Uma das minhas "qualidades" que me é mais clara é o catastrofismo: um atributo que tem matizes de pessimismo, sempre acho que as coisas são muito piores do que são, ou que podem ter consequências muito maiores do que de fato poderiam ter. Já sabia disso antes de vir pro Japão, e sei mais ainda quando isso fica à flor da pele (quando durmo pouco).
Acho que só vim a repensar meu catastrofismo diante do desespero dos japoneses: no dia que chamei o chefe pelo primeiro nome, ao que logo o ar do restaurante acabou totalmente e todos os colegas de trabalho presentes ficaram no vácuo, sem poder respirar por quase um minuto; ou quando esqueci de entrar minhas férias recentes de verão no sistema da empresa (3 dias apenas 😥) e um desespero enorme de chefe+secretária por algo tão diminuto me fez pensar:
"- Porque essa reação tão desmedida: não é algo que tem solução fácil? Não basta apenas entrar no sistema e corrigir isso?", disse aos dois.
Interessante que essa maneira diferente de (re)agir diante de coisas diminutas: senti meu catastrofismo ali, e como é algo irracional que parece nos tomar a visão das coisas, tingindo o mundo de névoa e cinzas. Foi um momento de perceber os outros, e me perceber também por contraste: são reações diferentes a coisas um tanto parecidas.
Addendum, que bem poderia ser outro post: por sinal, o catastrofismo tem batido na porta por estes dias: ouvi a palavra "Dezembro" por estes dias e me angustiei. "Pqp, e esses empregos?" Não tem um dia em que não envie ao menos 4 currículos/resumes para empresas. Visões horríveis de mim mesmo aqui por mais tempo me assustam, me fazem perder o sono. Diante do catastrofismo que me anula, momentos de sobriedade me fazem voltar à estaca zero e repensar em tudo. Não, não: não questiono minha decisão de sair daqui ou da academia, isso está decidido. Me questiono se estou fazendo essas aplicações corretamente: será que não é hora de mudar algo? Reescrever algo? Recriar?
Sabe-se lá como (provavelmente sites de empregos/networking) meu resume foi parar nas mãos de uma empresa de "resume writing", e... (segundo eles) meu portfólio diz um pouco de tudo isso que sou: me deprecio um pouco, sou catastrófico, digo menos do que sou... curioso, não? Mais curioso ainda é imaginar que, enquanto viajava, um rapaz da minha idade me perguntou na mesa do café do hostel (oque você faz) e disse "matemático"... e quando perguntei sobre ele ele me disse "truck driver". Me senti desconfortável... não sei, o contraste era tão gritante que pareciam dois universos distintos... não soube muito bem lidar com aquilo na hora. Fiz uma pergunta ou outra, o rapaz também ficou em silêncio... será que ele também achou a conversa "awkward"? Esse encontro entre dois mundos, assim como o meu catastrofismo com o desespero dos japoneses com os quais trabalho... me perguntei se haveria juízo de valor naquele instante, dos dois lados: "será que, inconscientemente, julgamos e damos valor/prestígio às coisas sem nem mesmo perceber?" Éééé pessoal..ninguém está livre disso,... me senti awkward, estranho, ou culpado (como um 'cristão'?) ". Em todo caso, sempre se há espaço pra crescer, mudar, e desapegar de medos, idéias e fórmulas, por que sim, a maneira como reagimos diante dos problemas do mundo são fórmulas que aprendemos enquanto crescemos, e as aplicamos sem mesmo nos darmos conta de que o fazemos.
Bom... vou lá mudar algumas coisas.... e seguir adiante.
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