"Since I had nowhere permanent to stay, I had no interest whatever in keeping treasures, and since I was empty-handed, I had no fear of being robbed on the way" [Matsuo Bashô , The records of a travel-worn Satchel]
segunda-feira, 5 de dezembro de 2022
O pleito, as pestes e a copa do mundo
quinta-feira, 21 de abril de 2022
Entre braçadas
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022
Já foi?
Situação estranha que é essa de ter um orgasmo. Ainda mais, de gozar em linguas diferentes. Em inglês, seria um "veio" ("to come"), da mesma maneira que em Francês (viens). Por sua vez, em Japonês se vai ("iku", do verbo ir... mas que, provavelmente, um japonês nativo há de te dizer que o kanji é diferennte, embora sejam verbos homófonos). Em Português, diferentemente dessas outras linguas, nem se vai, nem se vem, nem mesmo se fica: se goza. Como se fosse o fim de uma ato que findasse em plenitude. "-Nem fui, nem vim, e nem me pergunto como cheguei aqui: só sei que me deleitei".
A parte mais curiosa dessa jornada a algum lugar, essa promenade "pra aproveitar algo", é o fato de que, diferentemente de passeios de barco, de lancha, de jet-ski ou de charretes, não se pode ir neles sozinho (well...técnicamente sim... mas vamos ignorar esse detalhe): são passeios em grupo, onde se vai na garupa de alguém, ou ao lado de alguém - ou alguns, caso haja mais espaço no barco.
De toda forma, por mais gente que caiba, a questão toda dessa viagem vai além do transporte: é uma viagem em que nunca se sabe onde se vai chegar e, curiosamente, onde duas pessoas num mesmo barco podem viajar e chegar em lugares muitos distintos. Como um paradoxo Físico, partículas regidas pelas mesmas equações e gozando (!) das mesmas condições iniciais acabam chegando a lugares distintos num mesmo intervalo de tempo. Gozar tem essa natureza absurda-quase-quântica - a de estar e não estar num mesmo lugar, e ainda assim não ser quantico, por não ser quantizado em pequenas parcelas: quando vem, é como uma erupção, consumindo todas as cidades e vilas nos arredores.
Mas vejam: eu também já me desvio e vou parar num outro lugar que não oque imaginava. Me perdõem... me perco, mas agora volto! (Francês ou Inglês?) Fiquei pensando essa semana nessa natureza linguística do orgasmo e, me arriscando numa auto-avaliação que me levasse a vales mais distantes dos infortúnios de se chegar a ele. Me perguntei, como é difícil exercer esse papel de viajante, entertainer, e guia de grupo que o prazer nos exige: você ali, com a bandeirinha, chamando a atenção de viajantes que se perdem em fotos e selfies, discutindo o troco em barraquinhas de milho, em sonecas num banco de praça. Isso quando você não é a pessoa a ser chamada a atenção. Sim, meus caríssimos leitor(a)es: muitas vezes somos nós a nos perdermos ao longo de tal viagem e, quando regressamos ao grupo, levamos uma bronca por deixarmos todos esperando: "-o ônibus já estava de saída!!". Isso, claro, no melhor dos cenários: às vezes o ônibus já saiu há tempos!
É.... gozar é difícil, se é que vocês me entendem. E pior, muitas vezes acreditamos estar num hiking onde todos estão aproveitando, chegamos no cume da montanha, para vermos que estamos sozinhos lá em cima. "-Ué... cadê todo mundo?" De alguma maneira, o orgasmo tem essa estranha beleza de nos empurrar em contato com oque temos de mais egoísta.
No entanto, se nos mantivermos atentos, o orgasmo pode também nos aproximar daquilo que temos de mais "autruístas": o doar-se para uma causa nobre, o ceder para que todos aproveitem a viagem. E, não se esqueçam da bela lição que pode nos dar para que melhor saibamos ouvir e aprender diante de fracassos e vergonhas. Isso porque, é claro, muitas vezes assumimos que todos estão adorando tudo quando, no fim das contas, uns estão sendo comidos vivos pelos mosquitos enquanto nos lambuzamos de repelente. O orgasmo nos mostra essa grande virtude que é ouvir, admitir erros, e também saber dizer pros outros que não, a viagem não foi boa (ou, ao menos, não chegam a um lugar comum ao fim dela). Lembro da primeira vez que uma ex me disse que havia mentido, "faked it". Ao mesmo tempo fiquei envergonhado e feliz: uma certa vergonha pra mim (presunçoso) e pra ela (de certa forma), que se sentiu pequena por não ter dito a verdade. Nesses momentos, rápidos e efêmeros como de átomos que se dividem, a gente pode aprender muito: alguns se escondem e os evitam, enquanto outros (presumo que fora nosso caso) resolvem correr ao guichê pra comprar mais tickets, viajarem novamente e seguirem aproveitando a paisagem até, eventualmente, aprenderem a viajar juntos.
Mas, claro, tudo depende da pessoa... é difícil nos vacinarmos contra essa presunção de que o outro "chegou lá também". Lendo Jorge Amado encontrei esse trecho em que ele descreve, de maneira sutil, mas sem delongas ou palavras desncessárias, o famoso "- oque... você já gozou?" pelo qual todo homem passa. E, se não passou, é mentira: esses devem ser os que mais rápido terminam tal ato.
"Foi tudo muito rápido e pudibundo, por assim dizer. Muito diverso de quanto conhecera Dona Flor, e por isso mesma ela se perdeu e não o alcançou em tão mudo e austero possuir-se. Apenas desamarrara no pasto do desejo e já ouvia o canto de vitória do marido no outro extremo da campina. Ficou Dona Flor como perdida, opressa, uma vontade de chorar."
Dona Flor e seus dois maridos, Jorge Amado.
Uma arte.
Um exercício (zen, talvez?).
Uma viagem.
Uma lição.
Um passeio.
Um devaneio.
Um sonho.
"-ihhh .... já dormiu?"
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
Faz zum-zum pra mim
terça-feira, 28 de setembro de 2021
Dear editor...
Dear referees and editors.
Anonymity does not grant you rights to be jerks.
I think you are a fuc**** idiots who have not read the paper.
Sincerely,
Momo
[I wish I could leave the academic world in such a grand style]
[but I was a bit more polite than that 😁 ]
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
Pessoa-iceberg
Pouca gente repara nisso, mas há algo muito comum nas pessoas que se expõe ou resolvem criar algo: oque elas mostram em geral é somente uma fração diminuta do que elas realmente criaram. E nem falo sobre o fato do trabalho ter sido reduzido, polido, enxugado a um produto final. Falo, isso sim, de só vermos aquilo que o autor considera digno (ou com algum valor) para chegar à luz do dia.
Acho que todos que criam tem isso, de uma maneira ou outra. Há algum tempo soube que o Prince tem um arquivo gigantesco de coisas que gravou em seu estúdio, mas que nunca considerou para divulgação (a família que está lucrando com essa estória). Adiciona-se a isso outros nomes: Jimi Hendrix, J.D. Salinger etc. Tudo oque essas pessoas publicaram em vida é uma ponta de iceberg diante daquilo que veio depois. É claro, há muita discussão sobre a legitimidade de alguém sair publicando coisas que estes consideravam indignas de serem vistas/ouvidas/lidas. Mas isso é outra discussão.
Comecei a pensar nesta questão ao reparar em quanta coisa eu tenho que nunca achei que deveria ser finalizada, ou mesmo trabalhada a um produto final. Este blog, por exemplo: possui 694 posts publicados, e um total de 975 escritos, oque dá uns quase 30% de coisas que provavelmente nunca vou postar - ou por falta de vontade de terminá-las, ou por achar que não são boas, ou simplesmente por não ter mais tesão nelas. No que diz respeito a trabalho, a taxa fica por aí também: uns 30-40% em artigos esquecidos que nunca fui atrás de finalizar, de programas que não fui atrás de debugar, de pingos nos "i's" que deixei de dar.
Existe um equilíbrio enorme neste caso que tem dois extremos: uma pessoa que divulgue tudo oque faz (talvez este tipo de "artista" já exista; o Instagram está cheio deles haha) e, num outro extremo, um artista tão exigente consigo mesmo que não divulga nada.
Mas vamos fugir de extremos por agora e voltar ao mundo dos humanos "normais", que vivem num meio termo entre estes dois casos. Fico refletindo sobre as taxas de cada pessoa. Será que as pessoas têm isso? Será que existe um "quociente de aproveitamento/divulgação" de cada um? Talvez, como disse anteriormente, a questão nem seja o quanto se aproveita, porque ao sermos exigentes com oque deixamos "escapar" pro mundo damos sinal de senso crítico, de respeito por nós mesmos (e pelos outros), além de curarmos aquilo que criamos.
Ao que parece, gerirmos nossas vidas como uma ponta iceberguiana que os outros vêem e uma parte "obscura", longe de olhos alheios ("longe de olhos alheios".... vou virar cantor de lambada depois dessa :) que pode até parecer inútil, ou lixo, mas talvez sirva como uma base de sustentação a tudo aquilo que chega ao crivo do mundo.
Me estendo então, e penso num outro iceberg - visível/invisível - que fica entre oque dizemos ou não. Claro, se não digo nada do que penso eu viro uma pedra. Por outro lado, se disser tudo oque penso - sem freios ou amarras - posso acabar em sérios problemas (na verdade este último caso se trata de uma doença chamada "sindrome de Tourette").
[Mas por que comecei a falar disso tudo mesmo?]
[Bom, ao menos dessa vez vou dar um destino diferente a este post, tirando-o do submundo dos posts que nem ouso publicar....]
terça-feira, 27 de julho de 2021
Entusiasmos numéricos, ma non troppo (parte 1)
Ouvi aquilo e fiquei quieto. Quem sou eu pra ficar dando aulas de porcentagens e seus significados pra alguém? Fiquei na minha... a Matemática te dá essa virtude meio ambivalente (pra não dizer chata): a de te roubar a poesia de algumas coisas e de adicionar mais cor à outras... um tradeoff meio estranho mas que, no fim das contas, quem trabalha com números acaba por aceitar.
Até aí tudo bem. Conversa vai, conversa vem.... e minha mãe volta a insistir nesses 600%. Aí começou a dar coceira... pqp... será que eu falo algo? Fui desviando a conversa, andando pelas beiradas para não cair nesse abismo das divergências familiares. Oque: eu, ser chato? Nunca! Eu estava na minha, e ali fiquei enquanto pude.
"-Mãe, me desculpe te dizer, mas 600% não é muita coisa... não sei como mediram isso, mas isso é no máximo 6-7 vezes o tamanho do brinquedo... não vai ficar do tamanho de...sei lá, um tiranossauro que não vai caber na banheira..."
Por alguns segundos ficou aquele silêncio no ar... um clima de decepção, como num presente de natal que não corresponde com o imaginado, como se uma esperada bicicleta acabasse virando uma meia mal embrulhada.... ou um eterno 7 a 1 que não acaba.
Mãe, me desculpe... da próxima fico quieto e falo pra vocês tomarem cuidado.
Digo que é capaz do boneco crescer tanto que não caberá no apartamento.
Ou que ganhará vida, e que com um carnívoro tão mortífero não se brinca.
Ou que o peso do boneco pode colocar a da criança em risco....
quinta-feira, 8 de julho de 2021
Adultescência
Pensei há alguns dias em perguntar pra minha mãe quando ela havia se dado conta de que era uma adulta. Quando saíra de casa? Quando teve o primeiro filho? Quando uma conta de telefone chegou no nome dela? Mas mudei de idéia.... acho que minha mãe sempre foi adulta, não consigo imaginá-la criança...
Acho que, dessa pandemia, vamos todos levar algo: todos ficamos mais velhos e adultos depois dela. Será que por conta da nossa proximidade com a morte? Por termos sido lembrados constantemente de como somos finitos, de como todos os que amamos um dia vão morrer? A pandemia foi isso: um balde de água fria em todos, nas horas mais inoportunas. É vírus isso, é virus pegando no pé de jovens, de adultos, de idosos e crianças.... se você lê isso agora, acredite: você, assim como eu, só sobreviveu por sorte.
É... eu fico meio assim de aceitar tal idéia. Acho que minhas medidas ultra higiênico-sanitárias foram uma barreira intransponível que vírus algum poderia vencer... quando na verdade não: bem provável que, se estivesse em algum outro país (por ex., Brasil, EUA, Índia) estaria lá eu, na maca do hospital, doente, temendo pela minha própria existência, e pensando em todos os 5 filhos que não tive. "-Eu pelo menos deveria ter casado e deixado um livro pra eternidade", aposto que pensaria.
Pois bem... aqui me encontro com a sorte de um náufrago que passou pelo pior, mas agora se vê cercado de água, água e mais água. O desconhecido que nos cerca e no qual nos mergulhamos de corpo inteiro chamado... vida.
Mas nem era bem por isso que comecei a escrever.... era mais pra comentar a sorte de estar aqui, e em como envelhecemos. Divagação não de agora, pois me colocou a lembrar de outra que tive quando adolescente, vendo aqueles livros de História com aquelas fotos antigas do Brasil, com aquelas pessoas de 30 e poucos anos usando bengala, barbas tão grandes que mais pareciam velhos de 60 anos. Por que será que eles queria envelhecer? Ou oque será que fez que envelhecessem tanto? Será que daqui a 100 anos alguém vai olhar pra nós e dizer "-Nossa... olha como eles eram antiquados...será que eles não tinham vergonha, gente de 20 anos andando com essa geringonça desse celular... mexendo no instagram?"
Em suma: será que nós já usamos bengalas e não sabemos?
Fiquei na dúvida... ainda mais quando me peguei no espelho há alguns dias com a barba mal feita.... vi ali um prenúncio de Prudêncio de Morais ou algo assim (well... mais pareço aquele meu comparsa da pringles)... a vida me pregando uma peça, puxando meu tapete...e me envelhescendo sem que eu nem mesmo perceba. Talvez isso tudo explique essa dorzinha nas costas que ando sentindo...
sábado, 5 de junho de 2021
Repita comigo, pequeno gafanhoto...
Sabe uma coisa que me deixa meio impaciente?
Sabe?
Gente repetitiva.
Aquela tia que fica falando mil vezes que o presidente não presta (ok, é óbvio, concordo)... mas é mesma coisa que ficar repetindo "a Terra é redonda" infinitas vezes.
Vai ver é coisa de família... como é a tua? Por exemplo: meu pai é uma pessoa que tem o dom supremo de ser super repetitivo. Toda vez que o vejo quando visito o Brasil lá vem uma enxurrada de perguntas estapafúridas: "-E aquele vizinho que morava no andar de cima... que tinha um cachorro e uma esposa?".Perguntando sobre um apartamento onde morávamos há 25 anos atrás.
E como uma sequência de clássicos que um velho cantor deve cantar para agradar seu público, meu pai sempre traz consigo as perguntas clássicas: "-E o Júlio?"... (que faleceu há uns 10 anos, e há 10 anos eu falo pro meu pai que ele faleceu.
Em vão.
Tento me devencilhar do assunto, mas sou fisgado com um jeb no queixo que me joga às cordas: "-Te falei do dia que eu encontrei o Júlio ali na praça da República?"
Olho pro teto.... me pergunto se há alguma toalha branca a ser jogada para me salvar daquela conversa.
Aí me bate aquela angústia de me ver nessas conversas rasas de boteco, vendo e ouvindo aquelas mesmas perguntas sempre ali, sentadas na mesa com a gente. "-Minha vez!", uma delas diz, e se joga na mesa, querendo ser perguntada... "-E a filha da Maria... como é que ela se chamava mesmo?"
Fico pensando nisso e me exaspero um pouco... onde está a poesia disso tudo? Será que existe uma pitada de absurdo nisso, um quê de Ionesco ou de Becket na minha vida/família? (Seriamos nós rinocerontes?!)
No meio de tantas reflexões sobre o tema (uma das quais postei aqui) vim a perceber há um tempo qeu eu, também, sou um repetitivo inveterado. Daqueles sem conserto: frequento os mesmos restaurantes, conto as mesmas piadas (minha mãe é mestra nisso), uso as mesmas expressões, vou sempre nos mesmos cafés... carrego comigo uma inércia que muitas vezes me aparece anormal. Me pergunto se outros seres humanos... digo, seres mais humanos que eu sofrem isso também.
Será?
Muitas vezes me questiono.. me pergunto se essa limitação na verdade é uma intransponibilidade de qualquer caminho. Uma pedra no meio da trilha pro cume de qualquer montanha que não pode ser removida. Me lembro com cautela do "Zen in the art of archery", quando o autor fala de quando seu mentor se dá conta de que ele estava tentando "enganá-lo", usando uma técnica de tiro (a maneira de pegar a arma) pra poder atirar flechas e, finalmente, melhorar sua pontaria: o professor pegou o arco, caminhou até um canto.. pensou... e disse pra ele ir embora. A repetição era oque ele poderia oferecer, e que se o objetivo dele era só "conseguir algo", um "diploma", que este já lhe estava dado. Nem preciso dizer: o autor se desculpou, voltando pro esquema japonês de repetir, repetir, tentar, até assimilar.
Talvez, no fundo, seja uma limitação da qual muitos sofrem mas poucos se dão conta. Ou poucos se dão conta de como as repetições são tão cruciais na construção de muita coisa. Uma aliteração, um efeito que reverbera quando usado em demasia, um fenômeno que se amplifica como um olho de furacão, a adoção de um outro ponto de vista depois de uma segunda, terceira, ou mais leituras. Vai ver repetir é um pouco oque Fernando Pessoa dizia: é entrar no mesmo rio, sem que este rio seja o mesmo.
terça-feira, 18 de maio de 2021
Direto da Terra do Sol Nascente #113: assinando como gente grande
E olha, eu sempre achei que quando crescesse fosse ter aquela assinatura bonita, daquelas que fazem uma curva enoooooooorme de grande que toma quase metade da página parecendo uma órbita de nave espacial, e que é replicada a cada vez com um traquejo sem igual da caneta, rápido como uma flecha: a pessoa te dá um papel pra assinar e vup! Num piscar de olhos, você já assinou tudo da mesma forma, milimetricamente igual.
1 Do qual falei neste post de 2020. ↩
sexta-feira, 26 de março de 2021
Serás exibicionista e se alimentará de likes...
quinta-feira, 4 de março de 2021
Quase sempre sereia
Quando divago por aí - oque não é raro - sempre me vem à cabeça esses seres míticos que são as sereias: os homens caem de amores pelas mesmas mas acabam morrendo afogados ao seguí-las pro lugar de onde estas vieram.
E olha, não acredito que sereias estejam mal intencionadas! Acredito que muitas querem mesmo levar uns marujos bonitões pra casa, apresentar pra pais e amigos, levá-los pra comer pastel na feira, dentre outras coisas.... mas, quando lá chegam, reparam que não: "-mais um pretendente que não conseguiu completar a viagem".
Outra coisa que sempre me estarrece nessa estória de sereias é o fato de que nem um nem outro deixa de ser (ou mesmo pode deixar de ser) oque é para estar chegar ao outro lado: há uma obstrução intrínseca às suas naturezas - de homem, de sereia - e, mesmo diante do óbvio, os dois lados se deixam levar pela maré das risadas, do conforto, da companhia que um oferece ao outro.
Navegador de muitas viagens, já me amarrei no mastro umas tantas vezes. Em todas eu grito, falo, perco a razão, sofro, mas recobro o juízo pra ver que sim, lá se foi mais uma sereia que passou pela minha vida. Olho pro meu barquinho, poupado de um triste naufrágio, e me pergunto se algum dia, mesmo nessa vida cercada de mar por tantos lados, hei de encontrar algum ser que se adeque a mim, e que entenda que talvez seja assim, entre dois mundos, que muitos amores existem, tomando forma e vida em meio às imperfeições daquilo que os cerca.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
Direto da Terra do Sol Nascente #107: they love me (ou "lá, e de volta outra vez")
S me quer.
Ouvi ontem. Como um poeminha enviado anonimamente por terceiros, como uma declaração não avexada de desejo, me disseram oque poderiam me oferecer. Me senti como num estranho date, onde o outro lado recita seus atributos:
"cintura 82, coxas... gosto de cafuné mais pela manhã, antes do café.."
uma série de coisas das quais pouco havia ouvido falar. Vai ver sair da academia é isso... outra coisa mesmo.
Foi bom, e estranho.Talvez o estranho esteja mais envolvido com um possível regresso ao Brasil, este que, como eu, também regressa a algum lugar: a idade da pedra e do homem selvagem. Olho as notícias políticas, vejo a barbárie que não vem das ruas, mas sim dos políticos... mas também contrasto isso com outros casos. Não é verdade que há poucos meses atrás os EUA não andavam pela mesma corda bamba? É.... mas naquele caso eu fugi de lá, evitei, desconversei quando me falavam de vagas de emprego...
... e então, porque o Brasil?
Bem... acho que há uma comunhão de fatores que me levariam a isso. Do ponto de vista profissional talvez seja uma estratégia "sub-optimal" que pode sair pela culatra caso eu me assente em conforto, embora no médio e curto prazo talvez me seja bom. Do ponto de vista financeiro também, algo a ser ponderado com cuidado. Do ponto de vista pessoal acho que seria ótimo viver essa transição perto de família, sobrinho, sereias tropicais, carnaval-inexistente-pandêmico, amigos.. toda uma rede social com tramas de calor humano, carinho, amor e conforto.
Fácil contrastar tudo isso? Não, de forma alguma. Mas enfim, ao que parece minha vida já teve diversas dessas situações de "vai-não-vai": no final da graduação, comecei um mestrado em São Paulo pra descobrir que fora aceito no Rio (pra onde me mudei); no Rio, comecei um doutorado pra descobrir que fora aceito num programa nos EUA (pra onde me mudei); nos EUA, me vi numa outra encruzilhada ao pesar um regresso aos Brasil ou continuar nos EUA mais um pouco (onde fiquei). Agora, por aqui e por agora, me divido entre aceitar, ficar, e esperar oque A tem a dizer. E se A disser não (provável, em vista da minha última "performance"): fico mais por aqui, só mais um pouquinho?
Aguardem as cenas dos próximos capítulos.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
Direto da Terra do Sol Nascente #103: Amazônipônica
Uma das coisas que mais se abala enquanto buscamos emprego é não outra senão nossa auto-estima: é bordoada de tudo que é lado, não, rejeição.
É triste.
Você se sente mal, incapaz, impostor, infeliz. E às vezes acontecem umas coisas que te fazem lembrar de quem você é. Noutras, acontecem coisas que nem tem tanto a ver com você, mas que jogam sua auto-estima lá em cima. Como foi o caso hoje: o pessoal da Amazon jp bateu na minha porta, me convidando pra me candidatar a uma vaga de pesquisador na unidade de Tokyo.
Pqp... Tokyo?
Dei uma desconversada... pensei no quão difícil seria dizer não caso viesse realmente uma oferta de trabalho de lá. "-Vou fazer alguma merda e dar fim a esse processo", pensei comigo mesmo. "Eles vão olhar meu resume e ver que não valho nada", outro pensamento me veio à cabeça.
Nem um, nem outro: o chefe do grupo de AI deles me ligou hoje. Meu nervosismo inicial, combatido com um "só vou conversar, isso não é uma oferta", logo foi jogado a escanteio: a conversa seguiu bem e se alongou por um bom tempo.
Oque me parece mais complicado é que ele me pareceu honesto ao falar das dificuldades e desafios. Retruquei sendo igualmente honesto: falei que quero voltar à América, o mais perto possível da família, o mais longe possível do Japão. Ele pareceu ter ido com a minha cara, gostado das minhas perguntas: falou que haveriam mais fases adiante, que deveria fazer A e B...etc... me assustei.... me assusta só de pensar que, mesmo dizendo a ele que este é um caminho não contemplado em qualquer rascunho de projeto vago que tenho na minha vida, seria mais um ou dois anos em Tokyo...
Hoje, mais tarde, ele me contactou novamente pra me dizer que eu estou na próxima fase, e que um recruiter da empresa há de entrar em contato. Meu ego parece um pouco alterado - sinto um certo alívio "vai ver você é uma fraude menor do que imagina, ou simplesmente não é uma fraude", penso/sinto... mas mesmo essa sensação mais ou menos boa não arrefece meu desconforto em imaginar mudança tão grande de rota de migração. Um brasileiro, que nunca viu a amazônia, encontrar uma "cópia desta", incrustada no coração de Tokyo, a milhares de quilômetros de sua terra natal.
Bom... não vou pensar nisso por agora. Que fiquem os louros do "reconhecimento", se é que há algum: ao menos estou sendo notado (embora não saiba bem como ou porque). Uma pena que vieram também as angústias do reconhecimento, em termos atenção que buscávamos mas das "pessoas" erradas.
Vai ver é assim mesmo: a vida é cheia de tropeços.
sábado, 9 de janeiro de 2021
Culpado de amor
Quando adolescentes o rock n' roll era uma parte importante das nossas vidas. Ou diria, de quem éramos: quem gosta da banda X é assim, da banda Z é daquele jeito etc. E, comumente, tirávamos sarro dos gostos dos outros: algo que uns levavam numa boa, e outros combatiam com ira belicosa.
Claro, muitas das bandas que gostávamos cantavam em inglês. Pra sacanearmos alguém que gostava de uma banda não era incomum cantarmos algo do repertório da banda em português, enfatizando o quão iletrados eram os autores da canção. Desses embates saíram versões como "medo de escuro" (uma versão de "fear of the dark", da banda Iron Maiden), "poção do amor" (uam tradução bem forçada de "poison heart", dos Ramones) e.... "culpado de amor" como uma versão de "guilty of love" do Whitesnake.
Me lembrei dessa estória esta semana em meio de risos, mas parei ao tentar encaixar duas palavras tão dispares numa mesma frase: "amor" e "culpa". Como num jogo de tetris, tentava encaixá-las na minha vida, em algum evento. Não tive êxito até me lembrar das vezes em que, nos primeiros dates com alguém, a palavra "namoro", "compromisso", surgia. Quando alguma mãe ou pai se referia a mim como "-o teu namorado" ao invés de "Rafaello". Em momentos assim não há escapatória: você assume o papel que te dão, sentado calado no banco dos réus.
"-Ahhh, mas foi só uma ou duas noites calientes com tua filha, isso não configura um relacionamento", eu poderia dizer num picosegundo, tão rápido quanto um "terms and conditions apply" dito de maneira suave por algum locutor de voz aveludada num daquels comerciais de produtos milagrosos que fazem tudo e custam quase nada.
"I'm a boyfriend in this event... Not valid in other events or states... terms and conditions apply".
Vai ver "culpado de amor" é algo assim... mas então não seria melhor "acusado de amor"? Sei lá... melhor esquecer desses dias em que sentei nos bancos dos réus 😝
domingo, 25 de outubro de 2020
Minotauro no divã
Tive compaixão por mim mesmo, ao ver que cada um desses labirintos não só têm infinitas portas de entrada, mas também infinitos meios de saída. Nessa hora, vi amarrado em meus tornozelos o fim do texto:
¿Cómo será mi redentor?, me pregunto. ¿Será un toro o un hombre? ¿Será tal vez un toro con cara de hombre? ¿O será como yo?
sexta-feira, 18 de setembro de 2020
Direto da Terra do Sol Nascente #96: quando você está na chuva se encharcando de poesia (ou "página virada")
Well well well... nem um, nem outro: nem na chuva, nem encharcado em poesia. QUEM ME DERA!
Não, por aqui tudo na mais prosaica mesmice, exceto que.... finalmente me vejo livre de zeros e uns. Vida que deixa de ser binária, ao menos por um tempo: acabo de me livrar do meu artigo e submetê-lo.
Caramba... deu até um frio na barriga!
Fiquei me perguntando o porque: me lembrei do primeiro, também sozinho, eu me sentindo perdido, sem confiança de que aquilo poderia funcionar... cheio de dúvidas quanto à qualidade do produto... um momento de exposição ao mundo... bem parecido com o que senti na última vez que escalei, a uns 20 metros de altura, prestes a ficar exposto num flanco de uma montanha, atrás de mim somente o nada, acima de mim nada, abaixo de mim somente chão e uma corda passando por um carabiner.
Quem te segura?
Quem segura tua mão?
Ansiogênico, um tanto angustiante. Curioso que parei em alguns momentos pra tentar entender oque se passava, e me vieram lembranças de primeiro dia de escola nova, do tal primeiro artigo submetido sozinho, de tantas outras coisas.... viver e se submeter ao novo... será que vivo sob este lema? Acho que não, tenho quase certeza que não.
Mas porque? Porque não ir atrás das novidades, do que há de diferente, de obscuro, de interessante? Porque ficamos no que conhecemos, cercado de rostos conhecidos, adicionando "epsilons" (pra não matemáticos, "grãos de areia") àquilo que já sabemos? O fazemos por medo, por curiosidade diante daquilo que fazemos, por genuinamente termos interesse no que fazemos, ou por que é oque sabemos fazer?
Não sei, simplesmente não sei... só sei que o que fiz agora é página virada. Sinto começar uma nova época.
["uma nova era"... imagine cristais descendo do teto]
[eu com uma bata colorida.. :P ]
Um novo momento onde, por algum tempo posso ousar, me permitir fazer outras coisas, priorizar outras coisas. Ou melhor: priorizar-me!
Foi curioso... até 5 minutos atrás, quando cliquei no "submit", meu coração se enchia de medo, de ansiedade, de dúvidas... Já agora.... essa névoa se dissipou. Foi o primeiro dia de escola em que descobri que ninguém ali falava chinês durante as aulas, ou que na carteira ao lado se sentava alguém legal... Muito interessante sentir isso de novo, essa angústia de ter que me bancar diante do desconhecido, sem qualquer respaldo, sem ser introduzido por alguém, sem ser amigo do rei (grande Bandeira!), e mesmo assim... preparando o terreno para me sentir em casa.
Como um grande círculo, volto para o mesmo lugar... com o corpo cansado diante da volta que dei.
Colocar a cabeça pra fora da janela.
Ir, ver, e voltar.
Talvez viver e aprender seja um pouco de cada uma dessas coisas.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
A esta hora... você por aqui?
"...ansiosos fiquem, aqueles que pelo futuro esperam, pois estes, serão agraciados com a divindidade do tempo"[Eclesiastes, 46-31-9999]
"O futuro há de chegar com suas verdades eternas, e há de dissipar os equívocos, daqueles que hoje se deleitam em obscuridades"