terça-feira, 5 de abril de 2022

Direto da Terra do Sol Nascente #122: lamaçal

 Nunca havia acontecido comigo. Já tinhaouvido falar, mas não, nem havia chegado perto de mim. 

Mas sim, ma hora, como talvez tivesse que ser, aconteceu.

"-Let's just put the name of two more people here: my boss and my superior..."

Reagi num imediato "-no fucking way!", mas não sei se foi o suficiente pra me deixar bem diante da estória. Caramba... que ousadia!!

Sei lá... fiquei meio chateado em ver isso. Fiquei pensando no "lemon problem" do Akerlof, me perguntando sobre o custo de ser desonesto e em como isso leva, por uma força maior que a de cada pequena parte, a corroer toda a estrutura de uma sociedade (no caso, a sociedade científica japonesa). 




Alright, já tinha ouvido coisas similares nos EUA quando estive por lá, não é algo particular do Japão em si. Acontece aqui, acontece em todos os lugares.

Me pergunto quanto tempo levará pra essa espiral culmine num turbilhão onde só o que restar são os mais corruptos. A pergunta é interessante (e o Akerlof, infelizmente, não a responde). Claro, você deve pensar, "-isso nunca há de acontecer! O ser humano é bom e cientistas têm que prestar contas à sociedade!" Aí que mora a assimetria de informação: a depender do meio científico que você está não há avaliador de fora que possa dizer se você está certo ou não. O conhecimento é muuuuuito técnico pra ser avaliado como uma simples leitura por lazer feita opor outsiders.  E olha, nem precisamos ir muito longe da academia pra ver outros exemplos: crise de 2008, milhares de Ponzi schemes pelo mundo, onecoins etc. É um pouco do que o próprio Akerlof e o Schiller falam no Phishing for fools: se alguém coloca um anzol com uma isca, vai aparecer um trouxa e ser fisgado. O difícil é admitir que, às vezes (ou muitas vezes), o trouxa somos nós.

Talvez, infelizmente, resistir a isso é mais forte do que a minha, a tua, a nossa honestidade: se "competidores" (caso você compita com os mesmos pro vagas de trabalho ou por grants de pesquisa) são corruptos e isso os coloca num outro nível de reconhecimento perante juízes (sociedade, bancas de avaliação de projetos, hiring managers), a imoralidade passa a ser um novo standard e todos acabam fazendo o mesmo.

Num outro exemplo, relativamente distante mas não tanto: muita gente que é atleta profissional já me disse que é impossível ser um atleta de alta performance que não se dopa de alguma maneira. Foi na verdade de um atleta que ouvi pela primeira vez que "se você não fizer o mesmo, você nem chega num nível pra competir com os outros". 

Enfim... aconteceu...  em primeiro de Abril de 2022 (mas, se foi piada, foi de muito mal gosto).

[Toca vinheta de fim de programa]


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