Abro o jornal.
Nas entrelinhas encontro os mortos, estendidos entre as palavras.
"Como aliviarmos a retomada econômica" é o dito do dia.
Perecem...
... perecemos todos.
Perco a noção de direção.
Olho pro céu, olho o futuro meio obstruído.
Obscuro.
Abstruso.
O jornal insiste em me acalentar com assuntos espúrios.
"Fulano corta o cabelo durante a quarentena e agrada fãs no instagram".
"Evandoscreison posta foto com churro gigante e viraliza".
"Prima do sobrinho do cunhado de Neymerda posta foto com namorado novo".
Um universo de desinteresse que tenta me vender um mundo de cores, do qual não pareço fazer parte.
Ou do qual não faço muita questão de ser parte.
Não sei, não sei mais nada.
Como Waly/Adriana cantam...
....reclamam.
[Adriana Calcanhotto - Teu nome mais secreto, composição com Waly Salomão]
Quem sabe.... quem sabe de algo? Você sabe?
Eu não.
Admito.
Me perco, me perturbo, me desespero e, por fim me perdõo.
Tardiamente, mas me perdõo.
Por saber tão pouco.
Em dias de covid os dias têm se seguido como uma sucessão estranha de ver como os outros estão.
"Teu barco está entrando água?", pergunto pro dono de uma embarcação ali-ao-longe.
Remo.
Me preocupo.
Remo. Me preocupo. E me descabelo.
Todo sossego e serenidade parecem ir e vir ao vento.
Chuva que não arrefece.
Turbulências.
Olho o mundo lá fora, e me pergunto: será que alguém sabe de algo?
Algo que não sei?
Volto à estaca zero... mais uma vez sem saber de nada.
Ou sem ter certeza se realmente sei algo.
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