Há dias tenho me sentido como que escalando os últimos metros antes de chegar no cume de uma montanha: falta oxigênio, me sobra desejo de chegar lá, mas toda a alegria em antecipação a este momento se mistura com ansiedade, com medo, com perguntas.
Ontem, a caminho desse término, me aconteceu algo muito, muito fora do comum: havia pensado em uma maneira de concluir a "obra"...e pensei, tão atípica que é diante do que já fiz até aqui: "- vou testar em mim mesmo!", me veio à cabeça. O teste, no caso, seria colocar duas fotos na "máquina"
e ver se ela cuspia aquilo que eu via: "0" e "1".Foi curioso... me senti como um cientista louco cortando da sua própria carne para dar vida a sua criação... algo muito diferente do que já fiz até aqui, onde eu (como indvíduo) não transpareço naquilo que escrevo.1 Dessa vez, no entanto, foi um pouco diferente: lá estava aquele pedacinho de papel, esperando aquela jeringonça me dizer algo sobre ele: "vá...viva, diga oque quer dizer...voe!!!"... dizia a ela, entusiasmado. Pra variar, eu com minha falta de sucesso com pipas e coisas do tipo, nada voou: estava dando errado. Minha "máquina" cuspia "0" e "0".
Uma máquina monolítica, monotemática, monosílábica, de depreende do mundo apenas aquilo que compreende dele: tudo lhe é igual, só vê o mesmo "0" em toda direção pra qual olha.... uma máquina burra....
"Antes houvesse criado um monstro!!!", gritei, do alto da minha masmorra 😛
Caramba... que angústia!!! Logo agora, a cereja do bolo, o momento final, o ponto onde poderia ao menos dar um acabamento pra situação toda.... como se escalasse o everest e pudesse descê-lo ao final fazendo skibunda... Mas não: a vida queria me provar errado, e me deixar fincado no cume, congelado, como uma viagem que só foi de ida.
A angústia me corroeu... pensei no que ainda havia no barco, no que ainda fazia sentido.... mas ao mesmo tempo vinha uma onda enorme de lado, tentando virar a embarcação e me naufragar... "será que eu assumi algo e não percebi?... será que me baseei numa premissa falsa?"... as questões começacam a pular pela janela, buscando botes salva-vidas.... Como um "mulheres e crianças vão primeiro", a lógica, as indagações, a dúvida buscava sair pela tangente, no bote dos sobreviventes... Havia algo que poderia ser salvo?
Pensei, me revirei... pensei no que poderia estar fazendo diferente.... "vamos, vamos...." nada parecia fazer sentido... quando duas coisas parecem iguais, como é que elas podem ser diferentes?
Andava em círculos, olhando os detalhes. Olhando pedaços, trechos, comparando-os... "vai ver há uma brecha por aqui..." Tirei mais "sangue", e... ainda sim, nada... até que fui vendo mais caminhos, mais direções.... e oque antes era só turbulência, me pareceu uma corrente a me guiar para fora daquele redemoinho.
Sim, aquele foi só o começo, que se seguiu a divesas tentativas ainda fracassadas, nas quais o desespero, todas as indagações de "será que errei logo aos 5 minutos?"... "será que está tudo errado?" foi dando lugar a outras frases na minha cabeça "talvez se eu fizer isso... " ... "talvez seja por tal motivo" e assim galgava aos poucos pra longe daquela obscuridade. A persistência e a razão, como navegantes parceiros que retomam seu navio de uma irracionalidade que os tenta afundar, por fim prevaleceram. Sim, senhoras e senhores, meu "monstro" por fim ganhou vida, e como mágica, quando já desligava a luz para sair da sala... moveu seus dedos pra me mostrar que estava vivo, e tinha em mãos a resposta certa: vi surgir na tela "0" e "1"....
... agora é só descer em segurança, procurar o pé da montanha, e degustar um pouco de descanço.
1 Na verdade não é bem assim... acredito que sim, que mostramos muito do que somos, como pensamos, valores e outras coisas quando nos comunicamos, escrevemos, quando fazemos qualquer coisa. Nos mostramos em cada coisa que fazemos: ao mandarmos um email, arrumarmos uma estante, contarmos uma estória... ↩
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