sábado, 7 de junho de 2014

UM UM UM

[Pra ser lidouvido]


[111]

Todo o homem de hoje, em quem a estatura moral e o relevo intelectual não sejam de pigmeu ou de charro, ama, quando ama, com o amor romântico.

O amor romântico é um produto extremo de séculos sobre séculos de influência cristã; e, tanto quanto à sua substância, como quanto à sequência do seu desenvolvimento, pode ser dado a conhecer a quem não o perceba comparando-o com uma veste, ou traje, que a alma ou a imaginação fabriquem para com ele vestir as criaturas, que acaso apareçam, e o espírito ache que lhes cabe.

Mas todo o traje, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e em breve, sob a veste do ideal que formamos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em quem o vestimos.

O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceita desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.
Fernando Pessoa, O livro do desassossego

2 comentários:

Rafael disse...

Fala serio se Beethoven no minuto 15:30, nao antecipou o ragtime?!!!!
Pqp, os primórdios de Scott Joplin!!

https://www.youtube.com/watch?v=nFeF_yFtssk

Rafael disse...

A parte lenta deve ser perfeita pra ser ouvida de olhos fechados... a cada nota, um passo de olhos fechados em alguma direção. Aí começa o ragtime no minuto 15... e vc dança como se estivesse dançando um ragtime (oras!!).

Vou tentar qqr dia em casa...