Foi na sexta-feira. O acaso e a falta de comida em casa me levaram aos restaurantes de sempre. Na verdade, levariam, pois acabei passando na frente de um outro no qual nunca havia almoçado e por lá fiquei para matar a fome.
Sentei, comi... o ambiente claro... uma familiaridade distante.. porque será? Logo me veio a lembrança da ultima vez em que ali fora: eu e ela ali sentados, assistindo um amigo tocar bateria num show. Olhava pra mesa com aquele casal, cheio de sonhos e perspectivas, sem saber que alguns amos mais tarde lá estaria eu, do outro lado do salão, quase do outro lado da mesa, os observando. Me senti como naquele conto do Borges, onde ele senta em um banco e, no extermo oposto dele, senta-se ele mesmo, só que mais velho. O que conversariam? Que conselhos o Borges mais velho daria ao Borges mais novo?
Fiquei me imaginando naquela situação. Atravessaria o salão para alertá-los dos perigos, para dizer que era melhor se adiantarem e se separarem ali mesmo, sem se prolongarem tanto? Chamaría os dois de canto pra dizer para tomarem cuidado, que o perigo morava logo ali, nos detalhes, nas palavras, no beijo negado, na atenção não compartilhada, nas palavras atravessadas, na falta de paciência e carinho?
Talvez ficasse só em silêncio mesmo, observando os dois caminharem para o destino que tiveram. Como numa profecia mitológica, onde nada que se tentasse prevenir o fatídico de uma previsão pudesse ser feito. Era pra ser, era pra ser...