de bom que a vida nos mostra.... suspiro... 

Levou um tempo. Dormi. Acordei envolto em saudades... desses detalhes, de uma notinha deixada na caixa de remédios daqui de casa, de uma piada que insiste em vir à cabeça e me fazer rir enquanto ando na rua... como pode, algo tão leve se transformar em dias tão ... suspiro.... melhor começar meu dia.

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