Curioso o post anterior ser sobre labirintos, que parece um assunto tão "top trending" na minha vida recentemente... Bem,talvez não; talvez seja tudo uma combinação de coisas que me vêm à cabeça, e se encadeiam num emaranhado de coisas que parecem ser sentido, mas que têm forma, sentido e porque.
Diantes das minhas brincadeiras matemáticas com labirintos, processos randômicos no plano, e outras coisas, resolvi ter um hankô (判子), um selo desses antigos que japoneses e outros asiáticos usam. (Mesmo nos dias de hoje!)
Fiquei imaginando se me pegaria embasbacado diante da beleza de um labirinto que fosse meu, ou se depois de um efêmero furor animado cairia enfadado nos corredores do mesmo, como o Minotauro do conto de Borges.
Sabe-se lá por que, tive a idéia de tentar esculpí-lo eu mesmo. Como se fossem paredes que eu tivesse que erguer. Um dos grandes poréns dessa jornada foi arrumar madeira: nem faço idéia de onde existe marcenaria por perto! Numa deliberação rápida comigo mesmo, resolvi caminhar pelo parque perto de casa e tentar encontrar algum toco de madeira que ali encontrasse. Tudo oque vi, e que foi pouco, era ou muito grande ou muito velho. Como serrar algo se só possuo um canivete suiço?
Me veio uma outra idéia mais desesperada: sacrificar uma bonequinha kokeshi (há foto de uma, chamada "Kinoko", no post Direto da Terra do Sol Nascente # 72: the great wave (aftermath)).
Não, calma!! Kinoko-san está bem, segura, salva, e com uma irmãzinha (Shimeji-san). "Sacrifiquei" uma outra que planejava levar pro Brasil pra dar de presente a amigos. Mas não me foi fácil: olhei pra ela e me senti cometendo um crime, pro qual buscava escusas dentro de mim, para poder dizer a ela.... Pensei se algo justificava tanta "brutalidade". Tentei me convencer de que era feia, de que era velha, de que estava suja... mas só olhava aquela menina de madeira que sobreviveu a tantos terremotos, sabe-se lá quantas casas, pra ser abandonada numa loja de antiguidades e ser encontrada por um brasileiro que pusesse fim aos seus dias "por um motivo torpe".
Por uns minutos meu coração afundou diante do significado daquilo.1 Pensei na estória de Perseu, que depois de matar o minotauro e conseguir sair do labirinto seguindo o fio que Ariadne lhe dera, leva Ariadne consigo para longe da ilha de Creta a pedido dessa; Ariadne queria sair dali "para que sua beleza fosse adorada por todos". Na primeira parada do navio, Ariadne tira uma soneca debaixo de uma árvore (provavelmente comeu muito, comida pesada, num botequim local.. não sabemos ao certo) e é deixada pra trás por Perseu que, numa filhadaputice sem limites, dizia a si mesmo que cumprira sua parte: "sim, a tirei da ilha".
Durante esse processo, eu acabei ouvindo uma versão de uma música do Gil que me pegou, pelo significado, pelas palavras, pelo conteúdo, pelo contexto.
1 Esse é um dos motivos pelo qual me condeno a sempre fazer muito menos do que gostaria: atraso deliberações por ficar imaginando essas estórias, significados distintos, que só fariam sentido num universo paralelo... ↩
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