sexta-feira, 6 de maio de 2022

31 dias entre o oriente e o ocidente: arredores

 Tá certo... tá todo mundo de saco cheio de me ouvir dizendo que vou me afogar nesse mar de saudades que me separa do melhor que o Brasil pode me dar, que tá difícil etc. Eu tô de saco cheio de mim mesmo, estou chato, estou.. com saudades! Que que posso fazer?! No entanto, em meio a tudo isso outras coisas acontecem, outros anseios, outras angústias: rachadinhas que kintsugi nenhum daria conta, ou imperfeições tamanhas em impropriedade que não há wabi-sabi algum nelas... 

Estou falando do Brasil.

Como penso nisso... como penso no país que deixei atrás: Brasil em 2010!!! Bombando, todo mundo nos EUA me perguntando sobre.... e a derrocada, dias "Temer"osos, instabilidade, guinada à direita.... Reflito sobre o que posso oferecer de volta pra ajudar a mudar essa situação de calamidade que meu país enfrenta. OK, talvez a coisa esteja menos pior do que imagine... mas... não tenho como me enganar diante dos números: a miséria assola o país, a pobreza e a fome aumentaram, evasão escolar explodiu... penso no que teria sido da minha família se isso tivesse nos pegado... com certeza não estaria aqui hoje... nenhum homem se faz sozinho, tenho a modéstia de admitir isso. Tive a sorte de crescer dentre boas políticas públicas: vejo os amigos daqui, dos EUA, de tantos países que não puderam ir atrás dos sonhos que tiveram, estudar, aprender... fui e sou um sortudo. Mas hoje... há um  risco iminente de vermos mais 4 anos de um governo que está acabando com o país, suas riquezas, acentuando as desigualdades abissais que sempre foram uma praga na estória do país, o discurso divisivo..

Aonde a gente cabe nesse meio? Aonde eu caibo?

Não sei... sempre cresci achando que fazer algo significava fazer minha parte. Não acredito mais nisso... ou, sinceramente, não sinto que tem sido o suficiente. Acho que meus dias nos EUA me ensinaram bastante nesse aspecto: por mais que tenha enormes críticas aos sistema americano, as pessoas lá se mobilizam de uma maneira fora do comum para conseguir as coisas. Há um senso de comunidade muito forte que, claro, pode se exacerbar ao colocar uma comunidade contra a outra...mesmo assim, era admirável ver aquelas pessoas se unindo pra fazerem coisas como festivais, fecharem grandes avenidas para dias de lazer de bike no centro da cidade etc....

Acrescente-se a isso tudo voluntariar. Volutariar me deu uma lição enorme de vida, quase um propósito. Sem sombra de dúvidas, foi algo que mudou a forma como tento ensinar, como recebo as perguntas dos outros, como me abro pra aprender mais com aquele que tento ensinar do que qualquer coisa. Não sei ao certo o porque de ter sido algo tão importante... talvez o fato de ter sido muito difícil recomeçar a vida após o doc: achava que meu chefe me demitiria a qualquer momento, a distância dos amigos, morar por mais de um mês no sofá de um amigo com apenas $1000 no bolso pra passar o mês...pqp!! Em meio a tanta turbulência, partia pra voluntariar e me pegava admirado/surpreso diante de outras vidas, sofrimentos, imigrantes e suas dificuldades: ver e ajudar pessoas de 60 anos a aprender a ler pela primeira vez, conversar e interagir com meus alunos (muitos dos quais mal falavam inglês), saber que estavam naquele país tentando recomeçar suas vidas depois de fugirem de suas terras, forçadas a deixar pra trás tudo (as vezes o nada) que tinham por conta de guerra, violência... estávamos todos aprendendo, em diferentes níveis...

Me pergunto se posso fazer o mesmo pelo país pro qual volto. Brasil... será que tenho algo a te dar de volta? Nesses horas, quando achamos que nada temos, é quando descobrimos que, na verdade, temos tudo. Agora... como compartilhar isso?


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