segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Direto da Terra do Sol Nascente #117: "stepping into the void"

Estava pensando ontem, como a palavra "muda" tem tantos conceitos distintos: uma planta que ainda requer cuidado para florescer em árvore, uma pessoa que não pode falar, e uma mudança que se está pra fazer. Muda ou não muda? Me calo e penso... acho que sim, que mudo. 

Há um tempo já tenho enrolado com essa estória, mas acho que chegou o momento de dar esse passo em direção a algo que não sei muito bem oque é. Curioso, por que sempre ouvia as pessoas me acharem "destemido" ou ousado por ter me mudado pra tantos lugares. E tinha razão: em suas devidas proporções, tudo isso foi fácil, pois sempre soube de onde saía e pra onde ia. Dessa vez... sair da minha casa pra ir pro...sofá da minha mãe? Wow!! Nunca sonharia com isso... mas talvez seja oque a vida esteja pedindo por agora... meio que me surpreendo em, deliberadamente, ir nessa direção, como se sacrificasse uma rainha no xadrez ao vislumbrar um xeque-mate no horizonte.

É estranho... um enorme desconforto. Como se desse um passo em direção ao vazio, andando sobre uma corda bamba sem ter uma rede de proteção lá em baixo. O afago dos amigos, da família, muitas vezes chega e acabam rechaçados... demorou pra que eu entendesse minha hostilidade e pudesse dizer que agradeço, mas que são mais que palavras aquilo que poderia me acolher agora. Alguém que entenda o medo, minha ansiedade?

Tenho lido "Quarto de despejo" e, comparativamente,  me sinto envergonhado em pensar nessas coisas. Não por sentir que tenho muito, mas por saber que existe um monte de gente por esse mundo que vive com essa angústia dentro de si todos os dias, semana a semana, sem saberem se vão comer, ter onde dormir, onde viver, se vão ter como se manter em pé. É uma sensação desconfortável de me sentir ali, nas entrelinhas, dentre as palavras dela, preso dentro de uma miséria que parece estrutural, indissociável... às vezes fico me perguntando se oque me falta para mudar é simplesmente fazê-lo. "Ir, dar as caras, pegar um touro pelo chifre"... 

Realmente... acho que nunca passei por grandes riscos nessa vida. Me deixo a pensar oque é então correr um risco. O medo de cair, de tropeçar, de me deixar levar pelo vento...? O medo e o risco, intrinsecamente ligados à nossa matéria prima, a fragilidade. Oque nos dá contorno e nos guia, fazendo-nos evitar pedras em falso, nos jogarmos pelo mundo a cair em redemoinhos, chutar pedras, atirar em nuvens, plantar bananeiras no cruzamento de Shibuya.... 

Viver, se arriscar, e ter serenidade pra aprender diante da fragilidade que nos faz crescer... sei lá... quem sabe...


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