domingo, 5 de abril de 2020

A hora de parar, e a hora de melhorar

Por estes dias uma amiga que mora com o namorado em Portugal me falava dos infortúnios de se escrever uma tese de doutorado. Não sabia muito oque dizer, mas no tempo que tive pra pensar (já que a conversa se passou por mensagens de áudio no whatsapp, ou seja, como mensagens jogada ao mar em garrafas), disse a ela o seguinte: 

"-Escrever pode ser cansativo, leva tempo, demanda paciência. Mas você vai poupar muitos esforços se você souber parar na hora em que você não estiver mais melhorando oque escreveu, e sim reescrevendo a mesma coisa, só que com outras palavras"

Acho que fez tanto sentido que tomei isso como um mantra próprio: saber parar quando não se há mais nada a dizer, ou para melhorar. E isso não vale só pra escritas, mas tambémem contextos como discussões, onde se deve reconhecer que o outro precisa de um tempo para processar uma conversa, ou onde insitistir em obter um "você está certo(a)" pode ser mais prejudicial à relação do que qualquer coisa. Saber parar e respeitar o tempo das coisas é um grande virtude. Que, devo frisar, estou longe de possuior em abundância, mas que certamente guia minhas relações com as pessoas e comigo mesmo.

Hoje, no entanto, comecei a pensar numa outra questão que, embora tangencial, é próxima: quando é que você melhora algo? 

Deixa eu esclarecer o contexto: você tem um time ganhando, tudo funciona, tudo corre bem. Mas você sabe que pode fazer ainda melhor (mas que há de levar um tempo, e um certo esforço). Em outras palavras: melhorar, "otimizar", tem um custo. E então? Por que melhorar nesse caso?

Fiquei me perguntando, e buscando exemplos que já vivi. Há umas 3 semanas, por exemplo, eu coloquei um programa pra rodar num supercomputador e, mesmo com toda a matemática do mundo, o negócio levaria dias pra ficar pronto. O programa estava lá, correto, mas eu me desesperava em vê-lo demorando tanto pra me dar oque eu queria (o resultado). Aí parei, pensei um pouco, e vi que poderia diminuir o tempo de espera caso mudasse algumas coisas que, infelizmente, me tomariam tempo de reescrever tudo oque havia feito. 

Sim, lá fui eu me degladiar com a tarefa.... que, ao final de dois longos dias, foi coroada com o mesmo problema rodando no mesmo supercomputador e me dando a resposta em 10 minutos.

Simples? Lição pra vida? Rafaello, fazendo discursos motivacionais em universidades e feiras de carreira com palavras chave "otimize!", "melhore seus ganhos"?

Nope... não sei... e olha: tudo isso que estou escrevendo aqui me passou pela cabeça em 5 minutos, enquanto me questionava se devo ou não melhorar um outro problema cujo resultado me é dado com certa "dor" (o que se traduz aqui em tempo: coisa de umas horas num supercomputador rodando com uns 40-50 cores), mas pelo qual posso esperar. E nesse contexto: meu discurso "motivacional" é totalmente diferente aqui.... não rola. É outra coisa, é outro problema, um "quase-diferente" contexto... e não sei: quero sentar e melhorar, adoraria ver a coisa toda numa forma mais limpa e clara.... mas não sei....

Olha... já adianto: virou um post sobre a poesia de se programar rsrs Mas vamos lá: juntem-se comigo (dois metros de distância, por favor... corona tá complicado) e vamos adiante nor perder em ifs,  whiles e breaks.... há uma poesia intrínseca por trás de cada algoritmo porque há (em geral) um humano que o fez. 

Logo que voltei da minha viagem pra América este ano, me vi diante de um código/programa monstruoso de umas 1000 linhas (isso é realmente bastante, acredite). Cheio de energia das férias, de tanto papaya na américa do sul e do carinhos de muita gente que amo na mala, resolvi encará-lo e.... depois de uma semana ele se reduziu a 600 linhas: mais rápido, mais esbelto, perfumado, e com dinheiro no banco. Sim: era o melhor dos sonhos. Só que agora é este mesmo ser que eu questiono se deve ser ainda mais "mimado" pra chegar mais longe.... 

.... será que você merece tanto do meu tempo assim?

Nenhum comentário: