domingo, 26 de setembro de 2021

Medos

 Você tem medo de algo? Algum medo, muitos medos?

Eu tenho um medo do qual nunca havia me dado conta até recentemente: o de me tornar uma pessoa conservadora e extremista. Virar um adorador de Trump, ou passar a votar no Maluf, coisas do tipo. Envelhescer para a direita, como uma fruta madura que passou do ponto e agora só junta moscas.

Me pergunto o quão plausível é esse medo, e de onde ele vem... seria meu estarrecimento diante de conversas com pessoas mais velhas, desconectadas do mundo e fervorosas amantes de um mundo que no passado "era melhor"? Ou seria uma tendência que vejo em muitos de normalizar aquilo que não entendemos - "todos os políticos são iguais", "direita e esquerda são iguais" etc - e passar a ser uma pessoa apática, indiferente? 

Bom... ainda não cheguei a isso. E a conversa com amigos mais velhos que ainda se mantêm coerentes com os "eus" que um dia foram me dá a esperança de que sim, de que eu envelheça com coerência enquanto me permitindo amadurecer. Salve, salve!

Outro medo é um mais recente, que me veio depois que fiquei jogado como uma estrela do mar numa plataforma de metrô de Tóquio quando passei mal e quase desmaiei: o medo de morrer sem ver as pessoas que amo. Sem poder abraçar as pessoas que gosto. Sem poder fazer piada da minha mãe e rir dela, ou de mim, com a mesma. Sem poder ver meu sobrinho e vê-lo crescer. Sem poder ter uma casa com sofá onde eu tire uma soneca à tarde. Morrer longe, como um ostracismo eterno que se estende ad infinitum como uma pausa. Acho que é um dos maiores motivos pra que eu queira sair daqui ontem.

Até me pergunto se há outros medos por baixo da pele, escondidos nos sonhos, ignorados quando não deveriam ser, ou medos-que-não-suspeito-serem-medos. Bem capaz de serem esses dois os mais assustadores que, como uma ameaça, me perturbam. Talvez porque sejam coisas que, em princípio, não posso controlar: ninguém sabe quando a vida acaba, ninguém sabe oque há de ser o amanhã. 


Bom.. não era pra ser um post fúnebre, a falar de mortes ou coisa do tipo. Acredito que seja mais um post onde tento olhar pra mim mesmo, pra dentro, e ver oque tem me feito ponderar sobre algumas decisões que tenho que tomar em breve. "Temo, mas encaro", como uma antípoda ao "penso, logo existo", me soa mais coerente com esse mundo onde não só a racionalidade guia nossos passos, mas sim como lidamos com riscos, expectativas, ansiedades, temores, desejos...



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