Sempre penso, enquanto nado, na analogia entre cada braçada e um grão de areia que culmina numa duna: no fundo, nadar uma longa distância é o mesmo que concatenar um monte de braçadas inexpressivas. A grande questão em se percorrer uma grande distância então está em mantermos a calma, a respiração e aceitarmos que grandes mudanças/transformações podem levar, sim, muito tempo.
Páro pra reflitir no que as mulhers que passaram na minha vida me deixaram... delas e com elas aprendi muito (assim como aprendo dos amigos, mas é diferente). Sem sombra de dúvidas, todas fizeram de mim uma pessoa melhor (não que eu seja lá grande coisa..). Algumas, no entanto, causaram mudanças muito, muito grandes. Nuns casos, em personalidade - em me fazerem ver que posso sim me engajar num relacionamento e construir conexões; noutros, que deveria contemplar outras possibilidades - como sair da academia. E, mais recentemente, me apontarem que muito do que eu preciso agora não tem a ver com minha carreira somente, mas sim com a minha vida pessoal.
Há 12 anos estou fora do Brasil. Há 12 anos sinto que desenvolvi e me dediquei a uma parte de mim que contempla somente parte da minha personalidade: o meu lado introspectivo, de fazer coisas sozinho, de saber me deparar com a solidão e, em face a ela, encontrar maneiras de encará-la com serenidade. No entanto, carrego um outro lado, mais "carnavalesco", mais leve, que sempre fez com que me conectasse com as pessoas, as ouvisse, e fizesse amigos por onde passasse. Esse último Rafaello, infelizmente, ficou meio apagado nesses últimos 12 anos. E é nele que eu quero investir de agora em diante.
Me levou muito tempo pra acordar pra isso. Muito tempo pra ver que essa resposta sempre esteve debaixo do meu nariz. Me puno, me machuco, chego até a me auto-flagelar emocionalmente um tanto por isso. Mas... sei que todo processo de mudança nasce primeiro em termos consciência de que uma mudança é necessária... com essa consciência em mãos, cabe a nós a ignorar tal verdade (por medo ou algo assim), ou abraçá-la. Eu escolhi a última opção.
Tenho escrito mais ultimamente porque realmente preciso verbalizar tantos pensamentos. A mente parece seguir lúcida e clara nesses dias, mas os sentimentos parecem tentar me inundar de quando em vez como um tsunami atingindo um farol costeiro: a cada onda, eu receio o quanto há de sobrar de mim, e imagino que a dor há de ser pior e não arrefecer. Mas eu sei... eu sei que arrefece.... eu sei que passa...
Meu maior medo na vida, talvez, seja o de um dia parar de mudar ou de me abrir pra ouvir os outros. Sinto muito por levar tanto tempo para fazer isso. Mas... esse sou eu: dificilmente jogaria tudo pro ar por idéias que não me parecem plausíveis de imediato... mas as ouço. E, como pequenos grãos de areia que vão se acumulando na minha orla interior, um dia elas se empilham em dunas gigantescas, intransponíveis como um deserto. A maior prova disso, talvez, seja o fato de que esse ciclo hoje parece se completar da maneira mais inesperada que eu poderia imaginar: com o caminho mais óbvio.
Humildade talvez seja isso: se abrir pra aceitar e acolher, se silenciar diante de algo que nos parece duvidoso mas pro qual não temos argumentos: se abrir para mudar e, então, abraçar tais mudanças.
Como uma amiga escaladora que, tradutora e envolvida em diversos projetos - que, de acordo com ela, "só a deixam mais pobre, mas muito feliz" - me disse recentemente: "let's keep things interesting...that's what drives me". Na hora que ouvi isso, me vi naquela frase: vai ver, no fim das contas, é isso que tenho buscado ao longo da vida...
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