segunda-feira, 23 de março de 2020

Direto da Terra do Sol Nascente # 84: sobre a vulnerabilidade, ou "o Japão nos tempos do corona virus" (parte 3)

Um elefante, com uma taturana que lhe cai às costas.

Uma tartaruga, de pernas pro ar e com o casco no chão.

Ser demitido.

Ser assaltado.

Um bebê com fome.

....que mais....não sei... só sei que as imagens que me vêm à cabeça quando penso em vulnerabilidade, de imediato, são estas.

Por sinal. oque é esta palavra? Oque te faz se sentir vulnerável? Exposto? Será que é correr riscos? Será que é poder sofrer/ouvir/receber algo que venha a não gostar? Vulnerabilidade é uma dimensão positiva ou negativa?

Não sei... talvez como o, que nos dá dimensão da nossa finitude, dos nossos contornos de proteção,  talvez a vulnerabilidade também, nos dê uma dimensão das nossas fraquezas e, de algum modo, dos nossos valores.  Digo isso por que estes dias de coronavirus têm me mostrado o quão frágil eu me sinto. Talvez não pela doença em si,  por medo de morrer ou algo assim, mas por ganhar dimensão de que, se algo der errado, eu não tenho ao certo quem me ajudar ou cuidar de mim.

Isso sim, me assusta.

Nem sei se escrevi sobre isso (acabo de descobrir que sim: aqui). Há coisa de uns dois anos estava em Tóquio pra fazer entrevista com a embaixada americana e pegar meu visto novo. Dormi na casa de um amigo que mora numa cidade cercana, a coisa de 1 hora da embaixada.
Acordei cedo e saí pilhado, ansioso.
Entrei no trem, senti algo estranho...e vi que estava perdendo a consciência.
...bom tá tudo lá no post.

Foi foda, e acho que pouca gente à época teve a noção de como aquele dia ficou reverberando dentro de mim por um bom tempo. Foram longos dias, sentindo o risco "à flor da pele". Ficava imaginando quando essa fragilidade se mostraria evidente. "-Virou a esquina e caiu duro!", ou "foi tomar um sorvete e caiu desmaiado no pote de flocos", ou qualquer outra manchete super poética e digna de jornal de cidade pequena. Sim, a vulnerabilidade parece se esconder tão bem quanto o coronavirus (será que são primos?): quando menos se imagina lá está ela, te esperando na saída da escola...ou algo assim...já que não vou mais à escola, mas a outros lugares tão oportunos pra vulnerabilidades-oportunistas como a vulnerabilidade.

Foda... mal sei como começar... fico pensando no que fazer exatamente, em por onde ir, em quando as coisas vão se resolver.... me pergunto várias vezes se as pessoas se perguntam sobre o como isso se resolverá: "-é só esperar que ele vai embora"... "é só aguardar que ele cansa"... ao invés de pensarem que deveriam, isso sim, começar a discutir como seus respectivos países investem pouco em pesquisa, em educação e saúde pública.

Um amigo bem disse que o grande foco de muitos políticos é nos distrair dos problemas sérios do país. Via isso nos debates eleitorais americanos, vejo isso nas baboseiras que os políticos japoneses perdem tempo falando, vejo isso no Brasil. Não em maior ou menor grau, mas igual. Gente idiota, acredite ou não, existe em todos os lugares.

Mas quase desviei do assunto... pois é. Fico indignado. "Me sobe o sangue à cabeça, viro bicho" hahaha não, que nada :) Mas devo dizer que ver esses idiotas gerindo uma questão tão séria da maneira como estão fazendo, só exacerba minha sensação de angústia e falta de poder diante da questão. Vulnerabilidade? Sim, que seja.

[Enfim...vou lá, rezar para o senhor, porque só o senhor vai ajudar ... afff... quem merece ouvir um presidente dizer tanta besteira?]

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