Semana passada eu sentei e escrevi nesse blog, chorando as pitangas, dizendo que nada acontecia, que cheguei a questionar essa busca incessante por sair do Japão e, simultaneamente, da academia. Aconteceu de, na semana seguinte a isso, 4 entrevistas aparecerem em mãos: uma pra Mini Apple, outra do Canada, outra pra Inglaterra, outra pro Brasil.
Aí você pensa: wtf, Brasil? É... nem eu esperava por esta.
Uma amiga da qual eu fui monitor no Rio (eu terminando o mestrado, ela entrando) está há tempos no mercado. Ao contar pra ela que estava nessa missão de sair da academia e que gostaria de ouvir uns conselhos, ela, que está procurando por funcionários, me chamou pra uma entrevista.
Até aqui eu nunca havia realmente considerado o Brasil como uma escolha viável. Na verdade ainda acho um país bastante inviável em diversos aspectos. Agora... voltar pra fazer algo que gosto, ou pra começar em algo novo, e com minha família e amigos por perto, como suporte? Talvez... vai saber....
As outras possibilidades ainda são boas e interessantes, e de maneira alguma as descarto. Infelizmente, ontem eu mandei muito mal numa entrevista técnica pra Mini-Apple. Caramba... como fiquei mal com isso: abri a prova e vi um monte de questões sobre coisas das quais sabia que deveria saber, mas nunca havia estudado. Coisas que sempre deixei pra depois, e depois... e... acabaram caindo no meu "blind spot". Bom, seria injusto dizer isso, por que o blind spot contém coisas das quais não vemos e nem sabemos que lá está, mas neste caso... ali estavam coisas cuja existência eu não ignorava, mas pras quais nunca havia dado a devida atenção. No fim das contas, perdi um bom tempo com oque não sabia, oque me deixou com pouquíssimo tempo para responder oque sabia com cuidado. Ou seja... bombei no exame: a resposta veio hoje cedo.
Bom... vocês "milhares de leitores" que acompanham as narrativas fantásticas desse nblog maravilhoso já devem imaginar qual foi minha reação: catastrofizei totalmente o resultado. Vi pontes queimando, carros atolados, noites em claro, jururuzice etc. Mas tentei, e ainda estou me esforçando, pra aprender com a situação. É realmente normal e comum irmos com um pouco mais de confiança ("overconfidence") para algo importante e.... não nos sairmos tão bem quanto imaginávamos. Mais ainda: esse excesso de confiança nos leva à arrogancia de menosprezarmos o simples, os probleminhas que se resolvem com um gesticular de mãos, quando são neles que tropeçamos, como foi meu caso.
Anos atrás, eu tropecei num ensaio do Terence Tao (um baita matemático, fields medalist e tal) que disse que quase não passou no exame de qualificação. Essencialmente ele diz que respondeu um monte de coisa errado, quando questionado sobre alguns assuntos, não sabia responder, e quando respondeu, algumas vezes deu a resposta para outros problemas. O relato dele está abaixo, e é um pouco técnico para não matemáticos (ou para matemáticos não analistas), mas dá para se ter um pouco idéia do que se trata. Achei simplesmente muito bonito (e acima de tudo humano) ele discursando sobre isso durante o obituário do seu orientador Eli:
... A key turning point in my own career came after my oral qualifying exams, in which I very nearly failed due to my overconfidence and lack of preparation, particularly in my chosen specialty of harmonic analysis. After the exam, he [Elias] sat down with me and told me, as gently and diplomatically as possible, that my performance was a disappointment, and that I seriously needed to solidify my mathematical knowledge. This turned out to be exactly what I needed to hear; I got motivated to actually work properly so as not to disappoint my advisor again.
[Terence Tao falando sobre Elias Stein, em Dezembro de 2018]
Sim, é horrível se embananar (voltando a esta palavra) diante de coisas simples, nos sentimos péssimos depois, mas acontece. Foi, foi sim frustrante, e saí da experiência chateado. Diante do cenário passado que não posso alterar, me esforço pra aprender com o fracasso, o convertendo em matéria prima pra "pontes" futuras. Como eu mesmo dizia pros alunos que tive: errar é parte do processo de aprender. Erre o quanto você puder, por que só assim você vencerá este estágio.
De fato, acho que não tenho errado o bastante. Algumas coisas a se mudar - NÃO TUDO!! - e seguir adiante: mais firme, remando com direção certa.
Semana que vem, mais duas entrevistas. Desta vez vou me preparar com mais cuidado.
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