quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Queen of Hearts

 Há um trecho no Alice in Wonderland do qual sempre me lembro.

Ele me veio à cabeça hoje durante uma conversa. A empresa, como várias dessas tech companies pelo mundo, fez um lay-off massivo hoje. Minha cabeça foi poupada, mas a de alguns amigos não. 

Foi triste. Foi triste demais.

É algo horrível ter que ficar pra trás e estar no meio de um monte de gente que discute de maneira unilateral o que aconteceu com uma pessoa que não tem mais voz ali. Isso sem falarmos em casos em que a decisão não parece ter sido motivada por nada lógico: produtividade? Ou seria corte de verbas? Ou seria falta de alinhamento com alguma política imaginária da diretoria? Não sei... me pareceu uma grande arbitrariedade que, por natureza, amanhã pode nos atingir pelos mesmos motivos desconhecidos.

Um dia cheio, que correu a passos lentos, vagarosos e pesados. Ao fim do dia, o corpo sobrevive em cansaço, um pouco de medo, onde várias pessoas se olham assustadas e pensam: será que serei o próximo? 

Anos atrás, um amigo trabalhando numa empresa me relatou algo parecido. Disse-me então que vários colegas nem puderam entrar mais na empresa, que suas mesas foram limpas e suas coisas entregues a eles. E que, neste dia, ele chegou em casa tão cansado que nem acendeu as luzes de casa: foi direto pro sofá dormir. 

À época - ainda na mini apple - eu ficava me perguntando oque seria aquilo e me via tão, mas tão distante daquele mundo. Hoje, pareço ter os dois pés nele. No caso, diferentemente do meu amigo, minha casa é meu escritório, e não tive um sofá pro qual chegar: suportei essa notícia aqui mesmo, embora quisesse tê-la deixado do lado de fora dessas paredes. 

Infelizmente, não deu. As paredes, maculadas, agora parecem sujas dessa realidade que não consigo mais deixar de ver: sei que está ali, e que oque antes era desconforto agora virou uma quebra de confiança. Quem consegue ter voz num ambiente onde se tem medo? 

"Off with their heads".

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