sábado, 21 de maio de 2022

16 dias entre o oriente e o ocidente: oceano sem água

É sabido por razões óbvias que em oceano sem água sereia nenhuma nada, nem marinheiro algum navega. Então às vezes precisamos parar pra tentar fazer sentido das coisas e das direções que seguimosBotar ordem na casa! Como diria Teodoro Madureira: "-Em cada lugar a sua coisa, e cada coisa no seu lugar". Parte desse processo de resignificar as coisas e colocá-las no lugar passa pela culpa. E hoje vejo que não sou o único culpado, disso eu tenho a certeza.

Temos a tendência a botar a culpa nas pessoas, apontar dedos, a bradar por orgulho que nos diminuímos, que nossa dor foi ignorada, e a "raiva" acaba nos cegando. No entanto, num koinobori, concluímos que se essa viagem durou tanto foi porque ela era sobre o caminho, não sobre o destino final que o futuro ainda estava por desvelar. Não me engano ou me blindo em vitimismo... ou ao menos tento não me enganar com jogos de palavras. 

Infelizmente, muitas vezes não vemos que os erros que levam a uma falha não moram nas pessoas que os testemunham/cometem, e sim na estrutura daquilo que as mesmas constroem. Isso! Desde o começo, minhas palavras eram claras: "já conheço os passos dessa estrada".. não existia ponte visível entre o mundo dos homens e das sereias, tão longe viviam esses dois universos. (Oque não significa que não poderia ser construída.) Me amarrava ao mastro do navio para resistir àquele canto: "Distância não", algo que me vinha por saber que o começo era legal e que depois pioraria  (não quero soar frívolo, mas tive alguma experiência com o tema). Curiosamente, trata-se de uma grande falácia de planejamento da qual se fala bastante em ciência comportamental: eu alertava, mas quando falava sobre, o outro lado não via - achava que dessa vez era diferente... Da minha parte, eu gostava mas sabia que oque tinhamos ali estava sempre à beira do precipício, arriscado a cair no mesmo engano... o engano de acharmos que não iria doer. 

Sim... a falácia de acharmos que temos o controle de todo o processo. Mas... quem controla o gostar? Quem consegue domar esse processo de se enredar em alguém? Não devia ter despertado, mas... aconteceu. Dois lados que seguiam juntos mas desconfiados: vejo o outro ajoelhado, mas seria isso uma reza? A diferença entre o agir e falar... e em um dado momento fomos engolfados por essa estória. 

Conseguir ter a clareza das coisas é difícil. Separar fatos das pessoas que os vivem... poutz, mais difícil ainda: exige maturidade e, com sorte, algum momento de lucidez - difícil vermos o mundo que nos cerca em meio a um nevoeiro, não? Nesse meu "excesso de lucidez sem amarras", rememoro elaborações antigas. E as sustento: a distância corrói... e desde o começo alertava pra esse fato.

 "

Um amor assim violento. 

Quando torna-se mágoa. 

É o avesso de um sentimento. 

Oceano sem água

Caetano Veloso, Queixa

Mas a distância não define uma relação: às vezes ela é parte dela. Period. E uma parte que pode ser transiente também e deixar de existir.  Oque talvez estejamos ignorando seja justamente as palavras que disse lá no começo, que uma reflexão profunda talvez mostraria logo de cara: não dói porque um lado ou outro esteja errado; dói, isso sim, porque é a natureza de se ficar longe de quem se gosta/ama. A incerteza nos faz vítimas de um futuro cheio de possibilidades. Um futuro empilhado em montanhas de separação, um apinhado de dificuldades que parecem pequenos diante de um querer tão grande... querer esse que nos foge ao controle quase: uma coisa que mete medo pela sua grandeza, envolta na turbulenta aflição de um mar de dúvidas.

Difícil deixar passar as palavras recentes... a conivência/tolerância(?) diante do inexplicável, da impulsividade, um pedido de "imposição"(?) que transcende o razoável... ondas, desejos de vingança que tentam nos corromper, uma desnatureza sem tamanho que nos força a fazer oque faço agora: parar, refletir.. e tentar entender. 

A estupidez bate à nossa porta (ou nos envia "solicitações-de-contato-não-solicitadas"), e por um segundo nos deparamos com a ilusão de que discutiremos com o irracional por meio de argumentos em volta de uma mesa de chá (um pouco do que acontece com nossa política no Ocidente, diga-se de passagem). A razão bate forte sem esperança contra a nossa dureza... porque, no fim das contas, não se trata de razão: esta eu deixaria pros livros de matemática. 

Não nos esquecer de sermos justos... Um amor assim delicado, nenhum homem daria ou tomaria como "dado", pronto, esperando pra ser encontrado: não existe alquimia que o explique, explique seus detalhes+imperfeições, sua química, seus arabescos, sua unicidade. 

Talvez nem tenhamos errado… mas sim cometido o pecado de termos apostado na alegria. 

[No entanto, diferentemente de Caetano, não faço queixa, mas sim uma reflexão...]
[... vai ver é isso que hoje carrego na bagagem.]
[Obrigado, Caetano: bebi um tanto nas tuas palavras.]


Nenhum comentário: