sexta-feira, 26 de março de 2021

Serás exibicionista e se alimentará de likes...

Nesse mundo hiperexibicionista em que a gente vive estamos sempre a traçar no chão as linhas que não cruzar: posts entusiasmados com a camisetinha da empresa falando sobre o amor que transborda pelo lugar no qual trabalhamos, posts com fotos de cada almoço estranho, uma árvore no sol florescendo hashtags, uma tarde afogada em bobeira, um livro que nunca li mas quis parecer intelectualizado, um coqueiro que se move na praia e que vira um vídeo...  Tudo é processado, deglutido e expelido em pixels pro mundo digital. 39K likes. Digo, pro mundo real. Que dizer, pro mundo dig... não sei mais qual é qual. O ser humano se alimentando de sinais e símbolos ❤❤❤❤❤❤

Recentemente calhei de começar um outro blog, relacionado a outras coisas. Mas fico nessa reticência entre saber oque vale e que não vale à pena de fazer. Se tudo é exibicionismo, oque significa isso que eu quero fazer? Mais um blog exibicionista? Páro, pondero o porque de tanta relutância em me expor. "Será que é medo de ser escrutinado, julgado?", me pergunto...  As vezes culpo minha formação já que, como um monge, cresci pra e aprendi a fazer coisas técnicas - tanto porque gosto delas quanto pelo valor que dou pras mesmas. Então, quando penso em fazer algo que difere em qualidade... começo a duvidar da sua relevância. "Ninguém vai ler essa merda!", me digo.

Não sei... me pergunto se me enclausuro dos medos do mundo numa concha. Em grande parte eu querer sair da academia envolve saber uma resposta a esta pergunta: enquanto acadêmico eu tenho o conforto de ser um dos poucos conhecedores de uma área, pouca gente a criticar e ver... mas e no mundo lá fora? Como seria amplificar o número de interações ao meu redor pra ver como reajo/ajo? Por diversas vezes na minha cabeça essa imagem do cientista numa ostra aparece, uma casa na beira do campus de uma cidade pequena, protegido em papel bolha dos males do mundo, férias de final de ano com uma família criada com uma professora de outro departamento... era pra ser assim? 

De certa forma, uma coisa parece tocar na outra: eu, avesso a me exibir, me escondo dentro de uma biblioteca de matemática e em artigos que demoram longos meses quase anos para sair da minha ostra-concha,  compartilhados com outras pérolas de outras conchas ano a ano numa conferência de ostras para se discutir outras pérolas ... Curiosamente, ostras (o ser mesmo, bivalves, não a analogia que fiz até então) são seres que vivem a filtrar a agua do meio, pra no fim "cuspirem" essa bolotinha esbranquiçada "sem utilidade alguma" na natureza, mas pra qual algumas pessoas têm olhos. Vai ver ciência é um pouco como isso, tanto no processo de criação quanto no produto final.


[Bom... enrolei e enrolei... vai ver o jeito é postar o negócio e pronto!]

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