Essa semana aconteceu algo estranho: na terça, durante o debate presidencial americano, o atual presidente foi questionado se condenaria white supremacists pela violência que estes têm perpetrado pelo país. Pra resumir, o presidente diz para um determinado grupo (XX) "XX, stand back and stand by".
Stand by pra mim é esperar para que algo aconteça, para que algo possa ser acessado/utilizado adiante.... essa ambiguidade ficou no ar, esse desvio por um (mau) uso da palavra, onde não se sabia se ele se comprometia ou não em condená-los (muitos chegaram à conclusão que não, que até fomentava a proximidade a eles).
Não fosse D. Trump ser divisivo e, acima de tudo, esguio em se deslizar de compromissos e se abster de bandeiras igualitárias, eu teria dito que ele fora, pura e simplesmente, poético: poesia é a mais pura ambiguidade.
Fiquei um pouco perturbado em chegar a essa conclusão, ainda mais diante de uma situação tão horrível e diante de uma pessoa pela qual não nutro o menor respeito. Mais ainda: numa situação abominável e que não poderia ser tolerada! Fiquei me questionando por alguns momentos sobre como essa corda bamba dos sentidos e significados é also difuso, sobre a qual as palavras andam entre um ser e outro. Também quero ser poesia! Mas claro, não ser evasivo e ambiguo para não ter que me compromissar diante do que digo.... mas quão distantes essas duas coisas estão: ser ambiguo e ser descompromissado?
Lembrei do "Cálice" ou "Cale-se" do Chico, ou de uma que nesse último janeiro foi motivo de muita risada na minha visita ao Brasil
Samba do grande amor, Chico Buarque
Resta-nos a grande dúvida se a mentira era uma mentira ou uma reinterpretação dos fatos. A ambiguidade não está nos fatos em si, mas em tê-los narrados pela voz de uma pessoa que oscila entre dizer a verdade e a mentira. Essa ambiguidades parecem fazer parte de muito que vivemos, seja na forma como as interpretamos ou, de certa forma, na dificuldade que temos em interpretá-las da maneira correta.
Lembrei-me ainda de uma conversa que tive há anos com uma amiga bióloga. Esta me expressava consternada sua angústia diante da ciência, com o não poder ser subjetiva, poética, num artigo: para ela, eram todos secos e sem vida. Na hora que ouvi suas palavras tive compaixão, mas vi também que não era essa a direção, que em alguns meios não se pode haver ambiguidade, dúvida, ou meias palavras: a poesia tolera, e celebra a ambivalência, enquanto a política e a ciência devem evitar de todas as formas cair em tais recursos. A grande beleza de se fazer as duas últimas (se é que há beleza em fazer política...) está no saber caminhar sobre a corda bamba da clareza, da eloquência, e do discurso. A poesia, a arte, por outro lado, presam por outras qualidades.
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