domingo, 9 de junho de 2019

Mar de mudanças sem fim

Será que já falei sobre como foi a última visita ao Brasil? Acho que não. Bom... se o fiz eu vou escrever aqui de novo. E eu bem sei, faz tempo já, alguns meses da visita. Mas isso ficou na minha cabeça, e estou há tempos pra elaborar sobre.

Fazia tempo que não visitava meu país de origem (mais de 1 ano e meio!) e voltar foi ao mesmo tempo um pouco incômodo e confortável: é como estar de volta a uma casa que você conhece, onde sabe que aquele lugar aconchegante vai estar ali te esperando, teus amigos vão no geral estar por perto etc, mas onde vc não cabe muito bem.

Muita coisa familiar e claro, várias outras coisas que mudaram também!

Como minha irmã ter tido um filho. Que mudança! Agora, nas festas de família, há um bebêzinho arrancando risadas, engatinhando, gritando e chorando de fome.

Minha irmã, por mais que tenhamos crescido juntos, nunca foi lá muito próxima a mim. Talvez por interesses divergentes, ou por termos uma certa diferença de idade considerável (quando se é adolescente). Só fomos realmente começar a interagir mais e ter amigos em comum na faculdade, oque durou uns 4 anos somente. Logo após saí de São Paulo e caí nessa vida cigana :P 

A vida famíliar enrigesse a maneira como vemos os outros: aquele parente (pai, irmã, mãe) vai ser sempre do jeito A, sempre reagir da maneira B e sempre querer ser C em certas ocasiões. Eu, diante/ aos olhos deles (dela, no caso), sempre vou agir de maneira X, ser um Y, e por aí vai. Enrigecemos a maneira como o outro é por diversos motivos: para nos defendermos, para conseguirmos prever e - de certa forma  entender - os outros. Infelizmente, isso não acontece com família somente, mas também com amigos, namorada(o) etc. E, nesse processo, acabamos por cometer erros enormes ao generalizarmos, terminando por confundir oque a pessoa realmente é com aquilo que imaginamos que ela seja. 

E há um gap enorme entre essas duas coisas!

Sentei numa manhã de céu azul na sala da casa da minha irmã, eu, ela, sobrinho ao colo. Dividimos coisas sobre nossa mãe, sobre nosso pai, sobre a gente. E, a medida que fui falando, fui tentando me despir de tudo oque imaginava que minha irmã era, e fui falando sem muito pudor sobre coisas que achava que fossem trazer alguma hostilidade da parte dela; isso sem ser agressivo, ou assumir um "você é assim, então você vai sempre dizer isso!". Não, simplesmente dividi, compartilhei e, assim, ela me ouviu, eu a ouvi. 

Confesso que me senti estranho. Estranho por ver o quão rígido eu era, fui, e o quanto estávamos os dois ali, crescendo ou tentando crescer e mudar. Não há como querer que os outros mudem se nós mesmos não fomentamos mudança dentro da gente. Como uma grande espiral que pareço sentir em diversas formas da minha vida, vi ali diversas sementes de compreensão, paciência e entendimento, brotando.

Na hora me senti envergonhado por não deixar as pessoas que me cercam, inclusive as que amo, mudarem. Em particular, por não deixar minha irmã mudar, por vê-la de uma maneira fixa. Por me agarrar às minhas crenças do que ela é e me fechar ao que ela mostra e me oferece sobre si mesma. Pensei nos amigos dos quais me afastei por não ter sido paciente, no namoro que terminou com um vácuo enorme dentro de mim - onde cada lado penou em seu próprio jeito em aceitar a mudança do outro, na minha rigidez diante dos japoneses que me cercam, na rigidez diante do mundo que me pede pra me distanciar da academia e seguir adiante de olhos semi-cerrados. Senti que oque limita muito disso é medo (meu/nosso) e que talvez a única forma de superá-lo é tentando, é ouvindo, é me despindo daquilo que ser o mundo, sombras nessa caverna, pra abrir os olhos praquilo que ele realmente é. Oque me lembra um tanto de um trecho do Amir Klink.

“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.- Mar sem fim: 360 graus ao redor da Antártica‎, de Amyr Klink

Acho que isso diz tudo: pessoas são um pouco como águas que acreditamos ser frias, gélidas e que, no fundo, são apenas água. Acho que assim que deveríamos vê-las/vivê-las: sem a arrogância de acharmos que sabemos tudo sobre elas, sem medo de entrar nelas por temer o frio, mas simplesmente abraçá-las, acolhê-las pelo que são. 

Vou continuar por aqui (retorno ao trabalho e entrevista hoje!). Escrevo mais em breve. :) 

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Job interview


-Mr. Rafaello, we are mesmerized by your math knowledge!! Now let's move to other questions. Can you spell the word salary?

[silence]
[long silence]
[very long silence]
[awkward silence]
[:P]





quarta-feira, 29 de maio de 2019

E o coração dela batia forte, forte, FORTE MESMO

             
[Gilberto Gil - “O Sonho Acabou" - Expresso 2222]



Eu a encontrei e
mesmo depois de tanto tempo
O coração dela ainda batia, batia, batia por mim
Batia forte
forte
FORTE!
FORTE MESMO
Que eu ouvia de longe,
de milhares passos de distância
Forte como batedeira/britadeira
Tão forte que virou incômodo...
"-Será que é amor?"
Me pergunto
Penso...
 ...e vejo que já recobro a consciência
Que me diz que tudo não passou apenas
Apenas somente mesmo
Do alarme do meu celular
Que bate forte
forte
FORTE
FORTE VIBRA
e sem romance algum
tenta me empurrar da cama
e me jogar nas garras e dentes enormes
do dia que adiante me espera
de manso
de tocaia


domingo, 26 de maio de 2019

"When you got nothing, you have nothing to lose" (parte 7 -- "the butt call")


[Os desenhos estão cada vez piores rsrs]
[Mas, em minha defesa, está o fato deles virem a mim organicamente, sem muito pensar ou planejar]

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Direto da Terra do Sol Nascente #51: "shituation"

Vocês sabiam que os japoneses têm uma dificuldade enorme em falar "si" ou "se", falando ao invés "shi" ou "shê?

Éééé pessoal..quando falam inglês, não é incomum ouvir coisas como "Can I shit here?" te diz um japonês super educadamente.

Mas ok, pareço um adolescente besta falando. Sei que não é necessariamente engraçado, o ponto não é esse (ainda!). Queria contar um "causo" relacionado.

A última se trata de um acontecimento super Leminskiano1, neo-concretista,  digno de nota, onde quase morro de rir e me coloco num embaraço enorme.  Ocorreu o  seguinte: estava eu, na terapia, sentado num sofá e falando com minha terapeuta do outro lado. Aí digo

"-These last days, looking for a job, have been really complicated... I know that I have no control over the whole process, so I can only try to stay calm... but sometimes it is very difficult"

Aí a terapeuta vem com

" I understant.... I understand. This shituation..."

Aí não deu rsrs eu fiquei pensando na poesia daquele momento, em como uma construção daquele me havia passado despercebida, e em como descreve de maneira profunda a "shituation" que eu tentava descrever hahaha me segurei para não rir e dividir a piada, mas acho que dividir aqui tudo bem :)

Apesar da graça, consegui me equilibrar entre a piada e a admiração pela construção desse novo termo que agreguei ao meu  pobre vocabulário (é pessoal, esse sou eu: expatriado, esquecendo a língua materna...).




Sobre oqual vc pode ler mais em varios dos meus posts antigos: este aqui de 2016, este aqui de 2015, este outro de 2012...e este mais velho ainda, de 2010!

quinta-feira, 16 de maio de 2019

"Toca essa não, DJ!"

Tenho uma tia que, começa a tocar Elvis por perto ela cai no choro: fica aos prantos, fala que lembra dele dançando, que "era um homem lindo" etc etc. Eu fico imaginando se é caso de coração partido, ao lembrar de algum ex ou coisa assim. Enfim... só sei que é isso: começa a música, ela perde o controle: lágrimas...lágrimas e mais lágrimas.

O post de hoje é sobre isso: essas músicas que você gosta mas não queria que tocasse. "-Toca essa não, DJ!", alguém grita lá do fundo... mas não: a música tá na caixa de som, num café, na praia....e você que se cuide: lágrimas ou mesmo sentimentos estranhos hão de vir... aaahhh se vão vir!!! Então a questão toda aqui não é a música ser triste ou não, mas te trazer um sentimento estranho, uma memória, um "embarrassment" ou algo assim.

Mas paremos de teorizar: vamos lá...uma lista (não rankeadas... só organizadas pela ordem que estou me lembrando delas):


1) Todas as músicas do Molejão (aquele grupo de pagode).


Motivo para estar na lista: começa a música e você, ex-headbanger, descobre que sabe todas as letras de cor. Vai ser a única música que não vou postar aqui, porque só de ouví-las elas ficam na cabeça por dias a fio.


2) George Michael, Careless whisper




Motivo para estar na lista: aos 3 segundos de música...pára tudo! Começa um saxofone que arruinaria qualquer cena romântica. Imagina você...ali... num jantar ...olhares, sedução..romance... tudo certo...luz de velas,  vinho na mesa...aí a pessoa sai de cena pra ligar o ipod...e toca essa música. PQP, não!! Estraga tudo... mas a música é boa, por mais que eu tente evitá-la. O George Michael com essa voz de seda...esse refrãozinho, o baixo com um groove bem leve... porra, é uma música piegas das boas... rapidinho você começa a bater o pé e groovar com a música

"I never gonna dance again..."

...outra que fica na cabeça por dias sem te deixar em paz (mas tem uma pegada bem boa). 

3) Tracy Chapman, Baby can I hold



Motivo para estar na lista: pouts...essa é outra, cena de choradeira em novela brasileira. 

"Fernado Eusébio Artêmio Mauro de coração partido porque a moça rica, Laura Mattias  Richjkovn, não corresponde seu amor."


A Tracy Chapman é uma cantora e tanto,  é uma música muito boa, e a letra é boa também. Basta ver o quão sucinta e densa ela é em 


"Baby, if I told you the right words

At the right time, you'd be mine" 



... mas essa me lembra de viagem de carro ao lado da ex, aquela angústia dos dois lados saindo pelo porta-malas e se espalhando pela estrada em não sabermos se aquilo era uma última vez que nos víamos, uma enchurrada de "I'm sorry", montes de "right words" - ditas e não ditas - se emaranhando com  a música que esta parece até descrever um pouco da dinâmica do momento. 

Então não dá, não consigo ouvir muito bem sem ficar meio abalado.

4) Neutral Milk Hotel - Two-Headed Boy, Pt. 2




Motivo para estar na lista: do incrível "The Aeroplane Over The Sea", um dos meus favoritos, essa música é simplesmente linda.  Ela completa um ciclo de músicas que se entrelaçam, e nela ele faz muitas referências ao livro "o Diário de Anne Frank". A poesia e o lirismo da música é digna de Bob Dylan  quando no auge com requintes de psicodelia:

"Daddy, please hear this song that I sing

In your heart there's a spark that just screams

For a lover to bring a child to your chest that could lay as you sleep

And love all you have left like your boy used to be
Long ago wrapped in sheets warm and wet"


Eu ouço essa música eu fico com os olhos marejados. Simplesmente linda, mas ... não, não dá pra curtir em conjunto sem ficar emocionado.

5) Belle and Sebastian, We rule the school


Motivo para estar na lista:  outra, super corta pulsos. Adicionei acima um vídeo que alguém fez, colocando a música como fundo de uma cena famosa de um filme do Truffaut muito bom chamado "400 blows" (recomendo!). O violoncelo entra na música cortando os pulsos de todo mundo na platéia rsrsrs Aí, pra finalizar, o pessoal da banda cantando em terças... e entra uma flauta!! OMG!!! Pra que!!! Os poucos na plateia que ainda teriam sobrevivido ao cello... welll.... não... não sobrou um  

(A letra é bem interessante...e meio dolorosa. Ele diz no final

"Call me a prophet if you want
It's no secret
You know the world was made for men
You know the world was made for men
You know the world was made for men
Not us"

[Sad, sad, sad....]
[...acho que fizeram essa música depois de visitarem o Japão :P]

6) Jeff Buckley - Hallelujah




Motivo pra estar na lista: Leonard Cohen era um letrista incrível embora, sejamos honestos, a versão dele é bem ruim (obrigado, Jeff Buckley, por ter salvo essa). 

Acho essa música linda.. mas não consigo ouví-la com mais gente por perto. Acho que o lance religioso me deixa meio ...sei lá... com uns sentimentos meio ambivalentes em relação... à igreja ou sei lá oque. 

A canção em si já é cheia de dubiedades quanto ao tema divino, falando da traição  de Bathsheba com rei Davi (aparentemente, só fui ler mais pra poder escrever esse post), e sobre este mesmo rei ter posteriormente facilitado a  morte do esposo dela no fronte de guerra.  


"Your faith was strong but you needed proof

You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew you
She tied you to a kitchen chair
She broke your throne and she cut your hair
And from your lips she drew the Hallelujah"


Mas não... não rola...(ao menos não entre amigos, no meio do churrasco ou algo assim).

7) Quetzal - Todo lo que tengo



Motivo pra estar na lista: foi o último presente da ex, um cd deles. Sobrevivi o album quase todo, passei incólume por todas as faixas, ouvindo aos pouquinhos, respirando fundo, concentrando. Aí dei um tempo, sem terminá-lo... até que há um tempo o álbm começou a tocar sozinho (iphone tem dessas..melhor do que quando tocava aquele álbum do U2) e.... começou esse violãozinho, pandeiro... deu choradeira. Entrou na lista na hora!


8) Downgraded - quem saiu da lista!!!

Felizmente, entre o céu e a terra nem tudo é feito de mazelas e hostilidades. Músicas que um dia te trazem desconforto podem, num amanhã sabe-se-lá-quão-distante, voltar a ser belas e inócuas canções. 

Algumas das quais me recordo agora são

Sigur Ros, por exemplo, ficou extremamente associado a uma ex brasileira por diversos anos. Passou! Hoje em dia ouço numa boa. Na verdade nem ouço mais tanto, por que enjoou um pouco :P (embora eu tenha ouvido o  Ágætis Byrjun e o () recentemente e curti mais uma vez).

Beirut - Elephant Gun: 


Curioso, essa nem foi fora que levei ou ex ou nada do tipo, mas de uma ex-roommate da época do Rio, que tinha levado um fora que todo mundo da casa antevira menos ela. Aí cheguei em casa, ela estava aos prantos chorando por que o "namorado" havia terminado com ela. Pouts... foi foda... ai ela ficava na frente do computador, trabalhando na tese, ouvindo essa música, e chorando aos soluços bem alto, mas tão alto que eu conseguia ouví-la do outro lado da casa. Foda... não consegui ouvir essa música por muitos anos sem associar a esta cena. 


[Quem quiser acrescentar alguma nos comentários, fique à vontade: a casa é tua, pode chegar, ligar o som... ]

sexta-feira, 10 de maio de 2019

"Somewhere, over the rainbow": a bridge between two cultures

Depois da milionésima vez que meu nome trouxe o comentário "ahhh como o anjo", aqui no Japão, eu parei e me lembrei de um filme que mencionei há tempos (neste post): Wings of desire, do Wim Wenders.



[Spoilers adiante!!]
[Aviso quando tiver acabado...]


Nele, dois anjos andam na terra, entre seres humanos que não os vêem. Aí um deles se apaixona por uma moça e... larga a vida de anjo.

[Pronto, já falei.. pode voltar!]

Em linhas gerais, é isso. O filme é muito poético e fala bastante sobre essa transição entre esses dois mundos: o dos homens e o dos anjos.

Na hora parei reflexivo e pensei... na verdade repensei, na perspectiva que tinha sobre esse filme. Nunca havia pensado que o filme, de certa forma, não é só sobre como os humanos vivem e lidam com suas mazelas, dores e felicidades, sob o olhar dos deuses. Não, o filme fala também sobre essa transição de vida (essa é uma parte da estória à qual nunca havia dado muita atenção...sabe-se lá por que... ). 

Enfim... me notei, eu, um humano que só tem nome de anjo, tentando transitar entre esses dois mundos - acadêmico, e não acadêmico - e ponderando o quanto da minha vida anterior virá e deixará de vir comigo. No que sou eu, no que é meu ambiente, no que há de ser novo, no que há de ser o mesmo... no quanto a vida industrial dá valor a coisas muito mais práticas que a vida acadêmica. Reparo, até de certa forma meio sem graça, em como a vida de agora me dá tempo pra pensar e repensar as coisas, sem dar muita atenção pro tempo e como ele corre/se esvai. Toda uma imensidão de diferenças que, até recentemente, me era "desconhecida"1 e atrás da qual agora eu tento correr. 

Hoje em dia não consigo deixar de ver os dois lados: a vida acadêmica um pouco como esse anjo no topo dos céus de Berlim, olhando a vida passando boba lá embaixo, sem se dar muito conta das necessidades do mundo, almas que se desesperam em correrias e desassoseegos, do tempo que passa...

exceto que... acadêmicos não são anjos (e no geral, não acabam o filme com aquela bonitona  que apareceu no meio da estória...)

[sorry... mais um spoiler, esse desavisado :P ]

Hahaha não tenho como não rir do meu medo, da mesma forma que caio em risada ao doar sangue... um medo besta de desespero, que só mostra pra mim mesmo que, no fundo, ter medo é parte de qualquer processo onde você tem algo que pode perder  (por acaso, olha só oque encontrei hee hee ....life is nothing but a circle). 

..por que talvez... (e isso ninguém vai te contar a não ser eu) ...essas transições são muito mais como essa aqui





hehe :) 


[Mas esperem, aguardem!! Ainda não estou lá pra poder dizer!]




1 Talvez, ignorada, diria.

domingo, 5 de maio de 2019

Direto da Terra do Sol Nascente #50: eu sou apenas um rapaz, latino americano, procurando emprego

Well well well.... a hora chegou: estou oficialmente em busca de empregos!!!

Pequenas metas - umas de muito curto prazo - de conseguir algumas entrevistas e - no curto/médio prazo - voltar pra América!!!

No meio tempo, durante essa busca, vou relatando os meandros pelos quais passo.... (oque me lembra desse episódio do Seinfeld... embora não, não esteja tão perdido assim).





[Seinfeld, Episódio 7, season 2:  "The Revenge" ]


terça-feira, 30 de abril de 2019

Shrinks

Você talvez se lembre desta cena:



Isso: Bettlejuice (cujo nome em portugues não me recordo). Acho que esse filme me lembra um pouco de sala de espera de hospital. Então.... como seria uma sala de espera de terapia? Curioso que nunca estive numa sala de espera de terapeuta e compartilhar esse momento de esperar pra ser atendido; isso porque era num hospital universitário, aí não havia como saber se a pessoa estava indo pra ser atendido porque machucara o pé ou se era um atendimento psicológico/counseling. 

Em todo caso, acho que muito da idéia pra essa cena vem da palavra "shrink", que é como muitos psicólogos/terapeutas são chamados em inglês. O termo no entanto não vem sem discussão: como qualquer lingua, há termos cuja conotação positiva/negativa são ainda debatidas. A exemplo, neste site, um terapeuta diz o seguinte


From what I can tell, the word shrink is a shortening of “headshrinker,” referring to Amazonian tribes who preserve and shrink the heads of their enemies – certainly not a very positive connection! So, on the dark side, there are connections to shamanism, magic, and spiritual rituals, but in a more positive light, it is also suggested that psychotherapists [the term was first used to describe psychiatrists and psychotherapists] who might “shrink” problems to make them more understandable.

várias discussões do tipo na internet. 

[Por sinal, há muito espaço pra discutir isso, o valor das palavras e suas conotações em cada língua, mas não, não vou frisar isso aqui]

Sala de espera: cada um ali, "mais estranho que o outro", sentado e esperando pra ser atendido. Isso me lembra de uma animação que assisti recentemente, dos incrívelmente talentosos  Alison Snowden e David Fine (que fizeram "Bob's birthday", do qual falei neste outro post bem antigo). Por sinal, havia me esquecido que, há pouco tempo enviei o link dessa animação pra minha terapeuta. Fiquei meio envergonhado de tê-lo feito, ainda mais quando frisei pra ela como gostei da parte em que o terapeuta (que é um cachorro) deixa seus instintos aflorarem de novo e expõe seu lado animal. Como disse a ela: 

"- No fundo, como qualquer outro, o terapeuta não passa de um ser humano, com seus próprios problemas."

Não sei se ela apreciou muito minha visão um pouco crua dos limites que o papel dela tem (dentro dele próprio, se é que alguém entende oque eu disse aqui): minha terapeuta é só um outro ser humano, me vendo remar meu barquinho ali de longe, do barquinho dela.


Animal Behaviour, por Alison Snowden e David fine.


[Dando continuidade a este texto, que estava na gaveta há dias]


Leio oque escrevi acima e penso, meio remoído de sentimentos...um pouco de "constrangimento" e self-awareness.... é realmente um pouco estranho expor "públicamente" que se faz terapia (sobre o qual falei recentemente em algum post do qual não me lembro). A exemplo, no Japão eu nunca comentaria sobre: em geral os japoneses simplesmente achariam que você enlouqueceu de vez; antes você cometesse um harakiri (腹切り), aí você seria considerado mais normal (e sua atitude mais bem aceita, acho). De qualquer forma, muitas pessoas e culturas têm, como eu próprio tinha1
, um pouco de preconceitos sobre o assunto. Isso principiou em mudar quando um amigo (hoje casado com uma psicóloga, embora na época em que me disse isso não o fosse) me disse, os dois nos primórdios dos nossos 20 e poucos anos:

"- De todos os meus amigos, os que estão melhor emocionalmente e que mais buscam ouvir os outros e entender a si mesmos são os que estão indo à terapia."

De fato, não vejo problema algum em me dissecar e me expor diante de alguém que, ao me costurar de volta, coloca as coisas no lugar ou, digamos, mais bem posicionadas. Se é com o intuito de me fazer uma pessoa "melhor" pr'aqueles que amo, ou pros que me cercam, por que não? Acredito que terapia pode ser algo que nos ajuda a suprimir um pouco do ego e orgulho que carregamos conosco buscando assim, de alguma forma, nos tornar pessoas "mais bem resolvidas"2

Mas vou para rpor aqui, não estou aqui pra pregar nada a ninguém. Divirtam-se com a animação (que é muito, muito boa).




1 Well... por falar/escrever isso com tanta dificuldade, talvez ainda tenha um pouco


2 Na verdade, relações humanas - pais e filhos, namoros - em geral têm um pouco desse papel, embora caiam em viés bem mais facilmente, sejam por "inner grievances" sejam por algo que um ditado bem diz: "the apple never falls far from the tree"...seja em costumes, seja em modo de pensar, seja em modo de ver algumas coisas.