terça-feira, 19 de abril de 2022

Direto da Terra do Sol Nascente #126: "hakanai" (儚い)

Existe uma palavra interessante que, nest blog, já apareceu em Português, em Inglês, e de muitas outras formas. Hakanai, que é traduzido como "efêmero". 


No Japão, no entando, efêmero tem uma outra dimensão. Representa não só a transiência das coisas, como também traz muitos paralelos que os japoneses, como sociedade milenar, têm "martelado" em cima ao longo dos tempos. Uma dessas coisas são as sakuras, flores de cerejeira, que nessa época do ano abundam pelo país, mas que na primeira noite de vento forte ou dia de chuva, se esvaem pelo mundo e voam por todo o país. É lindo ver e, pela primeira vez, percebi que, apesar de muitas serem árvores anciãs, suas pétalas parecem confeti, a enfeitar o chão de um mundo que desconhece o carnaval do meu país.

[Eita...esse "meu país" veio despercebido-verborrágico... vou deixá-lo]

É muito louco isso, pois nunca fui muito dado a isso. Sempre achei bonito, mas ... nada de mais. Mas esse ano, talvez por saber que vou embora, parece que me pegou de jeito. O "efêmero" ali, diante dos meus olhos, contrastanto com minha vontade infinita de lembrar tudo e saber que vou esquecer. 


Essa transiência das coisas me faz relfetir sobre tantas coisas que já vivi e quis que perdurassem, mas que parece areia que se pega nas mãos no fundo do mar: quanto mais apertamos, mais ela nos foge pelos dedos. Penso em cada sorriso, em cada risada, penso nos pés descalços que caminham pela orla à caminho do hotel, na risada até a barriga doer no meio do shopping Finlandês, ou do livro aberto aleatóriamente numa biblioteca e que cai num texto do qual nunca havia ouvido falar/super fazendo sentido, ou das risadas no bar diante de um momento "pra lá de honesto" de um dos amigos, ou de tantas, tantas coisas que ficaram fragmentadas como um quebra-cabeça faltando muitas, muitas peças, mas das quais só sobraram as mais bonitas... se é que existe tal coisa.


Uma das coisas que 99% das mulheres que passaram pela minha vida "odiava" era essa minha "memória seletiva", o pouco lembrar. Dizia pras mesmas e continuo dizendo que eu mesmo sou um eterno insatisfeito com isso, mas sei que há dois lados pra questão:  por um lado, esqueço dos detalhes somente, não da essência; por outro, me a dor que me causam em geral arrefece rápido, e em geral sempre fui o primeiro a dar um primeiro passo na resolução de problemas, o primeiro a pedir desculpas e deixar o orgulho de lado.


É estranho isso... eu sempre quis lembrar mais. Hoje em dia, no entanto, parei pra aceitar que minha mente funciona meio assim: muito forte em imagens e sentimentos, muito lógica minuciosa das coisas mas sem se  aferrar aos detalhes de rodapé de um dia, de uma frase que saiu torta, de uma farpa que feriu drante a briga, um estilhaço que machucou numa ligação. Vai ver, e até certo ponto acredito, que todo mundo é assim, em maior ou menor grau.... efêmero por natureza.

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