terça-feira, 1 de novembro de 2022

Semana pós-apocalíptica

Wow... passou... não achei que fosse sentir isso, essa angústia que vários amigos relataram que passaram em 2018, antes da eleição do Bolsonaro. Isso que à época os ânimos andavam mais acirrados: mais discussões nas redes, dentro de casa, entre amigos etc. Dessa vez não, nem me estressei com ninguém no mundo virtual, então fui poupado dessa parte. No entanto, senti na pele esse monstro que se aproximava aos poucos, chegando cada vez mais próximo de abocanhar aquilo que mais queria: o poder. A sede era tão grande que pra isso estavam fazendo de tudo: rasgando a constituição, corrompendo meio mundo, vendendo pros seus eleitores uma grande mágica que nem os melhores ilusionistas do mundo conseguiriam tirar da cartola.

Foi foda... foi triste... achei que tudo estaria perdido...

É claro que não dá pra assumir que teremos um caminho cercado de flores  até primeiro de janeiro: o presidente atual já deu sinal atrás de sinal de que não qer sair do poder. No enanto, até hoje cedo estava em silêncio, sem se pronunciar sobre a derrota. Hoje, num tom meio choroso, deu uma entrevista coletiva em tom de menino mimado que viu que o sonho acabou. 

Nesses dias pré eleição eu ficava me perguntando, olhando ao redor, tentando encontrar por onde flui essa rede de esgoto por onde passa esse submundo de assuntos, teorias conspiratórias etc. Fico me perguntando por quanto tempo há de ser assim, se isso há de mudar, e quão alto há de ser o preço (como sociedade) a se pagar por isso. Fico em silêncio.. não tenho resposta pra tantas coisas.... me vem à lembrança os dias pré eleição nos EUA em 2016... todo mundo achando que o Trump nunca ganharia, que os americanos nunca elegeriam uma pessoa tão baixa.... Fast forward, Brasil 2022. Meu cunhado me disse, enquanto seguimos para votar, que esses eleitores da etrema direita vivem numa bolha. Retruquei que nós também vivemos numa bolha, apartada do mundo deles. 

Passou. Passou e não passou. Não passou.

Fico feliz em olhar pra esse resultado e pensar que o Brasil não poderia me parecer mais promissor do que agora. Que ótimo presente esse, voltar para um país no qual se pode acreditar. Da sala de casa, as pessoas gritando na janela "Lula"... "Fora miliciano"... e claro, o já clássico "tá na hora do Jair, já ir embora" . Que delícia morar aqui... voltar pra São Paulo pra morar no bairro mais hipster da cidade me enche de um senso engraçado de identificação, indiferença e completude, como se um longo ciclo se fechasse. Quis sair pra comemorar, ir pra uma das avenidas da cidade onde todo mundo congregava pra celebrar, mas não pude: descobrira logo no domingo de manhã que estou com COVID. O jeito então foi celebrar de casa. Distant and sick, yet celebrating. Esse era eu. Por dentro eu era só sol.

Mas como escrevi acima, não passou. A extrema direita vai ficar. Mas ao menos vamos deixar de ter a arrogância no poder. Deixaremos de ter as pessoas que não sabem nada querendo nos dizer que nada sabemos e que não conseguimos ver que na verdade eles sabem mais. Esse governo-Dunning-Kruger acabará em 2 meses.

[Por sinal, recomendo a ópera abaixo :)]



"The Dunning-Kruger Song", from The Incompetence Opera

Escrevo aliviado e mais calmo, mas ciente de que há muito a se fazer daqui pra frente. 

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