terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Entre os emaranhados da verdade e da confiança ("Chain of trust" & "chain of truth")

Uma das coisas que sempre achei interessante quando alguém descreve estelionatários e outros golpistas está em como estes constroem uma "rede de verdade" com falhas, buracos enormes, mas nas quais uma pessoa está disposta a se jogar ao se sentir "em segurança". Tais buracos correspondem àquilo que consideramos difícil de acreditar logicamente, "gaps" lógicos que dificilmente convenceriam, ou se sustentariam, por si só. No entanto, ainda assim, as pessoas acreditam neles, caem em golpes, se jogam, se estrepam. 

A meu ver, há algo maior nessas estórias: a cadeia de confiança que estes vigaristas são capazes de construir. Essa linha tênue, tenebrosa, e enevoada entre a verdade e a confiança.

Mas aonde quero chegar com tudo isso? Talvez tudo tenha começado no texto abaixo: nele  um médico relata o caso de um paciente soropositivo (Mr B, um morador de rua) que não acredita no HIV. O médico tenta e tenta com que o paciente tome o remédio retroviral mas não, o paciente não toma porque não acredita que o vírus do HIV causa a doença. 
"Covid denialism, like AIDS denialism, reveals that many of doctors’ assumptions are incorrect. We overestimate the value of reasoning and facts. We believe in our clinical authority. We expect patients to behave rationally. But we all develop our beliefs through interactions with other people — what you believe depends on whom you trust. "

[Em The Doctor’s Oldest Tool, no New England Journal of Medicine, por Elvin H. Geng]

Calhou de esse artigo "resolver" um desconforto que senti numa outra conversa, ao ouvir que "a ciência é uma fé, assim como a falta dela também o é". Não, não concordei. Na verdade me causou desconforto pensar nisso, apesar de não saber bem oque dizer na hora

Essa frase me despertou uma memória sobre um post antigo, A estalagem da razão: sobre agulhas, alfinetes, Index theorem e linhas, de 2010, no qual cito:

"A meio caminho entre a fé e a crítica está a estalagem da razão. A razão é a fé no que se pode compreender sem fé; mas é uma fé ainda, porque compreender envolve pressupor que há qualquer coisa compreensível."

Fernando Pessoa - Livro do desassossego

Há alguns anos eu até brincaria com esse tema, concordaria com F.P. até. Sim são todas fés. Mas hoje minha visão sobre o tema mudou: verdades não são idéias que flutuam no ar e adotamos as que nos apetecem. 

Mas se já ficamos desconfortáveis com a idéia de toda crença ser uma fé, imagine então a idéia de podermos agir em função de qualquer coisa que acreditemos. Pensemos neste cenário dos dias de hoje: pessoas sem máscara, sem vacina, um perigo de saúde pública. E se esse paciente (Mr. B) fosse um "spreader", um cara que saísse transando com meio mundo passando AIDS pra tudo e todos, dizendo que não era HIV que causa oque ele tem? Trata-se então do direito de não só terem fé, mas de exercê-la da maneira como bem entenderem? Certamente, não ligo que as pessoas acreditem no que queiram: enquanto eles tomam atitudes que impactam a vida deles somente, eu lavo minhas mãos, sigam na direção que quiserem, eles são livres pra tanto. Agora, são livres pra sair espalhando as "verdades" nas quais acreditam? Não, não são.

Uma parte considerável deste embróglio então está nisso, nessa disputa pelo correto ter virado uma disputa de "crenças". As pessoas julgam que tudo, toda visão de mundo contém erros, então são todas iguais. Dessa forma, tudo vira uma religião: futebol, cloroquina, ciência. Cito então algo que li num texto do Asimov:
This particular thesis was addressed to me a quarter of a century ago by John Campbell, who specialized in irritating me. He also told me that all theories are proven wrong in time. 
My answer to him was, "John, when people thought the Earth was flat, they were wrong. When people thought the Earth was spherical, they were wrong. But if you think that thinking the Earth is spherical is just as wrong as thinking the Earth is flat, then your view is wronger than both of them put together."
[Isaac Asimov, "the relativity of wrong"]

Sim! Aí está parte da chave pra esta questão. Existe assim gradações de erro, algo que Asimov foi muito sábio em apontar nessa frase. Há uma "relatividade do errado". E isso acaba tangenciando oque o médico relata. Isso porque existe uma "chain of trust" (cadeia de confiança) da qual o médico fala, que talvez preceda oque chamo de "chain of truth" (cadeia de verdades): adotamos, acolhemos a ciência em princípio por confiarmos naqueles que nos levam a ela. Posterior a isso, vê-se que existe sim todo um arcabouço de idéias e sustentáculos que seguram esse edifício em pé. Claro, não sem contradições internas, mas com amarras muito mais firmes e auto-consistentes do que uma "fé" religiosa, por exemplo. Sendo assim, não desmereço ou nego que a fé exista de alguma forma, mas ela é somente um "ticket de entrada" pra essa casa onde a ciência reina. É talvez oque o médico ressalta do texto do NEJM quando diz
"I am part of what anthropologist Heidi Larson calls a “chain of trust” in a social system that has treated me fairly and generously — a chain that did not reach Mr. B. I realized that the chain’s links consist of lived experiences and relationships, not data in scientific journals. I believe what my colleagues say because of my proximity to their experience: I work with people like the scientists who conducted the earliest studies, and I know them to be generally honorable and credible. Mr. B. did not believe — ultimately, not because of quibbles with the scientific method, but because the sum of what society, and “expert” professionals like me, had offered him in life seemed more like lies than the truth. "
[Em The Doctor’s Oldest Tool, no New England Journal of Medicine, por Elvin H. Geng]

Achei incrível ver que, no fim das contas, a atitude do médico foi a de ter empatia, de ver ele mesmo aquilo que o paciente estava professando/fazendo. Ele sacou tudo aí, quando viu que este Mr B, marginalizado, vivendo às franjas da sociedade, nunca participou do que era discutido nessa "grande casa" (aristocrática talvez?) na qual a ciência impera. Sendo assim, ele mudou a abordagem: simplesmente convidou Mr B a ela. O ticket de entrada: simplesmente tomar o anti-viral. Foi uma sacada genial ele perceber que não era uma questão de convencimento por argumentos, mas uma outra coisa.... talvez resultados? Não exatamente... 

Aliás, esse "chain of trust" é algo interessante: recentemente o "this american life" fez um episódio sobre um republicano, âncora de televisão, super conservador, se reunindo com pessoas ati-vax pra tentar convencê-las do valor de tomar a vacina (episódio 736: The Elephant in the Zoom). O programa vai por linhas incríveis, até chegar ao convencimento (ou quase) daquelas pessoas.

De alguma forma, depois desses redemoinhos que se sobrepões, pensei em mim mesmo, em algum momento lá em 2010, mais confortável com essa idéia de que a ciência, mesmo a matemática, é sim uma ciência que envolve uma certa fé, ou intuição. Será que o que me movia era a fé? Era a crença de que aquilo que via era a verdade, uma única verdade, ou forma de verdade? 

Não sei.. se era fé, acho que a perdi em algum momento. Mas já era tarde: já fazia parte do "clube", me via parte da engrenagem, membro desse grupo "fechado", que não admite outra religiões... em especial, parte de um grupo que muitas vezes não admite outros que nunca foram convidados a ele, pra essa "festa" regada a lógica e leis universais, onde a ciência impera.

E pra terminar esse grande círculo: tudo bem termos compaixão por pessoas negacionistas, mas não acho "producente" confundirmos esse sentimento com o de "liberdade que essas pessoas têm", ou mesmo confundir as crenças deles com "a mesma fé que temos na ciência". Acho que, a alguém que diga isso, ou equalize as duas "crenças", só posso dizer: "your view is wronger than both of them put together".

Acredito, isso sim, que esse artigo indica que a paciência, a escuta, precede a razão em alguns debates onde existe sim um lado que está correto. 
Instead of arguing about the veracity of science, perhaps I could simply bear witness, as one human to another. 
[Em The Doctor’s Oldest Tool, no New England Journal of Medicine, por Elvin H. Geng]

É isso, pessoal. Crescer para melhor ouvir. Ouvir para mais alto crescer.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Letrada e safada

Há algumas semanas conversava com um amigo indiano que estava pra voltar à India pra casar. Havia enrolado a namorada uns 5 anos, até que ela e as famílias dos dois deram uma pressionada e ele cedeu. Eu, curioso, resolvi perguntar mais sobre o caso.

- Mas pérai...  como as pessoas se conhecem e casam no teu país se você não pode chegar numa pessoa diretamente?

- No meu caso, eu falei pra minha mãe o tipo de esposa que eu queria. 

- E que tipo que era? - perguntei.

- Tinha que ter mais ou menos a minha idade, e ter um mestrado.

- What!!! Mestrado? Pra que que você quer um mestrado?! Tanta coisa boa pra procurar em alguém e você quer um mestrado?!

- Ahhh deixa a vida mais fácil. Seja por conta das conversas que podemos ter, ou caso a gente mude de país... Aí ela pode aprender outra coisa mais facilmente, ou encontrar um emprego com mais facilidade.

Na hora fiquei pensando a respeito e vi que, de alguma maneira, até fazia sentido... Me perguntei então se também tenho exigências do tipo. Ou pior, exigências implícitas, que nem me dou conta! Será? Fiquei pensando na hora e cheguei à conclusão que sim, estudo conta, claro. Mas, no meu caso, acho que a combinação "letrada e safada" seria o melhor dos dois mundos :) 

Fiquei me imaginando num mundo em que eu fosse indiano, falando isso pros meus pais: 
"-Olha, mãe. Olha, pai.... pra inteligência a conversa basta. Agora... ser safada... é mais difícil, né? Safadeza é química, jeito de olhar, de desejar, de se doar".  É... o tipo de coisa que é fácil de saber quando está ali, mas difícil de descrever pra alguém... e meus pais, os conhecendo bem, certamente errariam na escolha: se dependesse da minha mãe, casaria com alguma filha de amiga dela, fofinha, meiga, etc. Por outro lado, se dependesse do meu pai, acabaria com alguma mulher bem barraqueira, sem juízo algum.

É, pessoal.... independentemente do cenário dos horrores acima, ainda fico feliz por poder fazer tal escolha e "errar por mim mesmo", pois se tivésse nascido na Índia teria sido um celibatário sem salvação. Ou, se dependesse dos meus pais, bem mal arrumado no amor. 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Faz zum-zum pra mim

Saudações, leitores amados.

Aqui quem vos escreve é seu abelho-carneirinho preferido. Agora, fazendo zum-zum pra vocês.

Ou melhor, pra mim mesmo.

E olha que antes achava que quem fazia zum-zum era meu refrigerador (declamando um eterno e repetitivo "o meu refrigerador não funciona").  

Mas não. Descobri que o tal zum-zum é tinnitus. Bem que esse som que ali não está - mas insiste em aparecer - poderia ser de aplausos, ou pessoas me ovacionando enquanto ando na rua, mulheres me professando desejos indizíveis em público, ou pessoas dizendo o quanto me gostam ou admiram... mas que nada: sons que só me visitam no silêncio da noite, entrando de baixo das cobertas comigo e me dizendo suavemente ao pé do ouvido.. "zuuuuuuuuuuu".. 

Afff... esse amor monótono que nada de novo me declara. Falasse, antes fosse, que me quer, que me gosta, me deseja, que vai me abandonar assim que eu deixar de ter um sustento... mas só fazer zum-zum pra eu ver, fazer zum-zum pra mim? Não... assi-sim ni-ninguém aguenta. Assi-sim ni-ninguém dorme direito (eu muito menos). 

Me ame: ok, faça como queira.
Mas me deixe.
Ainda mais agora que sei que você está por perto, indesejadamente.


sábado, 27 de novembro de 2021

Direto da Terra do Sol Nascente #119: só poderia ser amor... (ou, talvez, o contrato)

[Bato na porta]

- Professor boss? Are you there?

-Yeeeessss

[Ele responde, com um yes bem longo]

- I have something to tell you. Well... you know... it's hard to say this, but I'll be leaving next year, in February...

- Ohh!!! Good! So, you have found your next position...

- No. Actually, I have not.

- How are you leaving then, if you have no next job?

-Well.. it's complicated. I just think that..

-Because in general people find a job before leaving their current job.

-...but I..

-Because you know that you can stay longer if you want, we'll be happy to have you here 'til the end of your contract..

-...but...

- What don't you do some more thinking and let us know? 


[Pronto, falei! ]

[Fiquei surpreso com a reação do meu chefe, quase "paternal", diria]

[Inesperado para um japonês. Foi bom, sentir-me benquisto onde trabalho, numa cultural tão different da minha.]

[Ainda meio assustado diante das minhas próprias deliberações, mas... acredito que esse barco já saiu do porto e a ele não volta mais.]

[...rumo ao desconhecido mundo lá fora, aqui vamos nós]

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Direto da Terra do Sol Nascente #118: carnaval japonês (ou "quebrando o contrato")

 É agora... respiro fundo, vou dizer tudo oque penso.  Dizer que me cansei, que vou embora, que de hoje não passa... 

..bato na porta, "shitsure-shimasu", come licença já entrando... 

...ninguém na sala.

"-Maybe our boss is hiding under his desk... we just don't want you to leave us", me disse a secretária.

Vai saber... tento de novo mais tarde.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Love in the time of crisis


Reinterpretação de "serious love", de Roy Lichtenstein.


[Ficaria mais confortável se fosse a mulher falando, mas... acho que é justo dizer que todo lado de uma relação tem suas condições.]

[Com isso, tento ser honesto também, ao admitir que relacionamento é algo a dois, e são dois os universos que se encontram nele.]

[Em todo caso, sempre achei uma piada esses ads em que o "terms and conditions apply" é dito bem rápido ao fim da propaganda, ou em letras diminutas num cantinho... Depois de tantos amores que naufragaram antes de chegar na praia, talvez possa dizer que  relacionamentos não são lá muito diferentes disso.]

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Direto da Terra do Sol Nascente #117: "stepping into the void"

Estava pensando ontem, como a palavra "muda" tem tantos conceitos distintos: uma planta que ainda requer cuidado para florescer em árvore, uma pessoa que não pode falar, e uma mudança que se está pra fazer. Muda ou não muda? Me calo e penso... acho que sim, que mudo. 

Há um tempo já tenho enrolado com essa estória, mas acho que chegou o momento de dar esse passo em direção a algo que não sei muito bem oque é. Curioso, por que sempre ouvia as pessoas me acharem "destemido" ou ousado por ter me mudado pra tantos lugares. E tinha razão: em suas devidas proporções, tudo isso foi fácil, pois sempre soube de onde saía e pra onde ia. Dessa vez... sair da minha casa pra ir pro...sofá da minha mãe? Wow!! Nunca sonharia com isso... mas talvez seja oque a vida esteja pedindo por agora... meio que me surpreendo em, deliberadamente, ir nessa direção, como se sacrificasse uma rainha no xadrez ao vislumbrar um xeque-mate no horizonte.

É estranho... um enorme desconforto. Como se desse um passo em direção ao vazio, andando sobre uma corda bamba sem ter uma rede de proteção lá em baixo. O afago dos amigos, da família, muitas vezes chega e acabam rechaçados... demorou pra que eu entendesse minha hostilidade e pudesse dizer que agradeço, mas que são mais que palavras aquilo que poderia me acolher agora. Alguém que entenda o medo, minha ansiedade?

Tenho lido "Quarto de despejo" e, comparativamente,  me sinto envergonhado em pensar nessas coisas. Não por sentir que tenho muito, mas por saber que existe um monte de gente por esse mundo que vive com essa angústia dentro de si todos os dias, semana a semana, sem saberem se vão comer, ter onde dormir, onde viver, se vão ter como se manter em pé. É uma sensação desconfortável de me sentir ali, nas entrelinhas, dentre as palavras dela, preso dentro de uma miséria que parece estrutural, indissociável... às vezes fico me perguntando se oque me falta para mudar é simplesmente fazê-lo. "Ir, dar as caras, pegar um touro pelo chifre"... 

Realmente... acho que nunca passei por grandes riscos nessa vida. Me deixo a pensar oque é então correr um risco. O medo de cair, de tropeçar, de me deixar levar pelo vento...? O medo e o risco, intrinsecamente ligados à nossa matéria prima, a fragilidade. Oque nos dá contorno e nos guia, fazendo-nos evitar pedras em falso, nos jogarmos pelo mundo a cair em redemoinhos, chutar pedras, atirar em nuvens, plantar bananeiras no cruzamento de Shibuya.... 

Viver, se arriscar, e ter serenidade pra aprender diante da fragilidade que nos faz crescer... sei lá... quem sabe...


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Bedbug-free love

Hoje saí pra celebrar o aniversário de uma amiga latino-americana. Vocês sabem: esse pessoal da américa latina acaba se encontrando e encontrando coisas em comum que, nem sempre, são lá tão comuns assim. Enfim, só sei que versei a falar que não me lembrava de muitos aniversários: 33 anos? Não lembro. 25? Não faço idéia. 

E os 30?

Os 30 eu lembro. Foi um frio dia na mini-apple, logo depois de eu ter descoberto que minha casa estava infestada com bedbugs. Havia começado a sair com uma moça que logo depois passaria a ser namorada, mas tudo estava no começo ainda, aquela relação no vácuo, onde nada é bem definido, nem qualquer compromisso. Mas enfim, lá estava eu, dezembro, voltando pra casa às pressas pra poder empacotar tudo porque na manhã seguinte viria o pessoal da dedetização.

Mas porque eu estou falando disso? Bom, oquecompartilhei com a minha amiga não foi o evento em si, mas meu medo de achar que meus amigos, assim que soubessem, deixariam de sair comigo, e que a moça me daria um fora. "-Aqui em casa você não vem..", ou um "-Melhor nos encontrarmos no café lá do outro lado da cidade". Realmente, fiquei bastante assustado, achando que uma vez que a moça que soubesse seria o fim. "-Let's not see each other for a while... I don't think this... you know, it is not you or this bedbug-thing , it's me... it's me...". Well... eu aguardei por este momento e o antecipei em conversas na minha cabeça por um bom tempo, mas ele acabou não chegando.

Os begbugs, no entanto, ficaram lá em casa por mais um tempo. Inimigo invisível, como uma força maligna que se esconde dentro do armário, debaixo da cama, em cima da cama, na cama contigo enquanto você dorme. Realmente, eles quase me custaram umas tantas relações, mas enfim, depois de muito esforço (e 4 meses longe na Europa, delegando o problema pro meu então locatário de inverno que ali passava um sabático), voltei pra casa, e eles já não mais estavam.

-Ohhh Rafa... it was really love then...
- Who, the bedbugs?
- No, silly! The girl!
- Maybe... I just think the winters were tough.. hard to face them by yourself....

Um abraço de aniversário termina a noite. Minha amiga dá tchau, e uns tapas na roupa pra espantar qualquer bicho... olho pra trás, ela disfarça... pelo visto perdi uma amiga... não deveria ter falado nada... malditos insetos!

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Dear editor...

Dear referees and editors.

Anonymity does not grant you rights to be jerks. 

I think you are a fuc**** idiots who have not read the paper. 

 Sincerely, 

Momo


[I wish I could leave the academic world in such a grand style]

[but I was a bit more polite than that 😁 ]

domingo, 26 de setembro de 2021

Medos

 Você tem medo de algo? Algum medo, muitos medos?

Eu tenho um medo do qual nunca havia me dado conta até recentemente: o de me tornar uma pessoa conservadora e extremista. Virar um adorador de Trump, ou passar a votar no Maluf, coisas do tipo. Envelhescer para a direita, como uma fruta madura que passou do ponto e agora só junta moscas.

Me pergunto o quão plausível é esse medo, e de onde ele vem... seria meu estarrecimento diante de conversas com pessoas mais velhas, desconectadas do mundo e fervorosas amantes de um mundo que no passado "era melhor"? Ou seria uma tendência que vejo em muitos de normalizar aquilo que não entendemos - "todos os políticos são iguais", "direita e esquerda são iguais" etc - e passar a ser uma pessoa apática, indiferente? 

Bom... ainda não cheguei a isso. E a conversa com amigos mais velhos que ainda se mantêm coerentes com os "eus" que um dia foram me dá a esperança de que sim, de que eu envelheça com coerência enquanto me permitindo amadurecer. Salve, salve!

Outro medo é um mais recente, que me veio depois que fiquei jogado como uma estrela do mar numa plataforma de metrô de Tóquio quando passei mal e quase desmaiei: o medo de morrer sem ver as pessoas que amo. Sem poder abraçar as pessoas que gosto. Sem poder fazer piada da minha mãe e rir dela, ou de mim, com a mesma. Sem poder ver meu sobrinho e vê-lo crescer. Sem poder ter uma casa com sofá onde eu tire uma soneca à tarde. Morrer longe, como um ostracismo eterno que se estende ad infinitum como uma pausa. Acho que é um dos maiores motivos pra que eu queira sair daqui ontem.

Até me pergunto se há outros medos por baixo da pele, escondidos nos sonhos, ignorados quando não deveriam ser, ou medos-que-não-suspeito-serem-medos. Bem capaz de serem esses dois os mais assustadores que, como uma ameaça, me perturbam. Talvez porque sejam coisas que, em princípio, não posso controlar: ninguém sabe quando a vida acaba, ninguém sabe oque há de ser o amanhã. 


Bom.. não era pra ser um post fúnebre, a falar de mortes ou coisa do tipo. Acredito que seja mais um post onde tento olhar pra mim mesmo, pra dentro, e ver oque tem me feito ponderar sobre algumas decisões que tenho que tomar em breve. "Temo, mas encaro", como uma antípoda ao "penso, logo existo", me soa mais coerente com esse mundo onde não só a racionalidade guia nossos passos, mas sim como lidamos com riscos, expectativas, ansiedades, temores, desejos...