segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Direto da Terra do Sol Nascente #103: Amazônipônica

Uma das coisas que mais se abala enquanto buscamos emprego é não outra senão nossa auto-estima: é bordoada de tudo que é lado, não, rejeição. 

É triste.

Você se sente mal, incapaz, impostor, infeliz. E às vezes acontecem umas coisas que te fazem lembrar de quem você é. Noutras, acontecem coisas que nem tem tanto a ver com você, mas que jogam sua auto-estima lá em cima. Como foi o caso hoje: o pessoal da Amazon jp bateu na minha porta, me convidando pra me candidatar a uma vaga de pesquisador na unidade de Tokyo.

Pqp... Tokyo? 

Dei uma desconversada... pensei no quão difícil seria dizer não caso viesse realmente uma oferta de trabalho de lá. "-Vou fazer alguma merda e dar fim a esse processo", pensei comigo mesmo. "Eles vão olhar meu resume e ver que não valho nada", outro pensamento me veio à cabeça.

Nem um, nem outro: o chefe do grupo de AI deles me ligou hoje. Meu nervosismo inicial, combatido com um "só vou conversar, isso não é uma oferta", logo foi jogado a escanteio: a conversa seguiu bem e se alongou por um bom tempo. 

Oque me parece mais complicado é que ele me pareceu honesto ao falar das dificuldades e desafios. Retruquei sendo igualmente honesto: falei que quero voltar à América, o mais perto possível da família, o mais longe possível do Japão. Ele pareceu ter ido com a minha cara, gostado das minhas perguntas: falou que haveriam mais fases adiante, que deveria fazer A e B...etc... me assustei.... me assusta só de pensar que, mesmo dizendo a ele que este é um caminho não contemplado em qualquer rascunho de projeto vago que tenho na minha vida, seria mais um ou dois anos em Tokyo...

Hoje, mais tarde, ele me contactou novamente pra me dizer que eu estou na próxima fase, e que um recruiter da empresa há de entrar em contato. Meu ego parece um pouco alterado - sinto um certo alívio "vai ver você é uma fraude menor do que imagina, ou simplesmente não é uma fraude", penso/sinto... mas mesmo essa sensação mais ou menos boa não arrefece meu desconforto em imaginar mudança tão grande de rota de migração. Um brasileiro, que nunca viu a amazônia, encontrar uma "cópia desta", incrustada no coração de Tokyo, a milhares de quilômetros de sua terra natal. 

Bom... não vou pensar nisso por agora. Que fiquem os louros do "reconhecimento", se é que há algum: ao menos estou sendo notado (embora não saiba bem como ou porque). Uma pena que vieram também as angústias do reconhecimento, em termos atenção que buscávamos mas das "pessoas" erradas. 

Vai ver é assim mesmo: a vida é cheia de tropeços. 

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