terça-feira, 8 de outubro de 2019

Direto da Terra do Sol Nascente #68: Endurance

Nesse ínterim em que construo meu navio de saída dessa ilha, mas ainda em contato com o meio acadêmico, me bate aquela angústia gigante em querer ir embora o mais rápido possível. Mas a vida parece ter sua inércia, e querer que tudo leve mais tempo do que eu gostaria. Paciência.... minha jangada vai levar mais tempo para ser construída.

Sempre há coisas para se mudar, e caminhos outros que podem ser percorridos: emails que podem e devem ser enviados, mais "nãos" a serem ouvidos antes de um "sim" etc etc. Recentemente li mais sobre Shackleton (explorador marinho) em sua tentativa de cruzar a Antártica, pra qual foi com um navio chamado "Endurance". No entanto tudo sai diferente do planejado, ou melhor dizendo, tudo dá errado: a viagem não só termina em beco-sem saída como todos quase morrem. A situação era tão, tão tensa, que só uma pessoa com tanta fibra pra poder manter um grupo à beira da morte em coesão; para tanto Shackleton  buscava fazer teatros, jogos e até, nos dias de fome e falta de comida, fazerem uma leitura do livro de receitas em voz alta, ao que todos os homens presentes davam sugestões de como aprimorar o prato. E os percalços não param por aí: uma estória mais complexa e difícil segue a outra. No livro (do Alfred Lansing) lê-se que o navio que os levou pra Antártica em certo ponto teve que ser abandonado no meio do gelo, pois os icebergs, depois de prendê-los no gelo durante um inverno inteiro, comprimiram e comprimiram o navio até quebrá-lo... imagina, você ver a sua única chance de ir embora pra casa se desfazendo diante dos seus olhos?!! Pqp, isso não é pra qualquer um... "Endurance"...  nunca vi nome mais adequado. Penso em mim, e nos mínimos paralelos de uma vida de um homem que se nutre de algumas lembranças que dão força pra que ele continue a seguir adiante e buscar voltar à "civilização" (ocidental).

Estou em Sapporo hoje, que me traz memórias vívidas da Mini-apple, cidade distante mas que ainda guardo comigo. Difícil não andar pelas ruas largas daqui, sentir o frio de Outubro, e não lembrar de tanta coisa, não me imaginar ao fim do dia pegando minha bicicleta, passando na frente do café onde estudo nuns fins de semana, e chegando em casa são e salvo pra salvar energias e abraçar o dia que está por vir. 

Ontem jantei no topo de um prédio, não pude deixar de olhar pras luzes lá embaixo e me lembrar de São Paulo, com seu caos de dias de chuva. Lembrei do vídeo que me chegou essa semana, do sobrinho dando os primeiros passos. Uma alegria estranhamente triste ver as coisas acontecendo de tão longe, sem ter a perspectiva de diminuir tanta distância... ao menos antes a previsão de visitas pra mitigar a saudade eram mais claras. Aqui no Japão... a coisa muda de figura. A cada vez que penso nisso me bate uma angústia maior ainda, que tento serenar com mais esforços pra sair daqui. 

Bom, senhor momo.... nada de mimimi: vou lá fazer mais coisas pro meu portfólio/cartão de saída da academia. 


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