domingo, 14 de junho de 2020

Criar, iterar, tecer e tricotar

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Mais estarrecido ainda é me perceber tão similar a ela em diversos aspectos. ; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - > Enquartelada, numa torre de marfim cercada de prédios, concreto armado e desigualdade social, minha mãe passa os dias em São Paulo falando ao telefone com amigos, conhecidos, e familiares; estes últimos não necessariamente amigos, nem conhecidos. Passa-se ainda bastante tempo costurando (a époa das máscaras já passou) e, recentemente, tricotando. ; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - > Tricota-se. E com isso, tricotam-se as conversas de telefone entre nós dois: um fio, que se estende a um outro tema, que se embola numa vírgula, que se engole com uma fruta de café da manhã enquanto o outro janta. Dessa forma, "Nada se perde, tudo se transforma"  se transmuta em nada se entende, tudo se embola-emaranha. ; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - > Política vira discussão sobre desigualdade ; - - > Saúde vira bronca por não fazer ginástica na sala de casa ; - - > Presidente e ausência de governo vira suspiro angustiado de quem não tem vacina ou tem medo de golpe militar ; - - > Sobrinho vira árvore de natal acesa fora de época pra que o mesmo veja do outro lado da rua ; - - > Avó vira "iaia" ; - - > E saudade permanece saudade, porque isso não tem no que se transformar. ; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >  Minha mãe tricota de um lado, me fala sobre as viscissitudes da arte; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >  enquanto isso, eu teço (tricoto?) os paralelos com minha vida de criar e tecer a linha abstrata das idéias e números, com as agulhas rígidas, extensas mas finitas, da matemática.; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - > "Fiz e desfiz a blusa da Vana (minha irmã), usei regra, me afundei em números...a cada conta que faço errado vou e recomeço a carreira do começo", me diz ao telefone, num papo que me traz à cabeça a natureza repetitiva do criar, do pesquisar, do fazer, do criar. Repetir...repetir.... penso no "zen in the art or archery" e suas discussões sobre como "iterar" e o "entender" se imiscuem, num rio que desagua em si mesmo, ou como numa figura de Escher, dum rio que se acaichoeira em si mesmo, e desagua na sua própria nascente... Herrigel que li feliz, mas que me deixou triste, por não tê-lo lido mais jovem, enquanto ainda estudante.- - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; - - >; 
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