[9pm , numa sexta-feira de Junho de 1984]
[A cena começa com uma câmera entrando por uma porta entre-aberta]
[diálogo já em curso]
--Ahhh entendi.
[ao fundo, numa placa em neon, se lê "Yoshimura e Yomura, detetives associados"]
- O detetive Yoshimura me falou um pouco do teu caso. Posso te fazer umas perguntas?
-Sim, sim...
[pigarro inquisitivo de detetive japonês fumante ]
- De onde surgiu essa dúvida?
- Olha.... no começo não havia dúvida alguma... aí começaram a aparecer umas desculpas aqui e ali... ela dizia que tinha esquecido o celular em casa, e quando eu ia ver estava lá, online no messenger... umas mentiras brandas que ela tentava refutar ficando brava assim que eu as perguntava... mas que também não podia discutir por estar ocupada. também aquela vez que um amigo que havia conhecido numa conferência queria visitá-la e ficar em casa, justo quando eu estaria viajando... Aí teve umas outras vezes também...
[câmera sai pela janela, e aponta pra um céu nublado]
[conversa e suspeitas ficam inaudíveis]
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[8:37pm , numa quinta-feira do final de Julho de 1984]
[A cena parece repetir a anterior]
[... câmera entrando por uma porta entre-aberta]
[diálogo em curso]
-Ahh tá... é que faz tanto tempo.
- Nós dois estamos a par do teu caso. Tivemos que discutí-lo como parceiros, para decidirmos a melhor estratégia.
-Claro, claro... vocês são profissionais eu sei.
- O senhor nos veio da primeira vez para querer saber sobre um possível adultério da tua esposa, não?
- Sim, sim.. Conseguiram algo? Ela me ama ainda?
[pergunta com uma voz dolorida, entre um quase soluço]
- Não podemos responder tudo, certamente. Mas temos algumas respostas. O senhor quer vê-las?
- Quero...
[responde com a voz embargada e cheia de medo]
[Detetive Yoshimura se move cuidadosamente por detrás da mesa]
[Uma fumaça sobe de um cigarro abandonado aceso no cinzeiro]
[Com mãos de mágico, detetive Yoshimura tira um envelope da gaveta]
- Por favor, abra esse envelope...
.... detetive Yomura tirou essas fotos no decorrer do último mês... tua esposa, saindo de um motel no meio da tarde com um homem, também japonês...
- Ai meu coração... ai meu santo buda... como pode?!
[Leva as mãos à cabeça..aos olhos]
-..... e eu fiz tudo por essa mulher... atravessei o mundo por ela,
[põe a mão no coração]
-....fiz de tudo, confiei nessas estórias dela, aceitei... e ela me retribui com esse golpe pelas costas?!
[O cliente enxuga umas lágrimas]
[segura o peito como se tivesse sido apunhalado]
[Detetive Yomura acende outro cigarro, e olha pro anterior ainda aceso com olhos de surpresa]
[Alguns minutos de silêncio se passam]
[O cliente olha pra foto com cuidado]
[...suas sombrancelhas franzem]
- ei... ei, ei ei... espera um pouco.... esse aqui ... eu conheço essa pessoa.... esse aqui... é teu sócio Yomura!! É ele, eu lembro desse rosto! Ele é o amante da minha esposa!!! Seus filhos-de-uma-puta.... como vocês tem a ousadia de ...
- Calma... calma.. o senhor está confundindo... Esse não pode ser o detetive Yomura...
- Ah é? Por isso que ele não quis vir pra reunião hoje, por que não teria a coragem de vir falar comigo frente a frente.. mandou um subalterno pra vir falar comigo. Filha da
- Eu não sou um subalterno do detetive Yomura, sou sócio dele... mas isso é mais delicado até..
- ...vocês não...
- Esse não pode ser o detetive Yomura.. por que o detetive Yomura sou eu
- péra..péra... que porra é essa...
[o cliente olha pra placa em neon, que diz "Yoshimura e Yomura, detetives associados" e faz cara de surpresa]
-...que merda de sentido faz você mentir quanto a isso?! Que..p
- ...por que eu gosto de saber oque as pessoas falam às minhas costas... e bandidos são mais temerosos de firmas com vários detetives.. como eu era um só, achei melhor criar parceiros fantasmas, por assim dizer.
- Mas então... você é o filho da mãe questá saindo com a minha esposa..
-Calma lá... calma lá...
[Olha pra foto mais uma vez..pressionando o dedo com força da foto]
[Pondera]
- Mas espera... olhando bem pras fotos... esse aqui parece comigo mesmo... eu estou tão confuso
- Tua esposa estava saindo de um motel no centro, no meio da tarde...
- Hummm..... mas eu encontrei minha esposa pra uma rapidinha semana passada depois do expediente..no centro mesmo, onde a gente trabalha... é possível que este seja eu mesmo.
[minutos de silêncio]
[de dúvida, indignação, dor e alívio]
[tudo misturado]
- Que dúvida... este na foto se parece com o Yomura... quer dizer, contigo, mas se parece um tanto comigo.....
[minutos de silêncio]
[o detetive acende outro cigarro]
-.. mas se este sou eu, então minha esposa está me traindo comigo mesmo... ou mesmo não está me traindo... ou ... se for outro, me trai.. nem sei mais como colocar isso. Minha esposa me trai, mas com alguém que pode ser eu mesmo.
- ...hummmm
[pigarro de detetive japonês, em acordo pensativo]
- Mas esse também pode ser o senhor... ou pode ser um ex dela que mora em Paris e que visita de vez em quando...
- âââmmmm
[pigarro de detetive japonês, pensativo somente]
[minutos de silêncio]
- O senhor não quer que eu te pague por esse serviço, né? E se for o senhor saindo com a minha esposa... isso não está claro pra mim...
-.... seria como se te pagasse pelo encontro com minah esposa...não posso, é questão de honra.
- O senhor tem que pagar... mesmo que seja o senhor mesmo que seja o amante da sua esposa, há uma dívida aí. Fizemos, digo, fiz meu trabalho...
-Mas não... eu não posso pagar o homem que saiu com a minha esposa...
- Um café?
- Ok... um café.... vamos então?
2 comentários:
[Esse post teve várias "fontes".
A grande premissa dessa estória veio de uma piada que fizeram comigo, sobre eu achar que todos os japonêses se parecem fisicamente entre eles, e que é muito difícil distinguí-los.]
[por sinal, já falei sobre em
https://matematicosmarcovaldos.blogspot.com/2011/04/semelhanca-e-igualdade-divagacao-nao.html]
[Outro motivo veio do fato de que a maioria dos meus colegas de trabalho terem nomes parecidos e quase indistinguíveis, a meu ver.]
[Quanto ao adultério, me veio de uma conversa com dois amigos sobre traição, quando dividi meu receio de estar sendo traído (oque daria um post por si só), e eles me contaram de coisas similares nos relacionamentos deles, e de como é fácil ficar paranóico com isso, com mini detalhes, com ver sinais onde não existem sinais.]
[Depois de um tempo, acabeio assistindo um episódio de "Black mirror" sobre a paranóia de um cara que acha que a esposa o traiu ][https://en.wikipedia.org/wiki/The_Entire_History_of_You]
[recomendo, por sinal.]
Acho que nessas horas de dúvida e receio (que sempre existem, pros dois lados) a melhor coisa é conversar e ouvir. às vezes, olhar pro que a pessoa faz ao invés do que você acredita porque, muitas vezes, é paranóia mesmo.
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