"Since I had nowhere permanent to stay, I had no interest whatever in keeping treasures, and since I was empty-handed, I had no fear of being robbed on the way" [Matsuo Bashô , The records of a travel-worn Satchel]
terça-feira, 5 de abril de 2022
Direto da Terra do Sol Nascente #122: lamaçal
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
Entre os emaranhados da verdade e da confiança ("Chain of trust" & "chain of truth")
"Covid denialism, like AIDS denialism, reveals that many of doctors’ assumptions are incorrect. We overestimate the value of reasoning and facts. We believe in our clinical authority. We expect patients to behave rationally. But we all develop our beliefs through interactions with other people — what you believe depends on whom you trust. "
[Em The Doctor’s Oldest Tool, no New England Journal of Medicine, por Elvin H. Geng]
Calhou de esse artigo "resolver" um desconforto que senti numa outra conversa, ao ouvir que "a ciência é uma fé, assim como a falta dela também o é". Não, não concordei. Na verdade me causou desconforto pensar nisso, apesar de não saber bem oque dizer na hora.
This particular thesis was addressed to me a quarter of a century ago by John Campbell, who specialized in irritating me. He also told me that all theories are proven wrong in time.
My answer to him was, "John, when people thought the Earth was flat, they were wrong. When people thought the Earth was spherical, they were wrong. But if you think that thinking the Earth is spherical is just as wrong as thinking the Earth is flat, then your view is wronger than both of them put together."
"I am part of what anthropologist Heidi Larson calls a “chain of trust” in a social system that has treated me fairly and generously — a chain that did not reach Mr. B. I realized that the chain’s links consist of lived experiences and relationships, not data in scientific journals. I believe what my colleagues say because of my proximity to their experience: I work with people like the scientists who conducted the earliest studies, and I know them to be generally honorable and credible. Mr. B. did not believe — ultimately, not because of quibbles with the scientific method, but because the sum of what society, and “expert” professionals like me, had offered him in life seemed more like lies than the truth. "
Instead of arguing about the veracity of science, perhaps I could simply bear witness, as one human to another.
sábado, 27 de novembro de 2021
Direto da Terra do Sol Nascente #119: só poderia ser amor... (ou, talvez, o contrato)
[Bato na porta]
- Professor boss? Are you there?
-Yeeeessss
[Ele responde, com um yes bem longo]
- I have something to tell you. Well... you know... it's hard to say this, but I'll be leaving next year, in February...
- Ohh!!! Good! So, you have found your next position...
- No. Actually, I have not.
- How are you leaving then, if you have no next job?
-Well.. it's complicated. I just think that..
-Because in general people find a job before leaving their current job.
-...but I..
-Because you know that you can stay longer if you want, we'll be happy to have you here 'til the end of your contract..
-...but...
- What don't you do some more thinking and let us know?
[Pronto, falei! ]
[Fiquei surpreso com a reação do meu chefe, quase "paternal", diria]
[Inesperado para um japonês. Foi bom, sentir-me benquisto onde trabalho, numa cultural tão different da minha.]
[Ainda meio assustado diante das minhas próprias deliberações, mas... acredito que esse barco já saiu do porto e a ele não volta mais.]
[...rumo ao desconhecido mundo lá fora, aqui vamos nós]
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
Direto da Terra do Sol Nascente #118: carnaval japonês (ou "quebrando o contrato")
terça-feira, 28 de setembro de 2021
Dear editor...
Dear referees and editors.
Anonymity does not grant you rights to be jerks.
I think you are a fuc**** idiots who have not read the paper.
Sincerely,
Momo
[I wish I could leave the academic world in such a grand style]
[but I was a bit more polite than that 😁 ]
domingo, 29 de agosto de 2021
A encantável geometria do desconhecido
Só sei que ontem, num repente de meio de conversa de vídeo, tive contato com algo novo: fui apresentado a um vibrador feminino. Fiquei intrigado: como é que.... por que será que.... como... porque tem esse formato? Fiquei mudo.
terça-feira, 27 de julho de 2021
Entusiasmos numéricos, ma non troppo (parte 1)
Ouvi aquilo e fiquei quieto. Quem sou eu pra ficar dando aulas de porcentagens e seus significados pra alguém? Fiquei na minha... a Matemática te dá essa virtude meio ambivalente (pra não dizer chata): a de te roubar a poesia de algumas coisas e de adicionar mais cor à outras... um tradeoff meio estranho mas que, no fim das contas, quem trabalha com números acaba por aceitar.
Até aí tudo bem. Conversa vai, conversa vem.... e minha mãe volta a insistir nesses 600%. Aí começou a dar coceira... pqp... será que eu falo algo? Fui desviando a conversa, andando pelas beiradas para não cair nesse abismo das divergências familiares. Oque: eu, ser chato? Nunca! Eu estava na minha, e ali fiquei enquanto pude.
"-Mãe, me desculpe te dizer, mas 600% não é muita coisa... não sei como mediram isso, mas isso é no máximo 6-7 vezes o tamanho do brinquedo... não vai ficar do tamanho de...sei lá, um tiranossauro que não vai caber na banheira..."
Por alguns segundos ficou aquele silêncio no ar... um clima de decepção, como num presente de natal que não corresponde com o imaginado, como se uma esperada bicicleta acabasse virando uma meia mal embrulhada.... ou um eterno 7 a 1 que não acaba.
Mãe, me desculpe... da próxima fico quieto e falo pra vocês tomarem cuidado.
Digo que é capaz do boneco crescer tanto que não caberá no apartamento.
Ou que ganhará vida, e que com um carnívoro tão mortífero não se brinca.
Ou que o peso do boneco pode colocar a da criança em risco....
sexta-feira, 9 de julho de 2021
Direto da Terra do Sol Nascente #115: dias de marcenaria e patchwork
Essa semana foi bem estranha: estava angustiado até ontem, tentando resolver um problema absurdo que parecia sair do meu controle a todo o momento. Uma hora parecia que tudo funcionava, noutro você tinha um boicote evidente, eu versus um supercomputador. Me senti, por alguns minutos, como Kasparov diante do DeepBlue. A máquina saiu ganhadora neste caso também (digo: ganhou diante da minha paciência).
Ou não.
Ontem eu saí do trabalho transtornado. Pensei: "vou pra casa chorar" hahaha Não, não foi pra tanto. Mas tava um dia daqueles, cheio de bugs até nas coisas mais simples que, até ontem, funcionavam. Aí disse pra mim mesmo "hora de ficar longe, ir escalar um pouco, tentar desanuviar a mente". E assim fiz.
Hoje acordei mais tranquilo, fui com calma, vendo como eu poderia resolver tantos problemas ao mesmo tempo de maneira efetiva. E assim foi, de maneira meio infinitesimal, quase como se faz em escalada "na pedra" (fora): vai-se ganhando espaço/altura aos pouquinhos, conquistando terreno aos poucos... à tarde, já confiante do "xeque-mate" que preparava, fiquei pensando no que estava rolando. Qual era a lição maior por trás disso tudo?
Talvez seja a de que não existe como ficar harmonizando uma cadeia enorme de pequenas coisas conflitantes, pois ao se tentar arrumar uma acabamos por desencadear outras inconsistências. A "ordem do dia", que teci logo no começo do dia, foi a de colocar um protocolo único que todas as coisas deveriam seguir. Aí pronto: nada de ter que brincar de patchwork, emendando/consertando aqui e ali coisas que no fundo não se conectam.
É interessante pensar nisso olhando pra trás, pois muitas vezes acredito que matemática (aplicada) é um pouco isso, uma sucessão de tecnicalidades que não difere muito do trabalho de um marceneiro ou artesão, que corta uma tábua, faz as marquinhas na madeira de onde vão os pregos, vê que deu errado, vai corta de novo outra madeira, dessa vez medindo(!), até dar forma àquilo que no começo era só uma idéia abstrata: uma cadeira, um teorema, uma desigualdade, um móvel...
sexta-feira, 26 de março de 2021
Serás exibicionista e se alimentará de likes...
terça-feira, 2 de março de 2021
Direto da Terra do Sol Nascente #108: unemployment S.A.
Volto?
Sobretudo, caminhar sempre pra frente. Sem medo E sem olhar pra trás.
sábado, 6 de fevereiro de 2021
Pesaroso baysiano procura
Ontem me aconteceu algo desconfortável. Inundado diante da persistência de um colega em começar um trabalho que, a meu ver, já nasce morto, me peguei hesitando. Me senti mal por dizer que não queria entrar naquele barco. Mas na hora não sabia bem o porque.
Ou talvez tenha sido essa estranha sensação de estar perto de alguém um pouco arrogante e impulsivo, que parece te levar com informação mas, no fim das contas, deu um show de hand-waving com pitadas de entusiasmo desmesurado e você não soube muito bem como reagir com fundamentos, você não soube argumentar de maneira clara o porque esse não era um caminho a se seguir.
Você se julga racional, mas se "defende" de uma crença com uma outra crença. Condenar a arrogância do "esse é o jeito XXX de qualidade que eu sigo", a convicção sem respaldo... com uma resposta não clara. Como se despida de todo fundamento lógico da tua rejeição àquele caminho.
Talvez seja isso... que bailarina quer sair do palco aos tropeços? Foi estranho... acho que meu desconforto foi em me ver impulsivo em dizer não, em não saber como lidar com a resposta, navegar com o desconforto da pergunta "você quer entrar nesse barco?", "você quer escrever um artigo?"
Me conheço, por isso me questiono. Cada galho podado passa por um escrutínio antes de vira adubo: foi vaidade minha? Em ter dado o problema e depois sair de cena? Foi medo de me engajar? Foi tocar uma peça pela metade? Ou foi, pura e simplesmente, uma atitude respaldada na confiança que tenho em mim mesmo?
É interessante isso, como alguém entusiasmado e impulsivo consegue envergar as fundações do edifício da reticência, do medo, do receio, da desconfiança. E quando essa onda passa, presenciamos aquela estrutura ainda ali, firme, sem saber se celebramos a calmaria ou se nos perguntamos o quanto faltou para cedermos.
Há dois posts que escrevi em 2010, (...e que toda escolha é uma forma de renúncia, segunda parte aqui), que de certa forma tratam desse assunto: olharmos pra trás e vermos um horizonte de escolhas que não existem mais, como ramos mortos de uma árvore que no presente insiste em se expandir pra outro lado.
sábado, 16 de janeiro de 2021
Os ultimos rinocerontes brancos sobre a Terra
[Isso é uma nota que escrevi recentemente - em inglês - sobre algo que li]
[Sudan is the name of the last white rhino on Earth, who died in 2018]
"We expect extinction to unfold offstage, in the mists of prehistory, not right in front of our faces, on a specific calendar day. And yet here it was: March 19, 2018. The men scratched Sudan’s rough skin, said goodbye, made promises, apologized for the sins of humanity. Finally, the veterinarians euthanized him. For a short time, he breathed heavily. And then he died."
"In 2009, when Najin and Fatu first came to Africa, they were scared of everything. They would flinch whenever the wind blew, jump away from every rabbit that hopped out of a bush. They were born and raised in a zoo. Their births — in 1989 and 2000 — were two of the very few bright spots in the otherwise doomed international project to save the northern whites. Although their ancestors were from Africa, these particular creatures were not. They grew up in the Czech Republic, in man-made enclosures, eating pre-cut grasses, surrounded by humans. They had no idea how to be wild rhinos."
domingo, 4 de outubro de 2020
Ambiguidades à parte
Essa semana aconteceu algo estranho: na terça, durante o debate presidencial americano, o atual presidente foi questionado se condenaria white supremacists pela violência que estes têm perpetrado pelo país. Pra resumir, o presidente diz para um determinado grupo (XX) "XX, stand back and stand by".
Stand by pra mim é esperar para que algo aconteça, para que algo possa ser acessado/utilizado adiante.... essa ambiguidade ficou no ar, esse desvio por um (mau) uso da palavra, onde não se sabia se ele se comprometia ou não em condená-los (muitos chegaram à conclusão que não, que até fomentava a proximidade a eles).
Não fosse D. Trump ser divisivo e, acima de tudo, esguio em se deslizar de compromissos e se abster de bandeiras igualitárias, eu teria dito que ele fora, pura e simplesmente, poético: poesia é a mais pura ambiguidade.
Fiquei um pouco perturbado em chegar a essa conclusão, ainda mais diante de uma situação tão horrível e diante de uma pessoa pela qual não nutro o menor respeito. Mais ainda: numa situação abominável e que não poderia ser tolerada! Fiquei me questionando por alguns momentos sobre como essa corda bamba dos sentidos e significados é also difuso, sobre a qual as palavras andam entre um ser e outro. Também quero ser poesia! Mas claro, não ser evasivo e ambiguo para não ter que me compromissar diante do que digo.... mas quão distantes essas duas coisas estão: ser ambiguo e ser descompromissado?
Lembrei do "Cálice" ou "Cale-se" do Chico, ou de uma que nesse último janeiro foi motivo de muita risada na minha visita ao Brasil
Samba do grande amor, Chico Buarque
Resta-nos a grande dúvida se a mentira era uma mentira ou uma reinterpretação dos fatos. A ambiguidade não está nos fatos em si, mas em tê-los narrados pela voz de uma pessoa que oscila entre dizer a verdade e a mentira. Essa ambiguidades parecem fazer parte de muito que vivemos, seja na forma como as interpretamos ou, de certa forma, na dificuldade que temos em interpretá-las da maneira correta.
Lembrei-me ainda de uma conversa que tive há anos com uma amiga bióloga. Esta me expressava consternada sua angústia diante da ciência, com o não poder ser subjetiva, poética, num artigo: para ela, eram todos secos e sem vida. Na hora que ouvi suas palavras tive compaixão, mas vi também que não era essa a direção, que em alguns meios não se pode haver ambiguidade, dúvida, ou meias palavras: a poesia tolera, e celebra a ambivalência, enquanto a política e a ciência devem evitar de todas as formas cair em tais recursos. A grande beleza de se fazer as duas últimas (se é que há beleza em fazer política...) está no saber caminhar sobre a corda bamba da clareza, da eloquência, e do discurso. A poesia, a arte, por outro lado, presam por outras qualidades.
terça-feira, 22 de setembro de 2020
Direto da Terra do Sol Nascente #97: "o meu sem hífen, por favor"
Dear Momo-san
Congratulations! I am happy that you submitted your paper.
When revision comes back, remove dash from company name: we are not called
"AAAA-BBBB", but
"AAAA BBBB".
Best,
Katchôu-sensei
[não muito distante de um email que recebi na semana passada]
[um exemplo fidedigno de reconhecimento, depois de quase um ano de ups and downs]
[milhares (reaalmente, milhares) de linhas de código]
[muitos rascunhos]
[e horas de simulação num supercomputador]
sexta-feira, 18 de setembro de 2020
Direto da Terra do Sol Nascente #96: quando você está na chuva se encharcando de poesia (ou "página virada")
Well well well... nem um, nem outro: nem na chuva, nem encharcado em poesia. QUEM ME DERA!
Não, por aqui tudo na mais prosaica mesmice, exceto que.... finalmente me vejo livre de zeros e uns. Vida que deixa de ser binária, ao menos por um tempo: acabo de me livrar do meu artigo e submetê-lo.
Caramba... deu até um frio na barriga!
Fiquei me perguntando o porque: me lembrei do primeiro, também sozinho, eu me sentindo perdido, sem confiança de que aquilo poderia funcionar... cheio de dúvidas quanto à qualidade do produto... um momento de exposição ao mundo... bem parecido com o que senti na última vez que escalei, a uns 20 metros de altura, prestes a ficar exposto num flanco de uma montanha, atrás de mim somente o nada, acima de mim nada, abaixo de mim somente chão e uma corda passando por um carabiner.
Quem te segura?
Quem segura tua mão?
Ansiogênico, um tanto angustiante. Curioso que parei em alguns momentos pra tentar entender oque se passava, e me vieram lembranças de primeiro dia de escola nova, do tal primeiro artigo submetido sozinho, de tantas outras coisas.... viver e se submeter ao novo... será que vivo sob este lema? Acho que não, tenho quase certeza que não.
Mas porque? Porque não ir atrás das novidades, do que há de diferente, de obscuro, de interessante? Porque ficamos no que conhecemos, cercado de rostos conhecidos, adicionando "epsilons" (pra não matemáticos, "grãos de areia") àquilo que já sabemos? O fazemos por medo, por curiosidade diante daquilo que fazemos, por genuinamente termos interesse no que fazemos, ou por que é oque sabemos fazer?
Não sei, simplesmente não sei... só sei que o que fiz agora é página virada. Sinto começar uma nova época.
["uma nova era"... imagine cristais descendo do teto]
[eu com uma bata colorida.. :P ]
Um novo momento onde, por algum tempo posso ousar, me permitir fazer outras coisas, priorizar outras coisas. Ou melhor: priorizar-me!
Foi curioso... até 5 minutos atrás, quando cliquei no "submit", meu coração se enchia de medo, de ansiedade, de dúvidas... Já agora.... essa névoa se dissipou. Foi o primeiro dia de escola em que descobri que ninguém ali falava chinês durante as aulas, ou que na carteira ao lado se sentava alguém legal... Muito interessante sentir isso de novo, essa angústia de ter que me bancar diante do desconhecido, sem qualquer respaldo, sem ser introduzido por alguém, sem ser amigo do rei (grande Bandeira!), e mesmo assim... preparando o terreno para me sentir em casa.
Como um grande círculo, volto para o mesmo lugar... com o corpo cansado diante da volta que dei.
Colocar a cabeça pra fora da janela.
Ir, ver, e voltar.
Talvez viver e aprender seja um pouco de cada uma dessas coisas.
quinta-feira, 3 de setembro de 2020
Direto da Terra do Sol Nascente #95: Dr. Raffaellonkenstein
Há dias tenho me sentido como que escalando os últimos metros antes de chegar no cume de uma montanha: falta oxigênio, me sobra desejo de chegar lá, mas toda a alegria em antecipação a este momento se mistura com ansiedade, com medo, com perguntas.
Ontem, a caminho desse término, me aconteceu algo muito, muito fora do comum: havia pensado em uma maneira de concluir a "obra"...e pensei, tão atípica que é diante do que já fiz até aqui: "- vou testar em mim mesmo!", me veio à cabeça. O teste, no caso, seria colocar duas fotos na "máquina"
e ver se ela cuspia aquilo que eu via: "0" e "1".Foi curioso... me senti como um cientista louco cortando da sua própria carne para dar vida a sua criação... algo muito diferente do que já fiz até aqui, onde eu (como indvíduo) não transpareço naquilo que escrevo.1 Dessa vez, no entanto, foi um pouco diferente: lá estava aquele pedacinho de papel, esperando aquela jeringonça me dizer algo sobre ele: "vá...viva, diga oque quer dizer...voe!!!"... dizia a ela, entusiasmado. Pra variar, eu com minha falta de sucesso com pipas e coisas do tipo, nada voou: estava dando errado. Minha "máquina" cuspia "0" e "0".
Uma máquina monolítica, monotemática, monosílábica, de depreende do mundo apenas aquilo que compreende dele: tudo lhe é igual, só vê o mesmo "0" em toda direção pra qual olha.... uma máquina burra....
"Antes houvesse criado um monstro!!!", gritei, do alto da minha masmorra 😛
Caramba... que angústia!!! Logo agora, a cereja do bolo, o momento final, o ponto onde poderia ao menos dar um acabamento pra situação toda.... como se escalasse o everest e pudesse descê-lo ao final fazendo skibunda... Mas não: a vida queria me provar errado, e me deixar fincado no cume, congelado, como uma viagem que só foi de ida.
A angústia me corroeu... pensei no que ainda havia no barco, no que ainda fazia sentido.... mas ao mesmo tempo vinha uma onda enorme de lado, tentando virar a embarcação e me naufragar... "será que eu assumi algo e não percebi?... será que me baseei numa premissa falsa?"... as questões começacam a pular pela janela, buscando botes salva-vidas.... Como um "mulheres e crianças vão primeiro", a lógica, as indagações, a dúvida buscava sair pela tangente, no bote dos sobreviventes... Havia algo que poderia ser salvo?
Pensei, me revirei... pensei no que poderia estar fazendo diferente.... "vamos, vamos...." nada parecia fazer sentido... quando duas coisas parecem iguais, como é que elas podem ser diferentes?
Andava em círculos, olhando os detalhes. Olhando pedaços, trechos, comparando-os... "vai ver há uma brecha por aqui..." Tirei mais "sangue", e... ainda sim, nada... até que fui vendo mais caminhos, mais direções.... e oque antes era só turbulência, me pareceu uma corrente a me guiar para fora daquele redemoinho.
Sim, aquele foi só o começo, que se seguiu a divesas tentativas ainda fracassadas, nas quais o desespero, todas as indagações de "será que errei logo aos 5 minutos?"... "será que está tudo errado?" foi dando lugar a outras frases na minha cabeça "talvez se eu fizer isso... " ... "talvez seja por tal motivo" e assim galgava aos poucos pra longe daquela obscuridade. A persistência e a razão, como navegantes parceiros que retomam seu navio de uma irracionalidade que os tenta afundar, por fim prevaleceram. Sim, senhoras e senhores, meu "monstro" por fim ganhou vida, e como mágica, quando já desligava a luz para sair da sala... moveu seus dedos pra me mostrar que estava vivo, e tinha em mãos a resposta certa: vi surgir na tela "0" e "1"....
... agora é só descer em segurança, procurar o pé da montanha, e degustar um pouco de descanço.
1 Na verdade não é bem assim... acredito que sim, que mostramos muito do que somos, como pensamos, valores e outras coisas quando nos comunicamos, escrevemos, quando fazemos qualquer coisa. Nos mostramos em cada coisa que fazemos: ao mandarmos um email, arrumarmos uma estante, contarmos uma estória... ↩
sábado, 22 de agosto de 2020
O vazio que fica quando você se vai
Ontem aconteceu algo estranho: acordei às 5 da manhã, e não consegui voltar a dormir. Parecia ansiedade.... mas uma ansiedade com propósito. Logo, depois de rolar um pouco na cama, decidi que o jeito era me levantar e começar a trabalhar: como um ataque final ao cume de uma montanha, lá fui eu...
...e quando deu 4 da tarde parece que um grande abismo se estendeu como um tapete à minha frente: não havia mais nada para acrescentar no "papel": havia terminado.
"Acabou?", pensei.
Sim, havia acabado. Uma sensação estranha, um vazio prazeroso mas desconfortável. Penso nas tantas vezes que caí na falácia de planejamento ao longo do caminho: "mais duas semaninhas e acabo", disse a mim mesmo em fevereiro quando acabara de voltar dos EUA, algo que repetiria umas tantas outras vezes até aqui. Como é curioso esse processo de nos auto-enganarmos...
É claro que finalizar algo não significa jogar pro mundo. Há certamente rituais a seguir, procedimentos a adotar: reler, preparar, corrigir, tirar uns dias pra reler.... mas só de saber que "tudo oque era pra estar ali, lá está" já é um enorme alívio. Só me resta lidar com esse vazio que fica por dentro... parte dor, parte coceguinha-na-barriga...
... enfim...
terça-feira, 23 de junho de 2020
ποιέω/Poiesis
terça-feira, 9 de junho de 2020
O não óbvio, numa devida nota ("Ode ao número zero")
1 "-...merece mais que isso", diria hoje.↩
2 Em matemática isso é o equivalente a se compactificar um espaço, i.e., dando uma representação "física", ou "simbólica", pra tudo aquilo que foge de certo controle; no caso, o "infinito" deles. ↩
sábado, 6 de junho de 2020
Por um triz (parte 1)
1 Algo que só fui ter competência, e distanciamento emocional, pra perceber anos mais tarde. À época, pela quantidade que estava aprendendo, não soube atestar se era por mérito dele ou meu. Mais curioso ainda é ver como isso me faz ter sentimentos ambivalentes quanto ao lugar, que ainda tem tantas pessoas que gosto, como o tal ex orientador da estória. ↩