Logo que esse processo todo começou eu pensei: "preciso registrá-lo...".. Isso porque não quero somente sair verborrágico, falando pelos cantos, mas ter uma maneira de acompanhar e comparar meu eu de ontem com meu eu de hoje. Não quero me comparar com os outros: quero ver e sentir o quanto eu consegui mudar (ainda mais) nesse ínterim.
Às vezes acho que esse blog é um pouco isso: eu, colocando pequenas "selfies" de mim mesmo, ao longo dos anos. Fotos que dizem um pouco de como vejo o mundo, do que acho graça, de como mudei, de como meus valores eram e hoje já não são mais.
Ontem foi estranho. Em diversos momentos do dia parecia que o ar faltava e eu tinha que dar uma respirada funda pra poder vencer essa sensação de sufocamento dentro do peito. Em diversos momentos eu dava um suspiro longo e alto (tenho dado ainda.. já dei uns vários enquanto escrevo esse texto)... como um lembrete de que não estou afogando.
O Japão perdeu todo o sentido, até meus últimos 5 dias em Tokyo (pois fui ouvir que "deveria ir conhecer o Monte Fuji"... adivinha quem sugeriu?). Tentei ver se conseguia mudar meus planos e antecipar minha volta.... aí vi a merda de planejar as coisas tão bem: tudo tão "amarradinho" em datas e horários que agora está difícil de tirar uma única coisa do lugar.... ahhhh Rafaello.... De alguma forma, esse foi outro grande momento do dia: ficar sendo revisitado pelos meus erros, e tentar não me defletir deles; sentar com os mesmos e ver que, se for pra ser assim, então...
Nesse processo de ser revisitado por sentimentos hostis, vêm uns ecos de coisas antigas. Duas coisas me passam pela cabeça: perder minha ex (que ficou nos EUA) e o medo de perder minha mãe durante a pandemia (em especial, após uma amiga daqui ter perdido a sua, em Honduras). Lembro-me que falava sobre isso com minha terapeuta, dizendo que não sabia exatamente como iria viver sem essas pessoas. Ela, calma, me dizia:
"-Mas Rafaello, você já vive sem essas pessoas...."
Achava aquilo tão Japonês... essa cultura de olhar pra atitude ao invés de palavras.... me soava como uma verdade inaceitável, tamanha, que não tinha como discordar dela. Ainda assim, poderia viver sem, mas que ficariam buracos, ahhh ficariam... E claro, fisicamente é uma grande verdade - vivo sozinho; agora, emocionalmente... há laços e conexões tão fortes entre pessoas que se estendem por um mundo... e nunca se rompem.
Talvez seja isso que eu esteja tentando mensurar agora. Vivo sem várias desses pessoas que fazem parte da minha vida há tempos, mas vivo com elas dentro de mim. E algumas poucas dessas conexões aconteceram tão ao acaso... que, pra mim, sortudo ganhador da loteria, fico grato só de tê-las encontrado. E cada pessoa é diferente também... umas, quando se vão, nos deixam dor, mas essa acaba se arrefecendo por já sabermos que não fazia sentido mesmo (caso da ex): são perdas nas quais você consegue ver o quanto - ao mesmo tempo - elas abrem o mundo pra você. Agora, noutras.... no presente momento... a química, a sinergia.... tão grande que não via outra possibilidade senão crescer junto... a aceitação da perda aqui é diferente.
Uma amiga me falou que oque eu tenho à minha frente é um beco sem saída, um "não"... eu ouço em silêncio, mudo.... penso se estou a tentar agarrar o impossível com as mãos. Será que chamam isso de "ter esperança"?
Sei lá... sabe.... e isso é minha lucidez "kicking in"... reatar coisas em meio a dor não é bom.... acho que vai ser bom pra todos os lados se fortalecerem para poder, adiante, dar um passo com mais clareza. Eu estou cansado, essa mudança tem sido estressante, meu corpo carrega medo, ansiedade, empolgação, saudades... pareço levar tantas coisas dentro de mim ao mesmo tempo que me estarrece não ter sucumbido diante de mais esse tropeço, ajoelhado diante desse sentimento gigante como uma duna. E acho que não só eu estou assim agora.
Talvez esses desvios, esses "momentos de respiro" estejam aqui para nos reenergizarem...para nos restaurarem... para nos fazer lembrar que, em princípio, nada era dor e tudo era riso.... se for isso, então eu espero pra ver oque o futuro há de trazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário