Ontem bateu uma coisa… como uma rajada de vento que traz frio no meio do dia. Me peguei tremendo diante da angústia… ciúmes talvez? “Isso vai ficar grudado na tua cabeça “, me disse uma amiga há dias “ -pra que você foi querer saber disso?”… nem eu sei… estupidez? Saber se posso ter esperanças?! Então veio uma angústia-pergunta na cabeça: e se o dano que causamos agora for irreparável? Pergunta retórica, em dor… nem eu sei a resposta…
É interessante que nessas horas algo “fresco” e “novo” nos parece vantajoso: não carrega o peso da história, da distância, das palavras farpadas que surgem desavisadas em conversas .. mas claro, essa é uma percepção ingênua: toda relação tem isso, em algum momento.
De fato, essa última observação me vem à cabeça para tentar me fazer ver que devo parar de jogar jogos comigo mesmo: não existe vantagem alguma de qualquer parte aqui… pra uma pessoa que tenha clareza disso é tudo uma questão de decidir oque se quer/busca.
Penso mais no tema… me indago se, uma vez tendo isso em mente, oque diferencia duas relações… por que eu não jogo pra debaixo do tapete e sigo adiante, apertando o botaozinho da gratidão e saindo pro mundo? Honestamente… não sei… talvez seja não querer transferir algo que sinto por uma pessoa pra outra. O prognóstico então não é lá dos melhores: mesmo se adiante os caminhos bifurcarem, talvez me leve um tempo ainda até permitir que algo assim aconteça novamente.
Suspeito, na verdade, que haja algo mais aí… a questão maior talvez seja a de que toda relação é algo que sofre embates, e que o que mais me admira numa delas não é a combinação perfeita de tudo, o match, a “química” somente, mas a capacidade de se regenerar diante de feridas, tropeços, uma trinca…
Me visitam então fragmentos do que talvez tenha sido um último encontro: um presente dado de última hora, uma conversa difícil, um relato meu de que havia saído com uma japonesa algumas vezes… e, mesmo assim, ela não virou as costas: pra mim, ou pra essa relação. Olho pra isso como uma lição: a maior prova de que acreditamos em algo é passarmos pela provação de ver, admitir, forçosamente encarar que nossa (toda) relação com o outro é, por natureza, imperfeita; oque muda dentre as mesmas são os pares (ou mais!) que as constroem. É em meio a essa lição-admiração que (a) vejo encantado… algumas pessoas crescem firmes mesmo em meio às intempéries que toda relação intrinsecamente carrega. Talvez seja por isso que persista… não tenho certeza…
Há uma palavra em japonês… “wabi-sabi" (侘寂) que é intraduzível e que, caso pergunte a um japonês, você não vai ouvir uma resposta boa, muito menos curta… mas vou tentar explicar aqui. Pelo que entendo, wabi-sabi diz respeito à estética e cultura japonesa e toca na beleza sútil que pequenas imperfeições trazem a tudo, no valor profundo que o efêmero e transiente carregam num decorrer de um evento. Lembrei dessa palavra ontem, em reflexão sobre oque sentia e se passa… me deparei então numa relação cheia deles: efêmeros encontros que gostaria que durassem uma eternidade, nas piadas em momentos mais difíceis (despedida em aeroportos, por ex.), nas reflexões compartilhadas, nas discussões para trazer clareza à natureza das coisas, nos medos compartilhamos, nas dúvidas divididas… nas trocas (e quanta troca!) e, claro, nas imperfeições …
[“dúvidas divididas” é de lascar.. baixou meu lado Sidnei Magal… sorry 😬🙈]
Medito em cima da questão que não sei responder (qual delas? A retórica, lá no começo!) e vejo que talvez o momento não seja de ruptura como temia (e ainda temo), nem uma fragmentação irreparável de algo único, mas sim a admissão de uma verdade pura: de que a imperfeição mora em tudo oque nós humanos façamos.
Não sei se isso me acalma… [a saudades continua uma merda rsrs] … mas aceito melhor a simetria das coisas: já não considerava, mas pareço entender melhor o porque de não ter virado as costas e desistir de algo assim por tão pouco… a vida há de garoar (“sprinkle”? , português, ajuda) dúvidas e dificuldades em toda relação e tudo o mais que tivermos.
Então chegamos onde? A lugar nenhum rsrs Me pergunto se havia encontrado alguém que tinha olhos mais bem treinados pra perceber esse wabi-sabi que tínhamos, algo que transcendia a química ou qualquer coisa do tipo? Não sei… às vezes temo que essa parte da estória talvez nunca chegue a meus ouvidos ..( mas se puder, vou perguntar).
Mesmo em meio a essas turbulências às vezes eu páro sereno pra olhar essa jornada, esse barco que quase levamos até a costa… páro pra admirar isso tudo oque, mesmo no pouco tempo junto, tivemos e vimos: os detalhes, as risadas, as pisadas em falso, os erros, as conversas… os defeitos diminutos diante de algo maior em valor e complexidade… chego à conclusão de que, se for pra ser isso… então… realmente, tive a sorte enorme de testemunhar algo infinito em beleza, imperfeito e único em suas efemérides.
Sei lá… vai ver wabi-sabi é isso.
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