domingo, 28 de janeiro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #18: "a impossível arte de ser não sendo (parte I)"

Uma das coisas que mais pega aqui no Japão e da qual já devo ter falado antes é a falta de referências: realmente, não há muito aqui que me faz lembrar do que era morar na América ou na Europa. É tudo muito, muito diferente. Assim, distante do ocidente, saí em buscas de rememorar minha vida antes de chegar a esse pôrto: todas às terças feiras comecei a sair com um grupo de europeus e outros pra comer pizza. E olhe bem que nem gosto tanto assim de pizza... mas tudo bem.

Logo na primeira semana que fui conheci um casal de espanhóis, muito engraçados e simpáticos. Nas semanas seguintes lá fui e.. nada deles. Pergunto pros outros, que me respondem 

"-não sabemos por que eles não têm vindo... só os conhecemos daqui".

Achei estranho... o grupo é realmente pela pizza, não pelas pessoas. Superficialidade? Pensei um pouco mas relevei... não soube dizer... mas tudo bem.

Há algumas semanas saí de novo com o grupo pra um jantar de final de ano. Conversa vai conversa vem, um europeu (francês) faz uma piada racista. Mas ....

...fiquei puto, o sangue subiu. Não aguentei a indignação. Não achei legal e descasquei o sujeito. Disse desacreditar que um cara que tinha estudado tanto como ele poderia disseminar/reproduzir idéias daquelas. Um cara que teve tudo, todas as oportunidades do mundo pra buscar ser quem ele era, falando uma merda daquela.

Não!

E isso foi bom pra mim. Ter ouvido isso, ter vivido isso foi bom. Por que percebi que não há como, não há meios de me encontrar aqui se continuar fazendo oque não quero, ou andando com gente que nada tem a ver comigo. Não, não é com relações superficiais que vou alimentar minha alma do calor que me faz falta. E não é comendo pizza e engolindo sapos que vou ficar bem. 

Foi um "wake-uṕ":  encontre-se, ouça-se: só assim você vai saber em que direção ir e seguir. E isso não tem só a ver com amigos: tem a ver com trabalho, com amor, com onde morar e muito, muito mais. Antes ser um passarinho sozinho a enfrentar as intempéries do tempo do que voar entre urubus. 

Aguarde-me, 2018.

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