domingo, 22 de junho de 2025

Licking my wounds #4 - It ain't me, babe

Go away from my window
Leave at your own chosen speed
I'm not the one you want, babe
I'm not the one you need
You say you're looking for someone
Who's never weak but always strong
To protect you and defend you
Whether you are right or wrong
Someone to open each and every door

But it ain't me, babe
No, no, no, it ain't me, babe
It ain't me you're looking for, babe

Bob Dylan, It ain't me, babe 

   

 

Parte do processo de "cicatrização" ao fim de um romance passa pela aceitação de que aquilo que se tinha não existe mais, de que não era pra ser ela, de que não era pra ser você. O luto pelo que se perdeu. Não sei muito bem como caracterizar isso, mas sei que minha cabeça fica esquisita nesses dias: um misto de solidão com uma sensação estranha, como se um balão esmagasse teu cérebro, não te deixando pensar direito.

 

Com a aceitação vem também várias coisas: a certeza de que não era pra ser, a certeza de que poderia ter sido, a certeza de que você está se contradizendo em diversas coisas que elabora, teorias sem pé nem cabeça para justificar algo sobre o qual não se tem controle nenhum: a vontade do outro. Acabou. C'est fini. Foi. Vaza. 

 

E assim tudo se desenrolou. Tem um mês e 4 dias já. Quanta coisa mudou de lá pra cá. Por dentro, ainda aquela saudade, dividida dentro de você com as dúvidas, com a sensação de injustiça, com a sensação de que havia um impeditivo mais profundo a tudo aquilo que gostaria de ter feito... estrutural: não há como mudar certas coisas ou pessoas. Você tenta ser paciente e aceitar... mas ainda é difícil.

 

 

sábado, 21 de junho de 2025

Licking my wounds #3

Hoje era pra ela ter estado lá, junto, ouvindo música junto e segurando minha mão: quentinha, me protegendo do ar condicionado. Às vezes ela faz falta e só pareço fazer sentido do término quando conto pra alguém como era. A razão escorre pelas palavras e justifica este como o melhor caminho. Por dentro… fica a lembrança da risada, das piadas, dos momentos de calma (que também existiam)…

Nesta semana a mudança de casa finalmente se fez. Ainda me é estranho imaginar uma casa só minha, algo que nem de perto imaginaria. Ainda fico com aquela sensação dela voltando pra casa, o final do dia, o acolhimento, as conversas… é uma lembrança tão misturada de sentimentos - bons e desconfortáveis- que nem tudo ainda faz sentido. Como fragmentos que se esforçam pra se juntar numa figura única, o passado ainda não me dá uma visão clara do que foi, nem daquilo que sinto agora, esse misto de alívio com saudade.

domingo, 15 de junho de 2025

Licking my wounds #2

 Uma mudança seria somente o deslocamento de móveis de uma residência localizada na rua A para outra na rua B não fosse ela causada pelo fim de um relacionamento.

Nadar por aqueles papéis picados, recibos, aquela garrafa de vinho nunca aberta ou aquele pacote da lembrancinha que vocês receberam num jantar de amigos da outra pessoa… lidar com cada uma dessas coisas é um doloroso processo que te faz se sentir um arqueólogo escavando um passado antigo e distante do que um dia já foi a vida a dois de um casal.

Aos poucos o passado parece ir sumindo de vista e indo parar no seu lugar, quer você aceite ou não: este vai pro saco preto, este pro azul. Sim, porque mesmo doendo se recicla (talvez seja a moral da estória rsrs).

Reciclar e ressignificar… será que é esse o caminho? Não sei, não encontrei um ainda. Ao menos não um firme o bastante pra poder fincar o pé. Sentir que o que se tem nas mãos é matéria que um dia fez sentido e agora já não é “nada”… areia que te escorre pelos dedos quanto mais você a aperta. E não adianta o quão forte você faz isso: quanto mais energia, mais rapidamente ela se esvai. A dor, por outro lado, pulsa: uma hora vem, uma hora se aplaca, noutra você se vê pensativo e chorando enquanto come sopa, noutra você se vê rindo diante de uma criança que te manda beijinhos no metrô.

Às vezes me parece indiferente me mudar se, no fim das contas, meu coração parece estagnado sem saber muito bem pra onde ir. Há duas semanas me parecia que tinha virado a página e aceitado. Aquele quadro vazio na parede mudou tudo. Foi a realidade batendo na porta? Difícil imaginar como conseguimos extrair sentimentos tão ambivalentes de coisas e pessoas. Como é possível sentirmos falta de algo que pode ao mesmo tempo nos fazer bem e mal? Como se pode amar alguém e ter receio de ficar perto daquela pessoa? É medo de doer, medo de ser rejeitado? Medo da falha que poderia vir (e veio)? A dor ainda pulsa, as dúvidas aparecem, brotam, crescem, evaporam mas estão sempre presentes. Mas não duvidas que elucidem algo (culpados, motivos), mas sim dúvidas existenciais: quem é você daqui em diante? E o Brasil, ainda faz sentido? Tanta questão, tanta mudança, tanta incerteza… melhor não rasgar esse recibo ainda.


sábado, 14 de junho de 2025

Licking my wounds

Acho que não tem expressão melhor que defina o momento: em silêncio, por mim mesmo, lambendo minhas feridas após uma era longa de muito esforço para que as coisas seguissem adiante. Como um cachorro ferido depois de um ataque, cujos únicos recursos são totalmente inapropriados mas um pequeno alívio diante de tanta dor: saliva e língua.

 Nunca acreditei em paz 100% do tempo, mas em face de qualquer dificuldade com alguém o que mais almejo são duas pessoas trabalhando em harmonia para resolver a questão. Claro, há dificuldades grandes, mas nem todas precisam ser um abismo. E o que fazer quando muitas são, mesmo as diminutas?

Diante de tantas mudanças, a crueldade injusta da influenza me prende em casa com as caixas que se empilham no corredor da cozinha pra sala como um corredor polonês de fatos de uma vida passada a dois que você quer que, por um segundo, não doa. Ontem, estava em casa fechando caixas, empacotando os quadros com plástico bolha... e pensando onde estava o erro.. onde havíamos falhado (?).. a casa aos poucos desaparecendo sob meus pés, as paredes com as marcas dos quadros que ali estavam e que se foram, as memórias impregnadas em todos os cantos, o espelho que ainda guarda o reflexo de tantas noites... uma música do Stevie Wonder fisgou aquele exato momento no headphone.... eu, puxava mais pedaço de fita, cortava, prendia, puxava mais plástico bolha, ouvia... caia uma lágrima, caia outra...

Nunca havia parado pra pensar que a letra não lamenta exatamente o amor-pessoa, mas também o amor-sentimento que se foi e a pessoa não sabia mais onde o encontrar. A partir daí perde-se incessantemente num labirinto em busca de explicações e possíveis culpados, um alívio, algo razoável que indique como tudo o que foi no começo deteriorou ao ponto final... as frases mais banais tem vem à memória - o deslocamento do trabalho pra casa, o alho que esqueceram de comprar na feira, as flores, as árvores.... E, no fim, não adianta.  Toda "lógica" de responsabilização cai por terra e teus sentimentos apontam o dedo pra outro culpado: você mesmo.

É embaraçoso olhar pra trás e sentir os momentos em que se foi injusto... e intercalar isso tudo com os momentos em que você pareceu tentar-tentar-tentar e nada, nada do que tentava parecia ser recebido positivamente. "- Cara.... é uma pessoa super legal e você realmente deve gostar demais dela, mas o preço que você está pagando por isso é muito, muito grande", disse um amigo. Será que esse vazio então é ausência da pessoa ou ego ferido? Talvez o tempo vá exacerbar minha sensação de culpa, mas espero, isso sim, que me redima dizendo que eu fui, tentei, mas esmoreci em ânimo diante das dificuldades. Nem toda montanha é pra ser escalada, às vezes devemos ser humildes e simplesmente voltar pra trás inteiros, íntegros. 

Mas dói. E está doendo ainda. Porque não deixei de gostar, mas deixei de acreditar em algo.... Que o outro lado estava aberto a ceder, a deixar ressentimentos antigos pra trás ou segurar na minha mão pra que juntos pudéssemos discutí-los, dividí-los e reduzirmos todos eles a nada, que é o que eram(?). O que impediu chegarmos a isso: por que nunca perguntei? Por que nunca insisti? Será que não? Dúvidas, perguntas, angústias.... nem mais sei, e nem faria tanta diferença saber, acho...

Vai ver era só incompatibilidade mesmo... ou talvez não haja por onde procurar culpados: simplesmente não era pra ser (?). Quando passar esse luto a gente pára e reflete tudo de novo pra fazer sentido das coisas. 

Se bem que, me parece que o único ser soberano que pode fazer sentido das coisas é o tempo.

 

sábado, 7 de junho de 2025

Trocando em miudos

"Mas fico com o disco do Pixinguiha sim... o resto é teu."
Chico Buarque, "Trocando em miúdos.
 
Voltei hoje, cheguei de viagem. Dias longe, que me pareceram um refúgio momentâneo diante de tantas mudanças. 
 
No caminho de volta a piada do motorista: "caramba... sagitariano com ascendente em aquário!". Confrontado pelo meu porquê, ouço "você vai ter um milhão de problemas pra se relacionar". Dito logo pra mim, discrente, cientificamente ouvindo tudo aquilo e não acreditando em nada, mas vendo o quanto fazia sentido "..porque você é uma alma livre, independente.." bla bla bla... parecia minha ex falando.. uma dissonância cognitiva gigantesca: o cérebro diz que não faz sentido, já os fatos recentes...
 
Será que foi isso que encheu a tarde de nuvens? Cheguei em casa... a marca do quadro que sumiu da parede, as caixas jogadas pelo chão da sala, a geladeira vazia me lembram de que tudo isso é presente, mas já é passado. Olho pra cozinha em silêncio, a porta da sala que não vai abrir para mais alguém chegando em casa... imagino que ela esteve aqui há quanto.... um dia? hoje cedo? ontem?!  Diante dos olhos me passa um filme no qual vejo tudo o que poderia ter sido, o que não foi, o que tentei, os sorrisos, as brigas, as possibilidades frustradas, as risadas, os pés quentinhos no inverno, as discussões por coisas diminutas. 
 
Me deparei com algumas fotos no celular; não deixo de observar um sorriso aqui, outro ali... me pergunto quando foi que realmente deixamos de sorrir um pro outro. 
 
Não apaguei nenhuma ainda, mas acho que deveria.


segunda-feira, 3 de junho de 2024

Areias do tempo

Há tempos não relato nada neste blog. Talvez seja porque os dias se sucedem como se fossem os mesmos? Ou os acontecimentos ao meu redor, que acontecem mas não capturam minha atenção? Será que ainda sei escrever? Me espressar, dizer o que sinto, narrar o que vejo e se passa?


Me é estranho ainda estar no Brasil. Minto. Um tipo diferente de... digamos, uma "estranheza familiar", se é que isso faz sentido. A parte que não me é estranha, mas sim nova, é lidar com sentimentos com os quais antes havia tido pouco  contato: ver a ação do tempo nas pessoas que amamos, reencontrar os parentes mais velhos e sentir a vitalidade se esvaindo deles bem aos poucos, como uma ampulheta que marca o tempo passando... grão em cima de grão, de maneira irreversível. 

Não deve ter nem uma semana que o pai de uma amiga próxima faleceu. Mal temos conseguido nos falar desde então: ela me diz que sente um vazio enorme por dentro, que não consegue sentir que tem algo interessante dentro de si pra trocar com o mundo. 

Até aqui não aconteceu, mas fico me perguntando o que vai ser quando alguém muito próximo a mim se for. A dor que ela relata, curiosamente, me parece uma dor minha, embora me esforce para não sofrer por antecipação, viver as coisas no seu devido tempo. Mas é difícil: a cada encontro com os pais, perceber uma nova dificuldade que aparece quando eles se locomovem, uma palavra que passou a ser difícil de ser pronunciada, ou outras palavras esquecidas e que fogem à memória.

Não adianta muito evitar, tentarmos nos esconder: o tempo chega, não adianta ficar dando bronca tentando fazer com que comam bem, ou que exercitem a memória fazendo sudoku. Nos resta aceitar que o tempo vai consumindo tudo, aos poucos, como uma areia leve que vai tomando casas de uma praia e as tornando de volta em duna. 

Dizem no budismo que a maior fonte do nosso sofrimento é nossa incapacidade de aceitarmos as coisas como são, o nosso apego às coisas, sem levarmos em conta que estas perecem. Reflexão e aprendizado... longo caminho.

 

domingo, 15 de outubro de 2023

A grama mais verde... que não é assim lá tão verde

 -Tem um monte de pão no congelador, viu? - eu disse, numa tentativa de dissuadí-la de comprar pães. Ainda assim, ela saiu da fila do caixa e falou alto:

"-Quem disse que é pra você? Vou levar pros meus pais."

"-Nossa...que ríspida!", retruquei, num tom de piada para não causar briga.

O rapaz à minha frente, testemunhando o diálogo, resolveu participar e me disse:

"-Eu virei gay justamente achando que isso deixaria de acontecer mas não: ainda é tudo igual"

"-Sério? Não adianta eu virar gay então pra me livrar dessas agressões diminutas mas constantes?"

"-Não... não adianta."

Uma lágrima cai dos meus olhos... esse mundo está perdido.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Um ano nos trópicos

É, pessoal... um ano nos trópicos. Um aninho desde que pisei novamente nessa terra.

Muita, mas muita coisa mudou desde então: profissionalmente, pessoalmente, em várias esferas. Difícil dizer se houve progresso, mas certamente eu mudei. 

Algumas notas e observações inesperadas:
  • Me surpreende que ao estar mais perto de algumas pessoas eu acabaria por falar menos com elas.
  • Lidar com família tem sido mais fácil do que imaginava. Lidar com amigos também.
  • Como um lado oposto de uma moeda - Brasil versus Japão - hoje meus dias de semana têm menos gente, enquanto finais de semana são mais cheios. 
  • Eu já imaginava que curtia trabalhar com mais pessoas e/ou em times. Aqui isso ficou ainda mais evidente. 
  • Talvez por conta disso meu apreço pelo silêncio e tempo sozinho ficou ainda maior.
  • Sim, acho que tenho alguma forma de hyperacusis.
  • Descobri que engenheiros dominam o mundo. Matemáticos que querem ser ouvidos devem fazer amizades com eles. 
  • Morar no Brasil é muito mais gostoso e fácil do que imaginava. Tem uma riqueza e simplicidade que não existe em outros lugares em que vivi. Talvez o único lugar que conheço que tenha isso - mas de uma outra forma, totalmente diferente - seja o Japão.  
  • Por outro lado, muita gente aqui acredita que o que vem de fora é sempre muito melhor (vira-latismo rules).
  • Crescer no Brasil é muito mais difícil do que imaginava e, quando acontece, se dá em circunstâncias muito mais adversas. Sendo assim, se você vê alguém que consegue crescer por seu próprio esforço aqui você pode tirar o chapéu: essa pessoa pegou muito mais touros pelo chifre do que qualquer primeiro mundista bem sucedido.
  • Jovens são muito mais engajados politicamente do que em qualquer outro lugar que já vivi (exceto talvez pela Alemanha).
  • Infelizmente, as pessoas parecem ter uma crença gigantesca em tudo aquilo que vem pelo celular. Sendo assim, uma reportagem num jornal de renome e uma mensagem no WhatsApp têm a mesma credibilidade pra muita gente. Há uma carência de referências enorme. Às vezes temo viver num mundo dominado por tiktokkers, influencers no instagram e celebridades religiosas ou sertanejas. 
  • Há muito mais pobreza do que imaginava dentre os que não têm nada. E muito mais riqueza do que imaginava dentre os que têm tudo.
Sei que várias vezes falei dessa nossa fase da vida como um capítulo novo a ser escrito. Ainda não me parece claro como ele começa, ou em que momento estou. Talvez seja por isso que tenho escrito tão pouco, atento que estou em desvendar os meandros dessa prosa que permeia o ar. Não sei, pareço entender tudo e logo perder o sentido das coisas, o que me dexa confuso. 

Há muito ainda por se desvendar e fazer. Muito ainda por se depreender e refletir sobre. 
Tipo de lucidez que nos visita aos poucos, sabe? Vai ver só preciso de paciência pra esperar.

terça-feira, 11 de abril de 2023

Repete

 É curioso como relacionamentos implicam em repetições. Ou como, em relacionamentos distintos, a gente acaba ouvindo as mesmas reclamações, ou cometendo os mesmos erros de outrora. 

Será que, no fim das  contas, estamos fadados a sermos sempre os mesmos, carregando nossas falhas e misérias de relacionamento em relacionamento? 

Fiquei pensando sobre isso, até me lembrar de uma animação de uma cineasta que gosto muito (e que já visitou esse blog algumas vezes). 

Divirtam-se.


Michaela Pavlatova, Repete, 1994

segunda-feira, 20 de março de 2023

Paradoxos e incompletudes

Interessante dizerem que Brasil e Japão estão em extremos opostos do mundo. Certamente não é o caso. Em todo caso, fico pensando em como minha vida parece ter mudado da água pro vindo desde que vim de laá pra cá: dias com gente viraram dias sem gente, enquanto finais de semana - em geral vazios e silenciosos- passaram a ser dias agitados com gente em casa, amigos por perto e família mimando. 

Que diferença!!

Mesmo assim, tanto contato não é fácil. E aí mora o grande paradoxo de se ter as coisas: quando temos, parece em excesso; quando não temos, nos carece e dói na alma. Ter voltado tem sido uma grande lição. Uma ressocialização (que eu sempre insisti e dizer que todo doutorando deveria fazer! Independentemente da área!). 

Só sei que estar longe não é fácil. Estar perto é igualmente difícil. Mas tudo é questão de escolhas. Não é legal se viver sozinho. Diante dos atritos que tantos contatos geram, paro e penso no silêncio dos dias sozinhos na terra do sol nascente e no grande exercício que era me forçar fora do meu casulo para ganhar asas. Já aqui... parece tudo me dado na mão, mas mesmo assim... me parece ainda assim que me encontro perdido e incompleto.

Oque falta? Ou melhor: será que era pra ser isso mesmo e que, no fundo, nada me falta?