domingo, 30 de dezembro de 2018

De volta, brevemente, a São Paulo

Estou no Brasil, em São Paulo, visitando família e amigos. Vi meu sobrinho há poucos dias. Vi irmã se tornar mãe e mãe se tornar avó. Mudar e permitir que as pessoas mudem. Vida nova que cresce e ganha forma no seio de uma família. 

Vejo a cidade morrendo disforme diante das suas desigualdades. Muitos moradores de ruas, muita riqueza e muita pobreza que andam lado a lado. Corrijo: uma acima, outra abaixo. São Paulo, não diferentemente de muitas outras cidades por aí, me machuca: seu excesso de concreto, suas árvores persistentes e maltratadas cujas raízes se espremem em vasos do tamanho de uma caneca, tidas como florestas urbanas de uma cidade que há tempos nem pulmão mais tem.

Gosto das pessoas, mas me distancio: "minhas referências há tempos transpuseram essas fronteiras".

Penso no que teria sido ter trazido a ex-namorada nessa visita. Tento me surpreender com a beleza que vislumbro por trás de tanta hostilidade. Imagino como isso seria aos olhos dela, e tento perceber oque sinto diante de tantos contrastes.

O desconforto ao andar pelas calçadas. O rosto sério das garotas de programa que seguem pra mais um dia de trabalho. Os bêbados cantando música brega nos bares de esquina. Reuniões de amigos de escola, modelos distintos de pais ausentes. Risadas. Pensamentos profundos ou mesmo vagos. Tapioca. Coxinha. Feminejo. 

Acho que amo e odeio essa cidade.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente #44: em trânsito (rascunho entre Brasil/Japão)

Há tempos estou pra escrever, sobre diversas coisas. Recentemente houve um outro surto do meu chefe, seguido do qual eu pensei

“-pqp, que que estou fazendo aqui?” 

É interessante porque, essas coisas só fazem deteriorar meu tesão pelo que faço. Não... não sejamos ingênuos: o lugar onde trabalho, as pessoas com as quais trabalho, e a dificuldade do trabalho em si, tudo isso está ligado, se mistura, fazendo com que as minhas impressões do mundo igualmente se emaranhem.

Meu último projeto aqui (digo, Japão) finalmente “terminou” (submeti o artigo!) há algumas semanas. Saí aliviado mas ressentido: fiz tudo, tudo mesmo, tive ajuda mínima em algumas coisas ("você deveria arrumar esse sinal de +" etc) e... lá está o nome de um colaborador que não fez nada. Chato... me senti usado, violado. Não queria me sentir assim, é um sentimento horrível de... relacionamento abusivo... é um sentimento muito desconfortável. Mas coisas boas saíram disso: vi e senti que o tipo de relação/colaboração que busco é mais 50%-50%, aquela no qual vc é co-responsável pelo crescimento de algo. E também me perceber capaz de fazer as coisas por mim mesmo, coordenar e catalizar o processo de criação. Ótimo! Dou conta, consigo! Mas... não precisa ser sempre assim, né?

Curioso que essa semana um amigo me mostrou um artigo que diz que mais e mais PhDs (60%) passam suas carreiras como pesquisadores que dão suporte a outros, sempre servindo de base de apoio pra rojemos de pesquisadores com mais nome. Vou deixar aqui o link.

Por essas semanas também tive um encontro com uma colaboradora (química) que estava deprimida diante das hostilidades que têm sofrido no trabalho.
Mulher e estrangeira, no Japão.
Resultado: discriminação.

Coisas como
1) pedirem pra ela colocar nome de outros pesquisadores em artigo, gente essa que ela nunca viu na vida ou que nunca colaborou com coisa alguma (política de “boa vizinhança”)
2) tirarem-na do escritório dela para mudá-la pra sala das secretarias onde, segundo o chefe dela, “ela pode fofocar com as secretarias”
3) ter grants destinados a ela encaminhados para uso de outros pesquisadores (japoneses e homens).

Isso tudo pra dizer que... o ambiente acadêmico no geral é estranho, mas no Japão é estranho e hostil. As pessoas não têm ideia do que é trabalhar num ambiente mais egualitário, ou onde não se desperdiça tanto. Mas isso fica pra outra discussão.

Jettlag/ sono.. volto em breve.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Rewiring

Bem imaginava que isso fosse acontecer: meu cerebro, ele mesmo,  me pregando peças. Vááárias, inesperadas, sorrateiras. Vem de mansinho e me atocaia como um gatuno, em geral quando menos espero: quando durmo, ou quando estou de bobeira tentando espairecer.

Me pego em sonhos nuns dialogos estranhos com minha ex, ouvindo dela que ela seguiu adiante, que vai casar, que está grávida de outro, que na verdade já está de rolo com aquele sujeito que sempre foi uma pedra no sapato durante a relação etc etc. O cérebro faz dessas mesmo, não nos perdoa. E nos coloca nas situações mais dolorosas possíveis. Ahhh  tenha certeza disso!

Outras coisas curiosas: vários momentos que vivi com minha ex têm sido reescritos, só que com outras pessoas como atores/atrizes: mudam caras e rostos, mas eu estou ali. E quando vejo me pego consciente da troca, discutindo com uma amiga, ou dando um beijo numa colega de trabalho, ou pedindo desculpas pra minha irmã... e acordo num rompante, aflito, tentando discernir oque é verdade, oque é fato, do que não é nada senão.... meu cérebro, buscando sair de seus próprios labirintos.

Amor é uma droga mesmo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente #43: "tautologias nipônicas"

-Não está dando certo... não estou conseguindo imprimir o pôster da minha apresentação. O senhor pode imprimí-lo pra mim?

-Hummm não.

-Como assim, não?

-...Não. No email que te enviei semana passada eu dizia que vc deve imprimir o seu pôster.

Eu entendo, mas eu não estou conseguindo imprimí-lo. Te envio o pdf e você o imprime pra mim.

-Não.

-Mas me diga, porque!? 

-Por que você deve imprimir o poster, como dizia o email.

O postêr não vai ter o nome de quem o imprimiu... Ok, vou pedir pra alguém fazer isso pra mim

-Não!! O teu poster deve ser impresso por você mesmo!


Direto da Terra do Sol Nascente #42: "Big boss"

Japão... produzir para criar números e índices de produtividade... mal sei oque pensar quando leio

"I am expecting good many publications of you"

no final dos emails do meu chefe.

domingo, 18 de novembro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente #41: Gincana do ryokan de Kinosani (participação ilustre)


Abre a porta
Tira o Sapato
Calça a pantufa de casa
Sobe a escada
Desvia a cabeça
Atravessa o corredor
Tira a pantufa de casa
Calça a pantufa do banheiro
Abre a porta do banheiro
Entra abaixando a cabeça
Fecha a porta do banheiro
Abre outra porta onde tem um buraco
Agacha
Alivia
Faz yoga
Abre a porta
Sai do box da privada
Fecha a porta do box
Abre a porta do banheiro
Sai do banheiro sem bater a cabeça
Fecha a porta do banheiro
Lava as mãos
Tira a pantufa do banheiro
Calça a pantufa de casa
Atravessa o corredor
Sobe a escada
Desvia a cabeça
Atravessa o corredor
Abre a porta do quarto
Tira a pantufa de casa
Entra no quarto esquivando a cabeça
Deita e comemora o fim da gincana

[por Léo e Natália, dois amigos de longa data, durante visita a Osaka]

Direto da Terra do Sol Nascente, #40: "On the road again?"


["Alice in the cities", por Win Wenders]

domingo, 11 de novembro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #39: sutras (ou seriam mantras?)

Ao fim de cada sessão de meditação nos templos budistas no Japão, termina-se com a leitura de um mantra... ou seria um sutra? Não sei... só sei que, logo após minhas primeiras visitas, quando notaram que eu seria mais que um gaikokujin curioso, me trouxeram um livreto velho, escrito "SOTO NO SUTRAS", onde uma transliteração das leituras estava presente (além de traduções, que poucas vezes li, pois ficam .. bom, outro dia explico).

É interessante ler os sutras, pois no geral eles são monotônicos: não são cantados, como nas leituras do corão (da qual falei uma vez no post ramadam). E acho que aí, nessa monotonia, jaz grande parte da beleza da coisa toda. Pra se começar, há um monge que lê o sutra de pé, e de certa forma, lidera a leitura. Aí as pessoas o acompanham, todos tentando ler ao mesmo tempo. Mas, em sendo o lugar grande, diversas pessoas lendo ao mesmo tempo, uams vozes despontam mais que outras: em geral as pessoas com voz muito forte ou estridente... ou, simplesmente, os desafinados. E essas pessoas têm a proeza de atrair as pessoas ao seu redor pro ritmo delas! E, no geral, elas não sincronizam muito bem com outras pessoas desafinadas/estridentes (no geral, as pessoas de voz mais forte parecem sincronizar melhor com outras). E segue assim, nesse mundo de vozes que parecem querer seguir os passos de um, de outro, do desafinado ali do canto, da mulher de voz estridente de cachecol vermelho, e por aí vai: um mar errante de vozes, como uma nuvem de vagalumes.

[digo isso por que vagalumes sincronizam]


 Mas o curioso não é a sincronicidade, mas esse vai-vem asíncrono (essa palavra existe?) das vozes "dominantes", dos grupos de vozes durante a leitura. 

Outra fonte de beleza infinita são as variações melódicas que algumas pessoas introduzem aqui e ali. Não só melódicas: talvez num lapso de atenção, umas pessoas esticam umas palavras, dão mais pausa aqui, ou ali.  E isso traz umas pequenas oscilações no fluxo da leitura que é muito bonita. Me soa um pouco como Ella e Louis Armstrong cantando no minuto 5:30 dessa música 


[por sinal, vou falar mais sobre esse álbum no futuro!]

Aí, uma hora uma pessoa que deixa de ler pra bocejar, noutra uma pessoa lê acentuando as palavras, outra pessoa lê mais cantado (uma senhora, ao lado das quais meditei algumas vezes, lê meio que  cantando). E, no meio disso, nascem pequenas harmonias, e a leitura, que em princípio era algo monotônico, se enriquece de umas micro-polifonias lindas que seguem amorfas, sem saber se, em algum momento, hão de chegar a lugar algum, ou mesmo se transformar em algo.

Em geral, antes que a resposta chegue, o sutra acaba. 
O sino toca. 
Juntamos as mãos  e nos curvamos em direção à parede em agradecimento. 
Nos levantamos.
E vamos embora em silêncio.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Um médico no campo (Kafka), por Koji Yamamura



"A country doctor", do Koji Yamamura.

Esse é um conto do Kafka muito interessante. Li há muitos anos, só lembrava da cena que mais de deu asco. Mas havia me esquecido do começo. 
Tenso.
É interessante a mistura de realidade com um quê onírico. Não entendo muito bem o porque de termos sempre tantos livros sobre médicos que vão pro fim do mundo trabalhar... vai ver eram esses os cientistas do século XIX e XVIII... há um livro muito bom do Bulkagov (isso, o do mestre e a margarida) chamado a young doctor's notebook, que é simplesmente genial. O mais interessante, em contraste com esse filme do conto do Kafka, é a universalidade do livro do Bulkagov: seja você dona de casa, carpinteiro, matemático, físico, não há como não se identificar. 

Fiquemos com esta animação por agora. Aproveitem.

ps: eu já havia postado algo desse animador nesse outro post.


domingo, 4 de novembro de 2018

Oque define a Matemática?



Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra. : 


- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? —pergunta Kublai Khan. 

 - A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra —responde Marco—, mas pela curva do arco que estas formam. 

Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois acrescenta: 

 - Por que falar em pedras? Só o arco me interessa. 

Polo responde:  - Sem pedras, o arco não existe.

[Italo Calvino, Cidades Invisíveis]


Li isso e fiquei intrigado... pois pareceu definir muito bem um dia de trabalho meu, fazendo pesquisa, provando teoremas, tentando entender onde nascem as contradições, onde está o sentido naquilo que provo.  Me causa um enorme desconforto a aparente contradição, a dúvida e o entendimento andarem lado a lado, até se despedirem ali adiante, depois da curva, onde a razão ilumina e evidencia a natureza de suas diferenças. A meio do caminho vocês são no fundo a mesma coisa, e um não faz sentido sem o outro. Mas as matérias de que são feitos são aparentemente opostas.. embora uma não exista sem a outra.

Li, com os olhos cheios de curiosidade, e um pequeno sorriso nos lábios de ver que alguém, de "fora",  parece ter elucidado um pouco isso.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #38: "te contei aquela?"

Te contei aquela do japonês da loja... ahhh sim, te contei, né?  Ééé...aquela foi boa... mas tenho uma melhor, do dia em que eu fui na praia aqui no... ahh te contei essa também? Não, não  me le'brava. [silêncio...barulho de vento] Puts, já ia me esquecendo de te falar, semana passada.... é...isso mesmo...você jé sabia? Quem te contou? Ah...eu? Nossa.... que coisa... tenho falado pelos cotovelos então hahaha.... Te falei do dia que eu tentei remarcar minha pales... é.. isso mesmo.... ai ai... esses japoneses...pelo visto te contei tudo já... vamos falar do Brasil en... ah..do Brasil você não quer falar?...entendo... acho que nem eu quero...

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #37:"um cafézinho, onegaishimasu"

Entro no café. "-Ohaiogosaimasu"...dou bom dia.

Lá do fundo já vou ounvindo os

"-gomenasai!! Gomenasai!!"

me desculpa... até que aparece o dono, pedindo desculpas.

"Me perdoe, mas a gente só abre às 11 da manhã"

Olho o relógio. São 10:57..."

...Mostro pra ele
... ele olha pra mim
...silêncio

Eu entendo e falo.

"-Ok, esperarei lá fora"

Ele se desculpa novamente.

3 minutos depois, lá aparece ele, me dando novamente bom dia e me perguntando oque eu gostaria de tomar.

"- Agora não quero mais porra nenhuma!"

 E quebro uma mesa de café com uma cadeira, dou uma outra cadeirada no balcão e derrubo as plantas da parede com uma mesa, que sabe-se lá como apareceu na minha mão. O dono sai em desespero pela rua, gritando "-nãããão, foram só 3 minutos!!! Gomenasai!!!" enquanto o persigo, olhos em brasa, sangue em erupção como monte Fuji algum já viu...

Acabado o devaneio digo

"-um café preto... um café preto...sem leite"

Sento na calçada, sob o sol, enquanto penso na máquina de lavar a terminar seu serviço a alguns metros dali.

Aguardo.

Meu café não chega... mas não conto os minutos pra saber quanto tempo espero. Mais de 3 minutos...quase certo disso.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #36: winter has come ou "it`s all about pinhas"

Bom, muitos acham que vou falar de política, mas... na verdade vou falar sobre fins de namoro.

Por que talvez alguns se façam de desentendido, virem a cara, façam vista grossa e não queiram falar sobre. Mas namoros terminam. E dói. E digo mais: no final, e te pega a qualquer momento pra acertar as contas, esteja você onde estiver.
Um "vamos tira isso a limpo" que é como uma emboscada, sorrateiramente te esperando no vagão de trem, ou no mercadinho da esquina, quando toca aquela música melosa.

E aí não tem como: você chora ali mesmo, como eu chorei uma vez. Eu, coração partido, em meio a hortalicas, e  frutas

...e ouvindo simple red



A gente nao controla.

A saudade vitima mais um ser indefeso nesse mundo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #34: ground control


 ou 

"Here am I floating 'round my tin can, far above the moon. Planet Earth is blue, and there's nothing I can do."

Esse versinho pode até soar meio bobo. Mas acho que tem que ser "ouvido" como parte do todo nessa música, que eu não conhecia até recentemente. A letra é uma estória, que começa com o lançamento de um foguete ao espaço e vai desde os preparativos para seu lançamento. 

Somos oniscientes, tudo vendo/ouvindo de longe. 

A base, o "ground control", se comunica com o Major Tom, pede para que este cheque os últimos detalhes, suas pílulas etc. No decorrer da viagem, o astronauta percebe que há algo de errado, começa a flutuar de maneira estranha, as estrelas lhe parecem estranhas. Pede então pra base avisar à esposa que a ama... a base responde em desespero dizendo que a esposa sabe. Embebidos em café e angústia, a base pede por esclarecimentos e mais coordenadas...até que não há mais contato com o foguete. 

Oque eu gosto dessa música é o fato dela ser cantada por uma só pessoa, e o contexto do "quem fala oque" ficar pro ouvinte. 

Aí ficam flutuando no espaço, como ondas intergaláticas as palavras da base de controle:

"-Can you hear me, Major Tom?"

 "-Major Tom, você me ouve?"

E a mensagem parece não chegar a lugar algum. Nós, ouvindo a música, parecemos testemunhas em primeira mão desse homem fora de órbita que hoje não vai voltar pra ver a esposa, para seus pais, para seus semelhantes, filhos (ou sobrinho!). 

Em contexto, essa música me soa particularmente interessante nesses dias de Japão onde tenho me sentido bem away, desconectado do "ground control" que são família, amigos e, até há pouco, namorada. Um momento em que me sinto flutuando no espaço, perdido, desconectado, me perguntando se minha nave sabe em que direção deve seguir.

"-Can you hear me, Raffaello?.... Can you hear me, Raffaello?"

domingo, 30 de setembro de 2018

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Se somos aquilo que comemos, então...


A descrição deste filme diz bastante:

"If we are what we eat, then we are having an identity crisis. Because food's journey from farm to plate is a strange one. An old woman has a simple relationship with her animals: she loves them, kills them, eats them. In town, people are first fascinated, then repulsed, by the intimacy between the old woman and their food. A film without words."


sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #32: kakekotoba (掛詞) (ou "big in japan")

E hoje eu pensei em como o mundo daqui desse lado é intraduzível: li sobre 'kakekotoba", que são como brincadeiras com palavras, que nascem muito da limitação fonética do idioma japonês e sua conjugacoes, que fazem com que coisas como lágrimas ("nâmida") possam virar ondas ("nami")... uma língua em que não existe plural de palavras, ou gênero, onde as palavras transitam entre o ambíguo, o contextual, o dito e o não dito.

E hoje, durante uma conversa, fiz um pequeno play with words: "sakê ô sakemasu" (em português, "evite sakê").

Minha masterpiece!! hahaha ... E que, quando traduzida, se reduz a nada, a pó, a areia... hahaha vira um grão de poesia! Lá passa um transeunte ocidental, aponta pra minha obra num museu e fala

"-Só no japao mesmo pra esse cara fazer sucesso."

Oque me lembrou de uma musica do Alphaville chamada "Big in Japan", da qual eu ouvi falar na minha ultima visita aos eua hahahaha Quando disse pra um pesquisador que aqui morava ele disse

"-Are you big in Japan?"...e cantarolou essa canção



Yeah, babe... once I was big there :)

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #31: natsu/verão


silêncio
o som das cigarras
penetra as pedras
                                                                           [Haikai de Matsuo Bashô]
                                                                           [Que faz todo sentido neste verão]
                                                                           [ :) ]

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Como colocar uma meia





No Mississippi, EUA, não se pode ensinar crianças na escola a usar camisinha. [Fiquei sabendo disso por estes dias no podcast abaixo]
O video é muito engraçado, apesar do motivo pelo qual ele foi feito ter sido essa incapacidade de religiosos mais ortodoxos se abrirem pros problemas do mundo (como educar crianças sobre suas sexualidades).


sábado, 21 de julho de 2018

Precipício de idéias

Quando você tenta escrever algo novo, uma coisa estranha acontece: o estado entre o "saber e não saber"...algo muito sutil... onde teus olhos/idéias parecem caminhar no limiar do entender....e quando você menos espera, vem aquela enxurrada turbulenta de idéias que parecem tirar tudo de ordem, que te jogam umas vezes às cordas...noutras nos braços do "público" (este, imaginário, quando se cria sozinho).

Isso tem me visitado há dias, desde que voltei de viagem e tenho buscado terminar um projeto. Curiosamente, isso me veio hoje de novo à cabeça depois de ouvir essa música do Chico com a Bethânia.




Estava tentando entender oque eu sinto quando os dois começam a contar juntos, palavras distintas, como dois corpos entrelaçados, duas idéias cujos sentidos são diminutos senão ouvidas como uma só... e então você, de longe, buscando colocar ordem na casa... enquanto você fica andando no limiar entre ordem e desordem.

Enfim.... falei e falei sem chegar muito longe  hahaha  Fala sério, te dei essa sensaçãozinha de beira de precipício? :)

Direto da Terra do Sol Nascente, #30: "gente que facilita a nossa vida"

Estive de visita aos EUA de novo. Dias de grande contraste entre a mentalidade ocidental e a oriental. Dias também em que descubro que fui chutado do meu apartamento no Japão porque a dona, simplesmente, ao invés de me avisar que meu aluguel expirava e perguntar se eu queria ficar lá o alugou pra alguém sem me dizer.

OMG!!!! Será que alguém pode explicar pra essas pessoas que existe uma outra maneira de fazer as coisas?!!!

Jeitinho japonês... onde só quem é japonês é levado em consideração. Vivendo e aprendendo.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #29: "honestidade demais dá nisso"

[História real]

Encontro Japão e país X, no Japão.
 Os organizadores do lado do país X entram na conferência, no discurso de abertura, dizem:

- Trouxemos presentes pros organizadores locais.

E lá se vão, numa eterna troca de mãos, vinhos e cookies do país X.

Após todos os presentes serem distribuídos, um dos organizadores japoneses, no alto de sua educação e formalidade japonesa, se levanta e diz:

- Obrigado pelos presentes. Mas esse cookie que vocês trouxeram eu posso comprar no mercadinho perto da minha casa.

[Silêncio.... ]
[Risadas]




quinta-feira, 14 de junho de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #28: (in)flexibilidade

Encontro o Prof. N caminhando pelo corredor, distante. Tento apressar o passo, mas minha xícara cheia de cafe não me permite. Mas tenho algo a dizer, e então o chamo:

-Doutor N, Doutor N!!!

- Sim...?

(um sim bem puxado, entre o "você está me incomodando" e "estou te fazendo um favor aqui lembre-se de que você é meu subalterno")

- Lembra daquela palestra que eu daria quando voltasse de viagem?

- Simmmm...??

- Eu descobri que há um erro no relatório que iriamos apresentar. Devido a esse problema  não há sentido em ter reuniao alguma, pois a discussão se baseia num argumento enganoso. Teriamos como desmarcar?

- Não... Impossível

- Por que?

- Por que você havia dito que ia dar uma palestra.

- Sim, eu sei, mas o assunto está errado. Consequentemente, não há oque apresentar!

- Eu entendi. Mas não podemos cancelar.

- Por que?

- Por que você me disse ha um mes que iria apresentar algo.

[3 minutos depois]
[muitos vais e voltas]
[ou melhor]
[depois de andarmos em círculos por 3 minutos]

- Ok, eu vou apresentar. Mas fique ciente de que há um erro fundamental no relatório.

- Tudo bem.

[Sorriso de chefe]

Saí da conversa pensando: quem está sendo mais inflexível aqui, eu ou meu chefe?

terça-feira, 1 de maio de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #26: "acontece"

Ângulo de entrada perfeito

Estou de volta ao mundo!

De volta à atmosfera terrestre

Depois de dias mais que semanas

Dedicados a provar algo ...

....que estava errado

Acontece.

sábado, 21 de abril de 2018

My little Duckaroo, ou "sobre os ombros de gigantes"

"If I have seen further it is by standing on ye sholders of Giants."

 
Isaac Newton disse a frase acima.... me pergunto se, no fundo, uma vez  sobre os ombros de gigantes, a questão deixa de ser vermos mais longe pois a preocupação então passa a ser outra: passamos sim a ver/encarar outros gigantes... E a grande pergunta que fica é: por que queremos escalar sobre ombros assim, tão altos? Ombros-montanhas, Everests de ombros...   Um gigante, que vê assim tão longe, não vê o chão assim tão bem... ou, quando cai, cai de uma altura muito maior.

Por que então buscarmos algo tão alto? 

De certa forma, isso nos remete ao mito de Ícaro, a esse constante equilíbrio entre o "tão alto almejamos, de tão alto caímos".  

Há alguns dias atrás eu estava pensando no que fazemos para crescer na vida e na carreira: em como nos degladiamos por coisas grandiosas, muitas vezes maiores que a gente, e nos perdemos a ponto de quase cairmos de exausto por elas. Às vezes parece que vivemos em função dessas metas, como se fossem oque há de mais importante no mundo.

Mas realmente, o são?

Me pergunto algumas vezes se não se trata de uma cegueira obstinada seguir por certos rumos. Tenho me questionado tanto ultimamente.... mas tanto mesmo... que tudo me pego vivendo em contínuo desconforto.

Esses dois desenhos (que adoro) falam um pouco sobre isso.





My little Duckaroo, do Chuck Jones



One Froggy evening

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #25: "dentre muitos, mas apenas um"

Hoje fui a Tokyo. E no fervor dos afazeres que tentava cortar da minha lista, logo ali, entre uma estação e outra, o sistema falha. Meu sistema falha...

"-Acho que vou desmaiar...",  digo a mim mesmo.

Sinto a pressão caindo. A porta do vagão abre... "-...talvez consiga chegar até lá", penso mais uma vez, à caminho da embaixada. A porta do vagão se fecha e, já nos primeiros sinais de movimento, tudo volta: sinto a mente fugindo como fumaça que se esvaie por uma chaminé... um zumbidinho vem, me bate nos ouvidos como  ondas de mar que parecem afagar ao furar, ao reduzirem pedras a menores pedras, a casacalho, a pó. "- Não vai dar", me remoe por dentro a aflição...

A consciência a correr pelos meus dedos.... eu quase me dando por vencido, mas preocupado de cair ali, dentre muitos, do outro lado do mundo, no meio de tanta gente que não me entende, onde sou apenas um.

Instinto de sobrevivência chega: me ajoelho, respiro pausadamente... a consciência parece retornar do seu breve passeio por Tokyo... Akihabara, Shin-juku... lá volta ela, como se não quisesse nada... mas já pensando em sair de novo. Passo uns minutos com a mesma...quando acho que está mesmo no sofá da sala, a buscar prosa e em busca de companhia, me ergo, demonstro o quanto quero que fique... mas ela parece de novo querer ir embora.

E me ajoelho... até que a próxima estação chega.

As portas se abrem... e eu saio trôpego, embebedado na minha inconsciência, entorpecido nos dias sem sono, vazio de horas sem alimentação alguma. E me deito na plataforma de trem.

Fecho os olhos....mas os abro novamente, buscando ter certeza de que ainda estou ali. Os fecho... abro... e chegam guardas, arremessando kanjis nos meus ouvidos como conchas de mar que passeiam na areia da praia.

Sento-me, ainda no chão. Sob mãos e braços de auxílio incompreensível, me sento num banco.

A consciência ainda querendo se enveredar pelo mundo, só.

Por um segundo tenho dó de mim.

No outro segundo, entre notas fiscais e moedas de baixo valor que povoam meus bolsos, busco racionalmente o que fazer.

Me levanto... e diante de uma razão esquiva, sigo em frente (mas de olho nela).

"-Talvez você precise mesmo é de colo", murmuro.

... mas talvez seja apenas sono.

quinta-feira, 29 de março de 2018

Herrar é umano

Errar talvez seja a forma mais simples e fácil de se desumanizar. De esquecer de se ouvir. De parar de se acolher. De se confundir, perder-se. Essa semana, depois de me esforçar ao máximo pra me livrar de uma revisão de um projeto (que submeti novamente na última sexta-feira), acordo no meio da noite do domingo pra segunda num estalo

 "Pqp, aquela desiguldade no artigo estava errada!"

 A partir daí não deu outra: não dormi. O cérebro, que inconscientemente deve ter ficado remoendo desigualdades e inequações durante o final de semana inteiro, não quis mais parar. E sim, havia um erro. Fui invadido por uma mistura de coisas: vergonha em ter submetido algo errado, angústia de ter que esperar mais ainda pra que o artigo fosse publicado..e uma seção looonga de autoflagelamento; eu achando que tudo corrobora com minhas crenças de que não faço bem oque devo etc etc.

Somos finitos. E curioso: somos vaidade, fruto dos nossos medos. Perfeccionistas, em maior ou menor grau. Mas incrivelmente, oque somos não se mede pelo que ansiamos, pelos troféus que carregamos nas costas, mas como nos portamos depois de quedas e  tropeços. Profissionalismo é a maneira como lidamos com nossos tropeços no palco e como conseguímos integrá-los à cena de maneira sutil, quase despercebida aos olhos do público; não é mensurável pela perfeição que almejamos, inalcançável, impossívelmente distante. Mais que ganhar, aprender a perder e errar. E transformar essa "matéria escura" em instrumento de transformação.

sábado, 24 de março de 2018

Tropeçando em desigualdades (ou "a pergunta mais óbvia nem sempre é a correta")

Eu sempre me pergunto por que me coloco em apuros. Por que arrisco, por que continuo tentando, por que ... e acho que nunca terei a resposta.

Há momentos  em que pareço ser jogado a um mundo de contrastes e conflitos. Sinto-me como naquelas tirinhas do Calvin, emque ele começa a falar de um mundo sem gravidade.




E sim, lá estou eu, com os pés longe do chão. Sinto minha rotina me levando como um mar em ressaca, que nada traz de volta à margem. Os dias seguem, e a vida passa. Lembrei de algo que  percebi enquanto morava nos EUA:  que ninguém ficava ali por gostar, mas sim pelo que fazia. Nisso entram empregos, oportunidades de trabalhar num lugar de prestígio, dinheiro, poder trabalhar menos (sim, nos países da  américa do Sul ao menos tem que se trabalhar muito mais pra se conseguir menos). E no fundo, vive-se dividido, sem saber muito bem oque é aquilo tudo. Era curioso ver isso nos EUA: o senso de identificação era muito baixo. Eu ouvia de colegas "eu sou colombiano", "eu sou mexicano", embora eles tivessem nascido e crescido em Nova Iorque.

Não imaginava, enquanto vivendo na mini-apple, que pararia no Japão. Agora... pra onde vou depois daqui... parece-me a pergunta mais óbvia. No entando, me percebi recentemente pensando que talvez seja sim a pergunta mais óbvia, mas não a correta. Não se trata de pra onde vou, mas sim oque vou fazer. Talvez seja esta a grande pergunta. E o jeito é ser paciente e honesto comigo mesmo:  misturar os meus medos com os medos dos outros não levará à resolução de nada. No fim das contas,  oque  deve nos moldar são os nossos desejos e sonhos, não nossos medos.

Drink me, make me feel real
Wet your beak in the stream
Game we're playing is life
Love is a two way dream

Leave me now, return tonight
Tide will show you the way
If you forget my name
You will go astray
Like a killer whale
Trapped in a bay

[Bjork, Bachelorette]


ps: a música é essa. O piano é incrível, bem minimalista, em contraste com as cordas e a voz.


terça-feira, 20 de março de 2018

quarta-feira, 7 de março de 2018

Rememorando carnavais passados

Ok, carnaval já passou. Mas eu não posso deixar de comentar algo.

Você já teve medo assistindo um filme? Certamente, não? Por exemplo, o incrível "The shining"/O iluminado, do Kubrick, com aquele menininho andando de pedalinho no hotel.


Mas... e ouvindo uma música?

Toda vez que no meio dos bloquinhos de carnaval eu ouvia essa música eu ficava meio arrepiado.



Minha mente ia longe... e eu ficava me imaginando num salão enorme, cheio de palhaços... aí uma mão aparecia e mexia no interruptor, apagando a luz...

Vixe...que medo!

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #22: "Docinho"

Chego do almoço. Sento na minha mesa.

Passam alguns minutos, abro minha caixa de emails.

Um email do meu chefe:

"I need to talk to you. It is very important. Come to my office asap."

Asap... as soon as possible... Parece um americano, sem tempo a perder, pra nada.

Mas é um japonês.

Percorro o corredor branco sob um clima sombrio. Ouço meus passos ressoando "nhec-nhec"

Bato na porta. "Yesss....?"

Entro. It's me.

O sol bate la fora, mas as persianas estao todas fechadas. Faz frio. Meu chefe não sorri.

Em geral ele não sorri.

Ele me olha com os olhos semi-cerrados, mais japoneses que antes. Perscrutadores. Invasivos.

Olho pro seu cabelo acaju.

"Ele pinta o cabelo, eu sei", digo a mim mesmo.

Me pergunto oque a atendente da loja pensa quando o ve comprando a tinta pra cabelo.

"-5 milhões de yens!... ahhh brincadeira!"

... e ele não ri da piada japonesa.

"-Voce sabe por que te chamei aqui?"

"-Não muito bem... mas suspeito..."

"-Suspeita?!"

[Ele me interrompe]

"-Foi por causa do Togonama, não? Ele nao vai com a minha cara!"

"-Nao? Vai dizer que voce nao fez oque ele tem dito por aí?"

"E oque ele tem dito?" 

"- Que vc roubou o bolo anamaria cremoso ultra recheado da tua colega vietnamita!"

Ele vocifera, aos berros. 

Eu olho pro chão.

E comeco a solucar, chorando

"-Mas é por que eu estava com tanta saudade de provar daquele doce...."

Meu rosto, salgado em lágrimas.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

"As constant as a northern star" [Direto da Terra do Sol Nascente, #21: "a impossível arte de ser não sendo (parte IV)"]



Desapego é uma palavra interessante... e que diz respeito a tantas coisas... nossa necessidade de crescer, de nos afugentarmos da dor e/ou de nós mesmos, de tudo aquilo que não nos deixa sermos oque buscamos ser. A profunda necessidade de partir. E isso machuca, nos machuca, machuca os outros. E dói, acima de tudo, vermos que outros também se afastam de nós para poderem crescer, para se alinharem diante de suas escolhas, diante das direções  em que buscam remar.

Partir e deixa que os outros partam.
Crescer e deixar que os outros cresçam.
Deixar de amar e aceitar que os outros deixam de nos amar também. 


Oh, I am a lonely painter

I live in a box of paints



I'm frightened by the devil

And I'm drawn to those ones that ain't afraid


[Joni Mitchell - A case of you]




domingo, 28 de janeiro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #18: "a impossível arte de ser não sendo (parte I)"

Uma das coisas que mais pega aqui no Japão e da qual já devo ter falado antes é a falta de referências: realmente, não há muito aqui que me faz lembrar do que era morar na América ou na Europa. É tudo muito, muito diferente. Assim, distante do ocidente, saí em buscas de rememorar minha vida antes de chegar a esse pôrto: todas às terças feiras comecei a sair com um grupo de europeus e outros pra comer pizza. E olhe bem que nem gosto tanto assim de pizza... mas tudo bem.

Logo na primeira semana que fui conheci um casal de espanhóis, muito engraçados e simpáticos. Nas semanas seguintes lá fui e.. nada deles. Pergunto pros outros, que me respondem 

"-não sabemos por que eles não têm vindo... só os conhecemos daqui".

Achei estranho... o grupo é realmente pela pizza, não pelas pessoas. Superficialidade? Pensei um pouco mas relevei... não soube dizer... mas tudo bem.

Há algumas semanas saí de novo com o grupo pra um jantar de final de ano. Conversa vai conversa vem, um europeu (francês) faz uma piada racista. Mas ....

...fiquei puto, o sangue subiu. Não aguentei a indignação. Não achei legal e descasquei o sujeito. Disse desacreditar que um cara que tinha estudado tanto como ele poderia disseminar/reproduzir idéias daquelas. Um cara que teve tudo, todas as oportunidades do mundo pra buscar ser quem ele era, falando uma merda daquela.

Não!

E isso foi bom pra mim. Ter ouvido isso, ter vivido isso foi bom. Por que percebi que não há como, não há meios de me encontrar aqui se continuar fazendo oque não quero, ou andando com gente que nada tem a ver comigo. Não, não é com relações superficiais que vou alimentar minha alma do calor que me faz falta. E não é comendo pizza e engolindo sapos que vou ficar bem. 

Foi um "wake-uṕ":  encontre-se, ouça-se: só assim você vai saber em que direção ir e seguir. E isso não tem só a ver com amigos: tem a ver com trabalho, com amor, com onde morar e muito, muito mais. Antes ser um passarinho sozinho a enfrentar as intempéries do tempo do que voar entre urubus. 

Aguarde-me, 2018.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Rafaello K.

Ontem fui ao médico. Meus olhos, avermelhados, davam sinal de conjuntivite.  Entro no hospital, ninguém me entende. Até que ouço "Yasumi" (dia de descanço) e vi que ali não haverá médico pra mim. Como sempre, as pessoas tentam ajudar: uma senhora sai do seu posto pra me levar num outro hospital, numa quadra logo ali. 

E lá vamos nós!

Chego, lêem a carta que a secretária da empresa escreveu, explicando meu estado. "Esse hospital não é aqui". Com muita boa vontade, a enfermeira deixa seu posto e me leva pro outro hospital. Andamos algumas quadras até que...

Você já deve ter imaginado: chegamos no primeiro hospital (que estava fechado em dia de descanço). 

Volto no segundo hospital. Assino coisas, preencho nomes "Romaji, OK?" (caracteres romanos). Sim, OK. Aí sigo por uma séries de coisas e pessoas ininteligíveis, ninguém me entendendo, até chegar num médico que não fala uma palavra que entendo.

E se eu entrar ali pra me curarem os olhos e me operarem de uma apendicite que não tenho?

Me desespero. Oque será que essas pessoas estão dizendo e fazendo? 

Nada faz sentido. "Chotto mate, kudasai"... me pedem pra aguardar.... devem estar a preparar a sala pra me operarem de hérnia, ou desobstruirem minha aorta não obstruída (que eu saiba :). 

"-Monteiro-san", diz uma enfermeira de voz bem fina.

Ainda sem entender, me entregam um papel com sinais e símbolos em japonês. "Prescription?".... Ninguém me entende. "Ok, Ok"... primeiro homem na lua, pago com moeda que trouxe da Terra. Me pedem pra aguardar de novo... e a mesma enfermeira que me levou ao primeiro hospital pede para seguí-la para fora do hospital... "será que vão me levar pra coréia do norte? Ou vender meus órgãos?"

Entramos num prédio... uma farmácia. Antes que as cortinas se fechassem, tudo começou a fazer sentido.

[Esse dia me lembrou muito de um livro do Kafka, "O processo" (The trial)]
[Nele, um cara chamado Joseph K. está sendo processado, só que ele não sabe o por que]
[Aí o livro inteiro é isso, as pessoas o abordando pra falar da gravidade do caso dele e ele sem saber do que se trata]
[Ontem eu senti um pouquinho do que o Kafka queria passar... acho que nunca tinha entendido muito bem aquele livro até então rsrs foi no mínimo interessante]

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Direto da Terra do Sol Nascente, #16: o mundo em 7 minutos




[Castelo de Osaka]
[Muito difícil desenhar nuvens rsrs por mais que elas sejam quase nada]




[Tōdai-ji temple, Nara]
[Estava muito frio]
[Estabeleci o desafio de desenhar tudo oque fosse possivel em 5 minutos]
[...que depois se estenderam a 7 :) ]